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Clima de aversão ao risco prevalece nos mercados globais – confira as principais manchetes desta quinta-feira (3)

Os mercados asiáticos passam por um movimento de correção após o feriado da Golden Week, enquanto os preços de commoditis aceleram.

Por Matheus Spiess

03 out 2024, 08:50 - atualizado em 03 out 2024, 08:50

Imagem representando o ticker, um código usado na bolsa de valores para identificar e negociar um determinado ativo.

Nesta quinta-feira (3), observamos um movimento de correção em alguns dos mercados asiáticos que não estavam fechados devido ao feriado da Golden Week. A queda em Hong Kong, por exemplo, faz parte desse ajuste, especialmente após uma sequência impressionante de altas recentes.

No Japão, entretanto, houve uma reação positiva, impulsionada pelas declarações do novo primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, que afirmou que a economia japonesa ainda não está preparada para novos aumentos de juros. Esse tom mais moderado (pró-afrouxamento) contribuiu para um descolamento do mercado japonês do cenário de correção observado em outros países.

Apesar disso, o sentimento geral de aversão ao risco prevalece nesta manhã, com quedas nos índices europeus e nos futuros americanos. Na Europa, o panorama não é favorecido pela confirmação da fraqueza econômica, conforme demonstrado pelo PMI de setembro.

Na agenda econômica, o foco se volta para as falas de várias autoridades monetárias, especialmente do Banco Central Europeu (BCE). No entanto, os dados econômicos continuam a ser o ponto crucial.

Nos Estados Unidos, a atenção se concentra nos pedidos de auxílio-desemprego e no índice ISM de serviços, ambos divulgados na véspera do relatório de emprego (payroll) de amanhã (4). Uma economia americana que continua resiliente reforça a possibilidade de um corte mais modesto de apenas 25 pontos-base na próxima reunião do Federal Reserve, em novembro.

A ver…

· 00:54 — Chuva de críticas

Hoje no Brasil, teremos a divulgação das contas do Governo Central referentes a agosto, seguida de uma coletiva de imprensa com o secretário do Tesouro, Rogério Ceron. Esse dado é crucial para continuar a análise das condições fiscais do país, que atualmente não estão em seu melhor momento.

O interessante é que essa nova leva de informações fiscais foi divulgada justamente na mesma semana em que a Moody’s decidiu elevar a nota de crédito do Brasil, conforme discutimos em detalhes ontem. Entretanto, a decisão da agência gerou fortes críticas. Apesar do reflexo inicial positivo, com o Ibovespa e o real em alta e uma queda significativa no risco Brasil medido pelo spread dos contratos de CDS de cinco anos — maior do que o observado em outros mercados emergentes —, o contexto fiscal brasileiro permanece desafiador.

Aliás, como falei, não faltaram críticas. Para muitos, a Moody’s parece ter focado mais no passado do que no presente. O upgrade teria sido coerente com as promessas iniciais do novo arcabouço fiscal, mas não com a sua implementação atual. Sobre o tema, será importante acompanhar também a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que hoje participa de um evento e, ontem, voltou a reforçar a necessidade de um choque fiscal caso o país queira alcançar juros mais baixos.

Até mesmo porque, por enquanto, houve falta de clareza sobre as medidas concretas que o governo adotará para conter o avanço das despesas obrigatórias. Isso torna difícil responder à pergunta crucial: quando a dívida pública brasileira começará a diminuir? Em outras palavras, o cenário fiscal permanece altamente imprevisível.

Essa falta de previsibilidade já levou economistas influentes, como Samuel Pessôa, do Ibre-FGV, a alertar sobre o risco de um possível rebaixamento da nota de crédito nos próximos três anos, caso o governo não mude sua trajetória fiscal. A atual estratégia governamental, com foco em medidas de arrecadação, como a nova tributação complementar sobre multinacionais estrangeiras que operam no Brasil, demonstra falta de criatividade nas soluções para o equilíbrio fiscal.

Além disso, há um risco significativo no horizonte: a decisão do STF sobre a validade de tratados internacionais que poderiam impedir a incidência de IRPJ e CSLL sobre os lucros de subsidiárias estrangeiras de empresas brasileiras. Caso a Fazenda perca essa disputa, o impacto no orçamento seria devastador, com uma possível perda de até R$ 22 bilhões. Isso se soma aos desafios que já pesam sobre o cenário fiscal.

· 01:41 — Ainda forte

Nos Estados Unidos, o alívio temporário quanto aos temores de um conflito mais amplo no Oriente Médio impulsionou o mercado de ações, que registrou alta ontem. Os investidores passaram a acreditar que a escalada das hostilidades na região não resultará em uma guerra regional de maiores proporções, embora o risco ainda persista, especialmente em relação ao fornecimento de energia. O petróleo bruto, por exemplo, continuou acumulando ganhos após a alta de segunda-feira (30).

A mudança no sentimento dos investidores também foi favorecida pelas declarações de mais autoridades do Federal Reserve, que reafirmaram a força da economia norte-americana. Até o momento, os dados econômicos divulgados nesta semana reforçam essa percepção. O número de vagas de emprego surpreendeu positivamente, superando 8 milhões em agosto, com uma revisão para cima também nas vagas de julho. Além disso, o número de demissões teve uma leve queda, mantendo-se bem abaixo dos níveis observados antes da pandemia.

Adicionalmente, o mais recente Relatório Nacional de Emprego ADP, divulgado ontem (2), indicou uma recuperação generalizada nas contratações em setembro, após cinco meses de desaceleração. O crescimento acima do esperado no número de vagas e a expansão nas folhas de pagamento privadas sugerem uma possível aceleração no ritmo de criação de empregos, algo que poderá ser confirmado no relatório de emprego de setembro, que será divulgado na sexta-feira (4). Antes disso, o mercado está de olho no PMI de serviços para setembro, medido pelo ISM, além dos números de pedidos iniciais e contínuos de auxílio-desemprego, que serão divulgados hoje (3).

· 02:39 — Política comercial polêmica

Agora, todos levam Donald Trump a sério. Se tomarmos suas declarações literalmente, seus planos tarifários equivalem a um dos maiores aumentos de impostos da história, superando em escala qualquer coisa implementada durante seu primeiro mandato. Caso sejam postos em prática, essas medidas comerciais resultariam em uma reavaliação significativa das expectativas de queda nas taxas de juros.

Além disso, apesar de sua doutrina de “América em primeiro lugar”, essas políticas poderiam comprometer a ideia de que os EUA continuarão a crescer mais rapidamente do que outras economias globais. E, diferente de muitas políticas que exigem aprovação do Congresso, Trump possui autoridade ampla e quase irrestrita para impor tarifas, o que significa que os freios e contrapesos habituais não se aplicariam da mesma forma.

Diversas análises estão sendo conduzidas para entender as possíveis consequências. Um relatório recente da equipe de economia do Barclays revelou que as tarifas de 2018 de Trump representaram um aumento geral de apenas 2% sobre todas as importações. No entanto, suas propostas atuais poderiam elevar essa taxa para 17%. Levando suas palavras ao pé da letra, Trump promete levar as barreiras tarifárias a níveis que não são vistos desde a Grande Depressão. Isso seria um movimento realmente significativo.

Mesmo quando os EUA impuseram tarifas médias de 19% sobre importações chinesas, os dados do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) indicam que a tarifa média ponderada pelo comércio sobre todas as importações americanas permanece em torno de 2%, com quase metade de todas as mercadorias entrando no país livre de tarifas. Os importadores norte-americanos conseguiram, em grande medida, mitigar o impacto dessas tarifas por meio de substituições. No entanto, desta vez o cenário pode ser bem diferente. O ex-presidente pretende implementar uma tarifa geral de 10% sobre todas as importações dos EUA, com um aumento de 60% especificamente para produtos vindos da China.

· 03:22 — Mudança no agro?

Os preços da soja alcançaram os maiores níveis desde o final de julho, impulsionados por preocupações persistentes com a seca no Brasil, principal exportador mundial da commodity. As previsões climáticas indicam que as altas temperaturas devem continuar no curto prazo, e, embora ainda haja expectativa de chuvas que possam aliviar essa situação, a gravidade da seca é um fator que deverá manter os preços elevados nos próximos meses.

Além da soja, a seca e os incêndios florestais no Brasil têm impactado outras culturas, como o açúcar. Em resposta, países como Tailândia e Índia surgem como alternativas para suprir a redução da oferta brasileira, mas ambos também enfrentam desafios climáticos próprios.

Em particular, os preços futuros do açúcar atingiram o maior patamar desde fevereiro, à medida que crescem os temores sobre os danos causados pela seca nas safras brasileiras. Esse aumento afeta diretamente o custo de produtos que dependem do açúcar, como refrigerantes e doces, forçando os comerciantes a buscar fontes alternativas em outros grandes produtores globais.

A Tailândia, segundo maior exportador de açúcar, tem uma perspectiva positiva de recuperação de sua produção para a safra 2024-25, depois das enchentes recentes. Já na Índia, o segundo maior produtor mundial, o apoio à produção de etanol pode resultar na continuidade das restrições à exportação de açúcar, o que pode agravar ainda mais a oferta global.

· 04:15 — Pausa para respirar

Hoje, as ações chinesas em Hong Kong registraram queda, impactadas pela baixa liquidez devido ao fechamento de outros mercados asiáticos, como Coreia do Sul, Taiwan e China continental, em função da Golden Week. Esse movimento marca uma pausa no rali que tem impulsionado as ações chinesas desde o final do mês passado, com algumas subindo entre 30% e 50% em poucos dias. Agora, a questão central é se essa alta representa um impulso de longo prazo ou um evento temporário.

Segundo a análise da Gavekal, desde a criação do índice CSI 300 em 2005, o mercado de ações chinês passou por cinco grandes ciclos de alta. O primeiro deles durou quase dois anos, enquanto os ciclos seguintes tiveram duração entre 8 e 13 meses. Assim, ao longo das últimas duas décadas, se somarmos as janelas temporais, o mercado chinês esteve em alta por cerca de cinco anos, enquanto nos outros quinze predominou o pessimismo. Nesse contexto, a estratégia mais eficiente tem sido aproveitar essas fases de valorização durante os ciclos de rali.

O estudo também revela que, entre os cinco grandes ralis registrados no mercado chinês, dois foram impulsionados por um forte crescimento econômico aliado ao aumento da lucratividade das empresas, enquanto os outros três foram resultado de pacotes de estímulos governamentais. Esses ciclos de alta, especialmente os movidos por estímulos, geraram valorizações expressivas, variando entre 50% e 100%.

Assim, se o mercado chinês estiver iniciando um novo ciclo de valorização, o potencial de ganhos é substancial. Isso se torna ainda mais evidente quando consideramos que, em termos de valuation, o mercado chinês continua apresentando um desconto relevante em comparação ao mercado americano, o que sugere espaço para futuras valorizações. No entanto, é importante lembrar que o país ainda enfrenta desafios estruturais significativos, como a crise demográfica e as dificuldades persistentes no setor imobiliário, que podem influenciar esse cenário de forma relevante.

· 05:08 — Uma gigante

A OpenAI finalizou um acordo para captar US$ 6,6 bilhões, elevando seu valor de mercado para US$ 157 bilhões e fortalecendo sua posição na corrida para desenvolver a principal tecnologia de inteligência artificial generativa do mundo.

A rodada de financiamento foi liderada pela Thrive Capital, empresa de venture capital comandada por Josh Kushner, que injetou US$ 1,3 bilhão. A Microsoft (MSFT34), maior parceira e investidora da OpenAI…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.