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Mercado começa esta terça-feira (15) dividido entre o otimismo americano e a incerteza chinesa – confira os destaques do dia

O cenário internacional se divide entre o otimismo na expectativa de novos cortes de juros nos EUA e a incerteza sobre novos estímulos fiscais na China.

Por Matheus Spiess

15 out 2024, 09:10 - atualizado em 15 out 2024, 09:14

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Imagem: iStock/ Nuthawut Somsuk

O cenário internacional está dividido entre o otimismo em torno da expectativa de novos cortes de juros nos Estados Unidos, sem sinais de uma recessão iminente, e a apreensão quanto à incerteza sobre novos estímulos fiscais na China.

Essa tensão se refletiu nos mercados asiáticos, que encerraram o pregão desta terça-feira (15) de maneira mista, influenciados também pelos resultados decepcionantes da balança comercial chinesa. Na Europa, o panorama é igualmente incerto, com os principais índices oscilando entre leves altas e baixas, agravados pela notícia de que a atividade empresarial da zona do euro contraiu em setembro. Dado que a inflação não é mais uma grande preocupação, espera-se que o Banco Central Europeu (BCE) opte por um corte nos juros ainda esta semana.

Enquanto isso, a temporada de divulgação de resultados começa a ganhar força nos Estados Unidos, onde mais bancos divulgarão seus balanços hoje (15). O tom predominante nos futuros americanos é negativo, com o retorno do mercado de títulos após o feriado do Columbus Day, apesar de os índices de ações terem renovado recordes na segunda-feira.

No Brasil, o foco permanece em questões domésticas, com as atenções voltadas para um possível pacote de contenção de gastos que deve ser anunciado após o segundo turno das eleições. O cenário econômico nacional continua a ditar o ritmo do mercado local, em meio a expectativas sobre as medidas que o governo pode tomar para conter a deterioração fiscal.

A ver…

· 00:57 — Não precisa de muito para melhorar um pouco

Um dos principais destaques no cenário econômico brasileiro hoje é a aguardada divulgação do relatório de produção e vendas da Vale (VALE3) para o terceiro trimestre, programada para o final do dia, após o fechamento do mercado. Já na agenda econômica, ontem, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) de agosto trouxe um resultado positivo, com crescimento de 0,2%, superando as expectativas do mercado, que previa uma alta de 0,1%. Esse desempenho eleva o crescimento anual do índice para mais de 3%, reforçando a justificativa para a manutenção do ciclo de aperto monetário.

Contudo, a trajetória futura da taxa Selic depende mais mesmo das ações do Ministério da Fazenda. A adoção de medidas efetivas de contenção de despesas poderia melhorar significativamente as expectativas do mercado. Vimos isso na segunda-feira (14), com a alta do Ibovespa, que fechou acima dos 131 mil pontos, impulsionada pelo otimismo em torno de uma possível melhora no cenário fiscal.

Há indicações de que o governo está finalizando um pacote de contenção de gastos obrigatórios, com previsão de anúncio logo após o segundo turno das eleições municipais, no final deste mês. Como disse por aqui, o processo legislativo tem sido temporariamente freado pelas eleições, mas o envio de um projeto de revisão de despesas ao Congresso depende do avanço na regulamentação da reforma tributária, o que de qualquer forma já representa um sinal promissor de progresso na agenda.

Os próximos quatro meses serão cruciais para definir os rumos dos últimos dois anos do terceiro mandato de Lula, sendo a política fiscal o elemento chave nesse processo. A equipe econômica estuda dois cenários: um mais limitado, focado em ajustes em benefícios sociais e previdenciários, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), e outro mais abrangente, que incluiria uma revisão de um número maior de programas governamentais. Embora o segundo plano seja mais amplo e desejável, qualquer sinal de compromisso com a redução de gastos será recebido de forma positiva pelo mercado, trazendo um impacto benéfico para a estabilidade econômica do país.

· 01:44 — Sem parar

Nos EUA, o S&P 500 alcançou mais um recorde ontem, mantendo sua sequência de vitórias no mercado. O índice subiu mais de 1% na semana passada, marcando sua quinta semana consecutiva de ganhos. Com o desempenho de segunda-feira, o S&P acumula uma valorização de 23% em 2024. O Nasdaq também registra uma alta de 23% no ano.

Outro destaque foi o Dow Jones Industrial Average, que também voltou a bater recordes, impulsionado por ações como as do Goldman Sachs e da UnitedHealth. O Índice de Volatilidade VIX, conhecido como o “índice do medo”, recuou para menos de 20, alcançando seus níveis mais otimistas em várias semanas. Esses números reforçam o entusiasmo em torno da economia americana, com a atividade econômica se mostrando resiliente, os resultados corporativos apresentando crescimento nos lucros e o Federal Reserve dando início à redução das taxas de juros. Se essa tendência se mantiver, o ano deve fechar com um cenário bastante positivo.

No entanto, é importante lembrar que a temporada de resultados corporativos está apenas no começo, e as eleições presidenciais de 2024, que ocorrerão em duas semanas, ainda podem trazer volatilidade. Hoje, o mercado aguarda a divulgação dos balanços de empresas como Goldman Sachs, UnitedHealth, Bank of America, Citigroup, Johnson & Johnson, United Airlines e Walgreens.

No campo da agenda econômica, serão divulgadas as pesquisas de expectativas de inflação do US Empire State e do Federal Reserve de Nova York, além de declarações de autoridades monetárias, que devem continuar a fornecer insights sobre a política econômica.

· 02:31 — E por falar em eleições..

Ainda nos Estados Unidos, a economia tem sido o tema central para os eleitores nas próximas eleições presidenciais de novembro, pois o resultado influenciará diretamente o rumo econômico do país. De um lado, o ex-presidente Donald Trump e, do outro, a vice-presidente Kamala Harris, concorrem com agendas políticas que, se aplicadas, terão impactos macroeconômicos significativamente distintos.

Harris, caso eleita, deve seguir em grande parte as políticas de centro-esquerda (aos moldes americanos) adotadas pelo presidente Joe Biden, enquanto Trump, em um possível segundo mandato, adotaria uma abordagem mais conservadora, focada em tarifas comerciais mais altas, restrições à imigração e cortes de impostos, em linha com suas políticas do primeiro mandato, mas agora em um contexto econômico muito mais desafiador.

É importante ressaltar que a implementação dessas políticas não depende apenas de quem ocupará a Casa Branca, mas também da composição do Congresso. Como mencionado anteriormente, espera-se que o Congresso permaneça dividido, independentemente do vencedor, o que limita a capacidade de movimentos mais ousados de ambos os lados.

Um dos temas mais relevantes dessa disputa é a política energética. Trump favorece claramente a maximização da produção doméstica de combustíveis fósseis, enquanto Harris, que já se opôs ao fracking (técnica de fraturamento hidráulico para extração de gás de xisto), deve continuar a promover o “Inflation Reduction Act” com o objetivo de impulsionar o crescimento das energias renováveis.

Em um possível segundo mandato de Trump, poderíamos esperar uma simplificação na regulamentação para licenças, expansão das vendas de arrendamentos federais offshore e no Ártico, aceleração da aprovação de novas instalações de exportação de gás natural liquefeito (GNL) e flexibilização das regulamentações climáticas e de emissões. No entanto, com o governo Biden já apoiando a indústria de petróleo e gás — que atualmente registra níveis recordes de produção. Assim, o impacto de uma abordagem mais agressiva de Trump teria limites práticos.

Por outro lado, embora Harris tenha uma posição mais pró-energias renováveis, não se espera que ela interfira diretamente na produção de petróleo e gás. Apesar de seu histórico progressista, Harris, se eleita, seria mais cautelosa em relação a essa indústria (se ela quiser se reeleger, precisará governar como centrista).

· 03:22 — O novo economista laureado

Os autores do renomado livro “Why Nations Fail” foram parte do trio agraciado com o Prêmio Nobel de Economia ontem (14), em reconhecimento ao seu trabalho que busca “explicar as razões por trás da persistente desigualdade entre as nações”, conforme o comitê do Nobel destacou. Daron Acemoglu, James Robinson e o ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Simon Johnson, dividirão o prêmio por suas pesquisas que identificaram uma correlação entre a prosperidade de um país e as instituições estabelecidas durante o período de colonização europeia.

Segundo suas conclusões, as regiões desenvolveram instituições “inclusivas” ou “extrativas” com base em fatores como a densidade populacional. As instituições inclusivas fomentaram uma governança mais participativa, como a democracia, enquanto as extrativas se concentraram em explorar recursos para beneficiar uma pequena elite. As nações que adotaram instituições inclusivas prosperaram no longo prazo, enquanto as que seguiram o caminho das instituições extrativas enfrentaram maiores dificuldades econômicas. 

Contudo, o trabalho não está isento de críticas. Alguns acadêmicos afirmam que a teoria dos laureados envelheceu mal ao ignorar o papel da cultura no desenvolvimento econômico. Além disso, há quem destaque a China como um exemplo contrário importante, visto que o país continua a experimentar um crescimento econômico apesar de seu governo autocrático. De qualquer forma, o Nobel de Acemoglu já era esperado há muito tempo no meio acadêmico, e finalmente foi concedido.

· 04:19 — Tensão do outro lado do mundo

Na semana passada, o presidente de Taiwan, William Lai, fez duras críticas às reivindicações de soberania da China continental sobre a ilha autogovernada, afirmando que a República Popular da China não tem legitimidade para representar Taiwan. Suas declarações foram feitas durante um discurso de grande relevância, marcando o 113º aniversário da revolução que fundou a República da China — nome formal de Taiwan. A retórica de Lai certamente não foi bem recebida por Pequim, e desde então, as tensões entre os dois lados, que já vinham se intensificando desde a posse de Lai, se agravaram ainda mais.

A China mantém sua política de “Uma China”, considerando Taiwan uma província rebelde que será reunificada com o continente, seja por meios militares ou políticos. Declarações como as de Lai, no entanto, parecem reduzir as chances de uma solução pacífica. O presidente chinês, Xi Jinping, teria dado ordens para que suas Forças Armadas estejam prontas para retomar Taiwan até 2027, embora isso não signifique necessariamente que um ataque ocorrerá nessa data. Ainda assim, figuras proeminentes do Partido Kuomintang, que faz oposição a Lai em Taiwan, como o ex-presidente Ma Ying-jeou, expressaram preocupação de que a postura confrontadora de Lai possa estar colocando a ilha em risco ao aumentar o antagonismo com a China.

· 05:03 — Um feito histórico

Em um marco histórico para a engenharia aeroespacial, a SpaceX realizou no domingo (13) uma operação bem-sucedida de recuperação do propulsor da Starship, utilizando uma estrutura de metal em sua plataforma de lançamento no Texas. Este feito representa um avanço significativo tanto para a empresa quanto para as ambições espaciais dos EUA, que visam utilizar a Starship reutilizável em missões para a Lua e Marte.

O lançamento marcou o quinto teste de voo da Starship, atualmente o maior e mais poderoso foguete do mundo, com quase 122 metros de altura — maior que a Estátua da Liberdade — e composto pelo propulsor Super Heavy e a nave Starship empilhados…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.