Investimentos

Reunião de Lula com banqueiros e queda das commodities nesta quarta-feira (16) estão entre os destaques econômicos

O presidente Lula se reunirá com banqueiros para discutir temas como a taxação de milionários, apostas e crédito bancário.

Por Matheus Spiess

16 out 2024, 09:01 - atualizado em 16 out 2024, 09:01

Lula x Banco Central - Mercado em 5 minutos

Imagem: Cláudio Reis/Estadão Conteúdo

No cenário internacional, as commodities continuam em queda nesta manhã de quarta-feira (16), com o preço do petróleo se aproximando de US$ 70 por barril. Essa queda reflete, em parte, a apreensão sobre a eficácia dos estímulos econômicos chineses, além de um sinal de Israel aos EUA de que, por ora, não atacará instalações nucleares ou petrolíferas no Irã.

Embora essa garantia seja naturalmente sujeita a mudanças, ela representou uma significativa redução nas tensões geopolíticas observadas nos últimos dias, o que contribuiu para a diminuição do prêmio de risco embutido no preço do petróleo.

Esse desempenho negativo se estende a outras commodities, como o minério de ferro, o que resulta em pouco suporte para o mercado local, tradicionalmente dependente desse setor — pelo menos o resultado operacional da Vale (VALE3) foi bom. Ainda assim, há algum alívio com as expectativas de possíveis cortes de gastos no cenário doméstico.

Na Europa, a quarta-feira começou com resultados decepcionantes, apesar de dados de inflação do Reino Unido em setembro terem vindo abaixo das expectativas, com tarifas aéreas e custos de combustível contribuindo para a desaceleração da inflação ao consumidor. Isso sugere que, assim como o Banco Central Europeu (BCE), que divulgará dados amanhã, o Banco da Inglaterra (BoE) também deve seguir o caminho de cortes nas taxas de juros. No contexto europeu, a agenda inclui um discurso da presidente do BCE, Christine Lagarde, que será acompanhado de perto pelos mercados. Nos Estados Unidos, os futuros operam de forma mista, com uma leve tendência positiva, enquanto os investidores aguardam a divulgação de mais resultados corporativos. Além disso, com as eleições se aproximando, as campanhas dos candidatos ganham ainda mais força, aumentando o foco no cenário político.

A ver…

· 00:51 — Pelo menos há uma sinalização positiva no cenário doméstico…

No cenário local, embora tenha havido uma correção ontem após a alta registrada na segunda-feira (14), o mercado ainda demonstra certo ceticismo em relação à situação fiscal. No entanto, o vetor geral parece permanecer positivo, apesar da volatilidade de curto prazo. É esperado que medidas de revisão de gastos sejam implementadas, mesmo que de forma inicial e com menor intensidade.

O governo já começou a se movimentar em novas alianças, especialmente após os resultados das eleições municipais, mas a formalização dessas articulações só deverá ocorrer após o segundo turno, em 27 de outubro. Um indicativo desse movimento foi a retirada do pedido de urgência dos projetos do vale-gás e do aumento da CSLL, que estavam travando a pauta da Câmara, semelhante ao que ocorreu no Senado com a regulamentação da Reforma Tributária. Essa manobra deve acelerar os trabalhos legislativos nas próximas semanas.

Outro indicativo de convergência ao centro: hoje (16), o presidente Lula se reunirá com banqueiros para discutir temas como a taxação de milionários, apostas e crédito bancário, mas o foco principal é abrir um canal de diálogo com esse setor.

Um dos pontos que vale atenção é a fala da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que mencionou que a revisão de políticas públicas pode gerar uma folga fiscal de até R$ 20 bilhões no orçamento. Outras estimativas indicam que essa agenda poderia liberar entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões em 2025, dependendo do grau de comprometimento do governo. No entanto, a viabilidade de alcançar a meta de déficit zero em 2024 e 2025, e um superávit de 0,25% em 2026, ainda é incerta.

É importante notar que os gastos tributários, que atualmente somam quase R$ 600 bilhões em renúncia fiscal, não estão em discussão, assim como não há mudanças previstas na política de valorização do salário mínimo ou na vinculação de aposentadorias. Ainda assim, parece que o governo finalmente reconheceu que não há mais espaço para resolver a questão fiscal exclusivamente por meio de aumento de receita. Nesse ritmo, podemos esperar algumas medidas ainda este ano, com outras sendo votadas no início de 2024, idealmente antes de abril, para permitir que sejam incorporadas ao orçamento de 2026. Bom sinal para retirar pressão de nossa curva de juros.

· 01:45 — Predominantemente positivo

Nos EUA, a temporada de resultados corporativos do terceiro trimestre apresentou ontem um desempenho variado. Entre os bancos, houve sinais de recuperação nas atividades de banco de investimento. Citigroup, Bank of America e Goldman Sachs, por exemplo, relataram na terça-feira (15) aumentos nas receitas de suas operações de banco de investimento de 44%, 18% e 20%, respectivamente, em comparação ao ano passado. Isso seguiu os sólidos relatórios divulgados na sexta-feira (11) pelo JPMorgan Chase e pelo Wells Fargo, que registraram aumentos de 30% e 37%, respectivamente, em relação ao ano anterior. 

A queda nas taxas de juros pode acelerar ainda mais essa recuperação, à medida que executivos se sentem mais inclinados a realizar negócios após um período de retração devido aos juros elevados. Diante desses resultados, a temporada tem se mostrado predominantemente positiva até o momento. Hoje, mais balanços serão divulgados, com destaque para nomes como Abbott Laboratories, Citizens Financial Group, Crown Castle, Discover Financial Services, Morgan Stanley, Prologis, Synchrony Financial e U.S. Bancorp.

· 02:32 — Tarifaço

Ontem (15), Donald Trump reafirmou sua intenção de trazer de volta empresas para os EUA, prometendo reduzir impostos para as companhias que optarem por produzir no país. Ele também reiterou sua proposta de aplicar tarifas sobre produtos importados, argumentando que quanto mais altas forem essas tarifas, mais empresas serão incentivadas a fabricar nos Estados Unidos. Especificamente, Trump afirmou que a China não poderá mais vender carros nos EUA, ameaçando a imposição de tarifas de 100%, 200% ou até 300% para impedir a entrada de veículos de origem chinesa.

No entanto, o foco não será apenas a China: Trump declarou que os EUA não terão mais déficits comerciais com a União Europeia, sinalizando sua intenção de impor tarifas também sobre produtos fabricados na região, ampliando o protecionismo. A proposta de uma tarifa universal de 20% sobre todos os produtos importados seria profundamente perturbadora, especialmente porque os EUA importam muito mais hoje do que em 1971, quando uma tarifa universal foi implementada pela última vez. Com as importações sendo essenciais para a produção de bens exportados, essa medida arriscaria minar a competitividade das empresas americanas (ruim para crescimento). Além disso, uma tarifa desse tipo traria mais inflação, ainda que em menor intensidade.

Como mencionei já algumas vezes, a economia é o tema central para os eleitores nas eleições presidenciais de novembro, e o resultado definirá o rumo econômico dos EUA. Sem dúvida, a parte mais alarmante da agenda de Trump para um segundo mandato é sua política comercial: ele promete impor uma tarifa drástica de 60% sobre a China e uma tarifa de 10% sobre todas as importações. Além disso, ele provavelmente imporia tarifas a importantes parceiros comerciais aliados, como o Sudeste Asiático e a América Latina, além da China e da Europa, especialmente aqueles com grandes superávits comerciais bilaterais com os EUA.

Embora o número de 60% possa não se concretizar, é quase certo que Trump intensificaria a dissociação econômica com a China, possivelmente aumentando as tarifas médias sobre importações chinesas. A China poderia retaliar, levando a uma escalada acentuada nas tensões e possivelmente aumentando o risco de um confronto militar direto. Por outro lado, se Harris for eleita, sua política comercial deve manter o status quo da gestão Biden. Embora as tarifas não sejam reduzidas dos níveis atuais e possam até ser ampliadas, Harris provavelmente se concentraria mais em controles direcionados de exportação e na promoção da política industrial doméstica, em vez de recorrer a aumentos tarifários.

· 03:26 — O problema fiscal é sério

Tenho destacado repetidamente que o aumento da incerteza econômica global, intensificado desde a pandemia, combinado com choques inflacionários e o agravamento das tensões geopolíticas, tem o potencial de impactar profundamente a estabilidade econômica. Esses fatores aumentam os riscos extremos em um cenário já desfavorável nos mercados financeiros e intensificam as vulnerabilidades macroeconômicas, criando ameaças significativas ao crescimento econômico futuro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também compartilhou essa preocupação, sublinhando a importância de reduzir a incerteza macroeconômica doméstica por meio do fortalecimento da credibilidade e transparência nas políticas monetária e fiscal.

A questão fiscal, em particular, ocupa um papel central nessa discussão. Segundo estimativas do FMI, a dívida pública global deve atingir US$ 100 trilhões, ou 93% do PIB global, até o final deste ano, com projeções de crescimento contínuo, aproximando-se de 100% do PIB global até 2030. Esse aumento acumulado da dívida eleva consideravelmente a probabilidade de tensões nos mercados financeiros e pode culminar em uma crise financeira mais abrangente.

As grandes economias, como China e Estados Unidos, são os principais impulsionadores desse crescimento da dívida, especialmente em meio a um discurso político que favorece o aumento dos gastos públicos. Essa tendência de expansão da dívida projeta um cenário ainda mais desafiador para os próximos anos.

· 04:19 — A polarização

Quem me acompanha sabe que sou um crítico dos efeitos que as redes sociais exercem sobre o mundo real. Essencialmente, o ambiente online distorce nossa percepção do mundo offline. Essa foi a conclusão de um estudo recente de Claire Robertson, pesquisadora em psicologia política na NYU e na Universidade de Toronto. Em seu artigo, Robertson aponta que as redes sociais nos enganam, fazendo-nos acreditar que a realidade é pior do que realmente é.

Um dos fatores responsáveis por essa distorção é que os conteúdos que mais recebem atenção nas redes tendem a ser os mais extremos. Isso ocorre devido a um ciclo vicioso que envolve dois elementos principais: primeiro, a estrutura de incentivo das plataformas de mídia social, onde o lucro depende da atenção e do engajamento; segundo, nossa tendência humana de focar no que é mais sensacionalista, provocativo ou alarmante.

O problema é que, no ambiente digital, um pequeno número de criadores de conteúdo gera uma quantidade desproporcional de material extremista. Um estudo do Reddit, por exemplo, revelou que 33% de todo o conteúdo da plataforma é gerado por apenas 3% das contas, muitas das quais disseminam ódio. Ou seja, a maioria das pessoas consome conteúdo nas redes sociais sem postar ativamente, mas os indivíduos com opiniões mais extremistas são os que mais produzem conteúdo.

Como resultado, opiniões moderadas, que na realidade são as mais comuns, acabam tendo pouca visibilidade nesse ambiente (vemos isso nas eleições, com o desaparecimento do centro político). Então, qual seria a solução? Em vários países, reguladores têm buscado impor novas regras mais rígidas sobre a moderação de conteúdo. No passado, falhamos ao regular adequadamente as redes sociais, permitindo extremismos e polarização da sociedade. Agora, é urgente corrigirmos esse erro.

· 05:07 — Vendas subindo

As ações da Apple valorizaram-se ontem após a divulgação de que as vendas de iPhones aumentaram 3,5% no terceiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano anterior, alcançando 56 milhões de unidades vendidas.

Segundo a International Data Corp (IDC), a participação de mercado da Apple (AAPL34) permaneceu estável em 17,7%, o que aumentou o otimismo dos investidores, especialmente em antecipação aos resultados trimestrais da empresa…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.