A semana iniciou com novidades de estímulos econômicos na China. Na noite de domingo (22), o Banco Popular da China anunciou um corte de 25 pontos-base em suas principais taxas de juros, reduzindo a taxa de um ano de 3,35% para 3,1% e a de cinco anos de 3,85% para 3,6%.
Essa medida reflete o esforço contínuo das autoridades chinesas para impulsionar a economia da China. No entanto, persiste a incerteza sobre se essa ação será suficiente para revitalizar o mercado de forma significativa, dado que ainda há cautela quanto à recuperação econômica do país.
A redução das taxas pode ser interpretada como um sinal claro do compromisso do governo chinês em apoiar o crescimento econômico. Como reflexo dessa iniciativa, os ativos de risco começaram a sessão com movimentos moderados, exibindo uma leve tendência de alta em commodities e criptomoedas, enquanto o dólar se fortaleceu.
No entanto, a reação dos mercados de ações foi mais comedida. Embora o estímulo anunciado pela China seja uma notícia positiva, ele não foi suficiente para gerar um otimismo mais amplo entre os investidores. Os índices asiáticos encerraram o dia sem uma direção clara, enquanto os mercados europeus abriram em queda, acompanhados por uma retração nos futuros americanos. Nos Estados Unidos, as atenções estarão voltadas para a divulgação do Livro Bege e a continuidade da temporada de resultados corporativos, que poderá influenciar o humor do mercado nos próximos dias.
Na Europa, as preocupações com a deflação continuam a dominar o cenário econômico, especialmente após a recente divulgação de uma nova queda nos preços ao produtor na Alemanha em setembro (sinal de uma economia fragilizada). Além disso, o dia será marcado por discursos de vários membros do Federal Reserve, que serão acompanhados de perto pelos mercados financeiros em busca de sinais sobre possíveis ajustes na política monetária dos Estados Unidos.
A ver…
· 00:51 — Incerteza fiscal
No Brasil, a incerteza fiscal permanece como uma das principais preocupações do mercado financeiro, pressionando os ativos domésticos nas últimas semanas. Esse ambiente de apreensão fez o dólar se aproximar de R$ 5,70 e levou os juros futuros a rondarem os 13%.
Apesar das recentes declarações dos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet, que prometeram o envio de projetos ao Congresso para conter as despesas públicas após o segundo turno das eleições, essas medidas ainda não foram suficientes para dissipar o pessimismo dos investidores. O mercado continua à espera de uma posição mais firme e clara do presidente Lula em defesa do corte de gastos, destacando a necessidade de uma política fiscal mais coesa e assertiva.
Qualquer nova fonte de receita é vista como positiva para aliviar a pressão fiscal, como o acordo de compensação de quase R$ 170 bilhões da Vale (VALE3) pelo desastre de Mariana. Desse valor, cerca de R$ 100 bilhões serão pagos em parcelas ao longo de 20 anos aos governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo, destinados a financiar projetos de compensação e recuperação ambiental.
A temporada de resultados no Brasil será oficialmente inaugurada nesta quinta-feira (24) com a divulgação dos números da Vale, que já havia sinalizado um desempenho positivo em seu relatório de produção.
Além disso, outro dado crucial desta semana será a divulgação da prévia da inflação oficial de outubro, o IPCA-15. As projeções de mercado apontam para um aumento mensal de 0,52%, o que corresponderia a uma taxa anual de 4,45%. Se confirmado, esse resultado representará uma aceleração expressiva em relação aos 0,13% registrados em setembro, impulsionada por fatores como o aumento dos preços de alimentos, sobretaxas nas contas de energia devido a condições climáticas adversas, alta na inflação de serviços básicos e a redução gradual da deflação nos combustíveis.
Esse cenário indica que a inflação pode ultrapassar o teto da meta estabelecida para este ano. Independentemente dos dados específicos, é provável que o Banco Central continue com seu ciclo de elevação de juros. Um IPCA-15 acima das expectativas reforçaria ainda mais a necessidade de manter uma política monetária restritiva. Com a persistência da inflação e o alto risco fiscal, torna-se imprescindível a implementação de medidas concretas que garantam a estabilidade econômica a longo prazo.
· 01:42 — Temporada forte
Nos EUA, o mercado de ações fechou na última sexta-feira sua sexta semana consecutiva de ganhos, com dois dos principais índices atingindo níveis recordes. O S&P 500, por exemplo, registrou uma alta de 0,4%, alcançando seu 47º recorde de fechamento no ano e o segundo apenas nesta semana.
O desempenho mais recente foi impulsionado pelos sólidos resultados da Netflix (NFLX34), que fortaleceram as ações de tecnologia e mídia, ajudando a manter uma temporada de lucros positiva. Apesar das incertezas que ainda pairam sobre a trajetória da política monetária e as tensões geopolíticas, os investidores têm demonstrado otimismo com o desempenho econômico geral.
Grande parte desse entusiasmo pode ser atribuído à atual temporada de resultados corporativos. Esta semana promete ser particularmente movimentada, com cerca de 20% das empresas listadas no S&P 500 divulgando seus resultados do terceiro trimestre. Entre os principais nomes que devem reportar estão SAP, General Motors, Lockheed Martin, Verizon Communications, AT&T, Coca-Cola, Tesla, T-Mobile US, Newmont, Southwest Airlines e HCA Healthcare. Para mim, o destaque mais aguardado é o relatório da Tesla, que será divulgado na quinta-feira.
Além dos resultados corporativos, teremos importantes dados econômicos a serem observados durante a semana, incluindo o Livro Bege do Federal Reserve, o relatório de vendas de imóveis existentes, os Índices de Gerentes de Compras (PMI) de Manufatura e Serviços, e o relatório sobre bens duráveis. Esses indicadores econômicos fornecerão uma visão adicional sobre a saúde da economia americana, o que poderá influenciar as expectativas do mercado quanto à política monetária e ao crescimento futuro.
· 02:35 — Corrida eleitoral
Como tenho enfatizado repetidamente, estamos nos aproximando de eleições presidenciais acirradas nos Estados Unidos, onde tudo ainda pode acontecer. No entanto, minha expectativa tem sido a de uma vitória de Donald Trump, mesmo que com um Congresso dividido—ainda que este cenário base seja debatível, considerando que a disputa está concentrada em poucos estados e, consequentemente, entre um número restrito de eleitores.
O mercado, cada vez mais, parece inclinar-se para essa possibilidade, com um aumento nas apostas de uma vitória de Trump, juntamente com uma possível maioria Republicana no Senado. Esse movimento reacendeu a discussão sobre o chamado “Trump Trade,” um tema que já havia ganhado tração entre junho e julho. Se confirmado, esse cenário tende a ser positivo para as ações, mas também deve pressionar o dólar e as taxas de juros para cima, impulsionados pelo protecionismo comercial e por uma postura fiscal expansionista.
De acordo com uma análise da Capital Economics, uma eventual vitória de Donald Trump representaria um desafio muito mais significativo para as economias emergentes do que um cenário em que Kamala Harris saísse vitoriosa. Eles corroboram minha visão de que a implicação mais clara de uma nova gestão Trump seria a reavivação da inflação e o aumento das taxas de juros, o que criaria dificuldades adicionais para os mercados emergentes. Essa mudança na política econômica resultaria em uma pausa no ciclo de flexibilização monetária em vários desses países e exigiria ajustes significativos em suas moedas.
Para o Brasil, embora a perspectiva seja desafiadora, há um certo alívio no fato de que já estamos nos preparando para elevar as taxas de juros na virada do ano, o que pode tornar nosso cenário menos estressante em comparação com países como Argentina e Turquia. Ainda assim, a janela para esses ajustes deverá ser mais complicada, e o impacto de uma eventual vitória de Trump será sentido em diversas frentes, aumentando a volatilidade e exigindo cautela dos investidores.
· 03:29 — Longevidade
A relevância da demografia nos estudos macroeconômicos tem crescido significativamente em todo o mundo, em linha com o que já conversamos por aqui. Um relatório recente do Morgan Stanley destacou que “a era do envelhecimento chegou”, ecoando análises semelhantes de outras instituições financeiras, como o J.P. Morgan. De acordo com o relatório, a expectativa é que, até 2030, haja um milhão de pessoas com 100 anos de idade vivendo em cinco grandes regiões globais. Além disso, projeta-se que a proporção de pessoas com mais de 65 anos para cada 100 indivíduos em idade ativa deve pelo menos dobrar na maioria das nações do G20 até 2060.
As mudanças demográficas já estão gerando efeitos profundos em setores como saúde, emprego e previdência, obrigando os governos a buscar formas de mitigar os impactos negativos que essas transformações podem trazer ao crescimento econômico. Empresas como Novo Nordisk e Eli Lilly, que atuam no setor de saúde, são vistas como potenciais beneficiárias desse cenário, com expectativas de valorização no mercado de ações devido ao aumento na demanda por tratamentos relacionados ao envelhecimento.
Contudo, a dinâmica demográfica também sugere desafios para os mercados. Embora a tendência seja de que os idosos migrem seus portfólios para títulos de renda fixa, essa mudança pode não ser suficiente para evitar uma elevação nas taxas de juros. À medida que as famílias começam a esgotar suas economias e os governos enfrentam orçamentos mais restritos (todas as previdências do mundo precisarão passar por reformas profundas), a pressão sobre os juros deve se intensificar, sinalizando uma nova era para os mercados. Essa transição demográfica exige adaptações estruturais que afetarão profundamente a economia global nas próximas décadas.
· 04:15 — Novo presidente na Indonésia
O maior estado arquipelágico do mundo, a Indonésia, empossou seu novo presidente neste final de semana. O ex-general Prabowo Subianto assumiu a liderança do quarto país mais populoso do planeta, com uma população superior a 280 milhões de pessoas. Ao longo dos últimos anos, Subianto passou por uma transformação significativa em sua imagem pública, evoluindo de um nacionalista fervoroso para um político conciliador, conhecido como “amigo de todos”. Agora, sob sua liderança, a Indonésia embarca em um dos experimentos econômicos mais ambiciosos do mundo.
Enquanto seu antecessor, Joko Widodo, concentrou seus esforços em infraestrutura, como a construção de estradas, ferrovias e pontes, além de impulsionar a indústria de exportação de minerais, Prabowo está mudando o foco para iniciativas sociais. Sua política de destaque é a implementação de um programa de merenda escolar gratuita, com um custo estimado de US$ 30 bilhões anuais. O objetivo dessa iniciativa é melhorar a nutrição das crianças, elevar os resultados educacionais em uma nação onde quase um quarto da população tem menos de 15 anos e, ao mesmo tempo, impulsionar o crescimento econômico para alcançar a ambiciosa meta de 8% ao ano.
O plano de Prabowo é ousado e de grande escala. O orçamento anual de US$ 30 bilhões para o programa de merenda escolar representa cerca de 14% de todo o orçamento nacional de 2024 e é aproximadamente 2,5 vezes superior ao que o país gasta anualmente em saúde. Para efeito de comparação, o valor também é cinco vezes maior do que o que a Índia investiu em 2023 no maior programa de refeições escolares do mundo. Com um impacto potencial tão vasto, a implementação e os resultados desse projeto serão observados de perto, e o sucesso ou fracasso do experimento poderá redefinir não apenas as políticas sociais na Indonésia, mas também influenciar modelos de desenvolvimento em outras nações em desenvolvimento.
· 05:08 — Bom sinal
A economia americana continua a demonstrar um impulso robusto, sustentada pelos resultados positivos desta temporada de balanços, que permitiram às bolsas dos EUA fechar a sequência de ganhos semanais mais longa de 2024. Entre os destaques recentes, a Netflix brilhou, com suas ações NFLX subindo 11% após reportar lucros e receitas que superaram as expectativas para o terceiro trimestre.