Se nas últimas semanas tivemos poucos eventos de destaque, agora entramos em um período de intensa movimentação com alta nos principais índices globais e a temporada de balanços pegando tração.
Na Ásia, o mercado japonês chamou atenção ao subir enquanto o iene recuava fortemente, após o partido do primeiro-ministro perder sua maioria parlamentar — justamente em um momento que antecede uma decisão importante de política monetária na quinta-feira (31) por parte da autoridade monetária japonesa.
Em paralelo, o preço do petróleo cai após uma resposta israelense mais contida do que se esperava, embora o impacto nos juros ainda seja limitado pelo efeito do “Trump Trade“, tema que já analisamos aqui e que segue pressionando a curva de futuros e fortalecendo o dólar.
Os próximos dias prometem mais grandes emoções: além de novos nomes relevantes da temporada de resultados no exterior, incluindo as grandes empresas de tecnologia, teremos dados cruciais sobre o mercado de trabalho dos EUA. Com isso, os futuros americanos e os índices europeus operam em alta nesta manhã.
O menor risco geopolítico, somado ao crescente otimismo com uma possível vitória de Trump, traz um impulso extra ao mercado, que antecipa a perspectiva de um segundo mandato marcado por cortes de impostos, o que poderia estimular ainda mais a economia. Para nós, no Brasil, o foco se volta agora à apresentação do tão aguardado pacote de contenção de gastos, especialmente após o segundo turno das eleições municipais.
A ver…
· 00:58 — O mercado agora quer ver a materialização
Por aqui, também temos nomes relevantes na temporada de resultados, com grandes bancos revelando os números do terceiro trimestre e a Petrobras (PETR4) apresentando seu relatório de produção e vendas hoje (28) à noite.
No entanto, o grande destaque da semana é o aguardado pacote de corte de despesas, prometido para após o 2º turno das eleições municipais. As eleições já ficaram para trás, revelando uma vitória dos partidos de centro e direita, o que aumenta a pressão sobre o governo. Esse pacote de corte de despesas é essencial para recuperar a confiança do mercado, que precificou a curva de juros em 13% em vários vértices e levou o dólar a R$ 5,70.
O mercado espera que o ajuste fiscal gire entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões, com possibilidade até de medidas estruturais mais profundas além dos ajustes de curto prazo. Embora essa abordagem mais robusta seja ideal, é prudente manter as expectativas moderadas. Uma sinalização minimamente positiva já poderia aliviar o mercado, mas um pacote bem abaixo do esperado seria prejudicial, sem dúvida. Na semana passada, Roberto Campos Neto reforçou a confiança do mercado, sugerindo que os preços embutem algum exagero nas expectativas atuais. Veremos.
Além disso, esta semana trará outros dados relevantes, incluindo os indicadores fiscais do Banco Central na quinta-feira e dados do mercado de trabalho, com o Caged na quarta (30) e a Pnad na quinta-feira (31), fora os números da produção industrial. Mesmo assim, todas essas informações tornam-se secundárias diante da relevância e impacto do corte de gastos que o governo Lula decidirá implementar.
· 01:41 — O cenário traçado no primeiro turno foi reforçado pelo segundo
Como comentei anteriormente, as eleições de 2024 sugerem uma clara tendência de preferência popular por partidos de centro, centro-direita e direita.
O segundo turno consolidou essa percepção, criando um cenário que pode ser mais favorável ao mercado para as eleições de 2026. O resultado também sinaliza uma leve inclinação para partidos de centro e centro-direita em detrimento da direita mais extremista, representada pelo bolsonarismo. PSD, MDB, PP e União Brasil foram os quatro maiores vencedores em número de prefeituras, reforçando o peso desses partidos no mapa político.
O governo federal, por outro lado, enfrenta maior pressão: o PT conquistou apenas uma capital e por pouco não perdeu a disputa para o PL, que agora lidera em número de grandes prefeituras. Curiosamente, o PT ficou com menos prefeituras que o PSDB, levantando questões sobre o futuro do partido sem a figura de Lula, cuja ausência enfraqueceria ainda mais sua expressão política.
As eleições locais, que determinam prefeitos e vereadores em mais de 5.000 municípios, têm implicações nacionais pois ajudam a remodelar o cenário político. Observamos, portanto, um movimento em direção à moderação e ao centro-direita, uma mensagem relevante para as eleições presidenciais de 2026, que, sem dúvida, ressoará nos bastidores de Brasília.
Minha interpretação é que a vitória de Ricardo Nunes em São Paulo fortalece o nome de Tarcísio de Freitas como sucessor potencial de Bolsonaro, caso este permaneça inelegível. Assim, o futuro das eleições presidenciais parece cada vez mais depender da organização da direita brasileira (pode levar a presidência em 2026), enquanto a esquerda, que sofreu um duro revés nestas eleições municipais, se vê em posição minoritária. Como pontuou Mendonça de Barros, a direita, com seus variados espectros, detém hoje a maioria, o que deve favorecer um controle fiscal mais rigoroso do que o exercido pelo governo de Lula.
· 02:33 — Dias de angústia
Nos EUA, o Nasdaq Composite marca sua mais longa sequência de altas semanais em 2024, apesar da crescente tensão no mercado devido ao aumento dos rendimentos dos títulos. O índice de tecnologia avançou 0,6% na última sexta-feira (25), consolidando sete semanas consecutivas de ganhos — uma alta de quase 11% nesse período, aproximando-se de sua máxima de fechamento registrada em 10 de julho.
Esse impulso recente foi alimentado pelo relatório explosivo de lucros da Tesla (TSLA34), que abriu a temporada de resultados para as empresas conhecidas como “Magnificent 7”. Nesta semana, teremos divulgações de pesos pesados como Alphabet (GOGL34), Amazon (AMZO34), Apple (AAPL34), Meta Platforms (M1TA34) e Microsoft (MSFT34), além de mais de 150 empresas do S&P 500 que também estão programadas para publicar seus números.
Enquanto isso, o aumento dos rendimentos dos títulos tem pressionado setores mais sensíveis às taxas de juros. Esse movimento reflete uma percepção de que o Federal Reserve poderá reduzir as taxas de juros menos vezes do que se previa após a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) em setembro. A inflação acima da meta e um mercado de trabalho mais aquecido que o esperado reforçam essa perspectiva.
Adicionalmente, o mercado tem reagido à crescente possibilidade de uma vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais. Suas políticas de expansão do déficit, especialmente por meio de cortes de impostos, têm impulsionado as expectativas de que taxas de juros mais elevadas serão necessárias. Embora o aumento dos juros possa trazer desafios para alguns setores, o impacto geral tende a ser positivo para a economia e, por extensão, para o desempenho das empresas.
· 03:27 — Um grupo complexo demais
A 16ª cúpula anual do BRICS+, realizada em Kazan, Rússia, marcou a primeira reunião do bloco desde sua expansão e contou com a presença de mais de 20 países, incluindo nações interessadas em integrar a aliança. Apesar das tentativas ocidentais de isolar Moscou economicamente devido à guerra na Ucrânia, o evento ressaltou a relevância diplomática da Rússia, enquanto as economias emergentes buscam alternativas à hegemonia ocidental.
A Declaração de Kazan, emitida ao final da cúpula, abrangeu compromissos de cooperação interbancária, pagamentos transfronteiriços e a criação de uma plataforma de comércio de grãos e do Novo Banco de Desenvolvimento. Foram também discutidos planos para uma bolsa internacional de metais preciosos, e uma moeda simbólica do BRICS foi apresentada (não tem a menor chance de uma aberração dessas substituir o dólar, com todo o respeito).
Ainda assim, até que ponto os BRICS podem de fato representar uma alternativa concreta às instituições dominadas pelo Ocidente?
As limitações parecem consideráveis, dado que o grupo carece de tratados formais e obrigações vinculativas. Sua composição eclética deve se tornar ainda mais diversa, o que tende a dificultar uma atuação coesa. No entanto, em termos econômicos, o grupo tem peso: com a adição de Irã, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, o BRICS+ agora representa 36% do PIB global, comparado aos 29% do G7 (sim, EUA e China perfazem a maior parte disso). Ainda assim, a falta de alinhamento — com Brasil e Índia como as únicas democracias em um bloco cada vez mais voltado ao autoritarismo — e a dispersão de prioridades entre os membros sugerem que o BRICS+ terá dificuldades em alcançar resultados materiais de curto a médio prazo.
· 04:15 — Derrota
A coalizão governista do Japão perdeu sua maioria na câmara baixa, após o partido do primeiro-ministro Shigeru Ishiba sofrer uma derrota significativa nas eleições deste domingo — a primeira vez desde 2009. Esse resultado traz incertezas sobre os próximos passos da política monetária, o que pressionou o iene em uma semana decisiva, já que o Banco do Japão (BoJ) tem sua reunião agendada e previa manter a taxa de juros em 0,25%. Embora a mudança no cenário político provavelmente não afete a decisão de quinta-feira, ela pode influenciar a política monetária no longo prazo.
A oposição liderada pelo Partido Constitucional Democrático defende a reformulação da meta de inflação do BoJ, sugerindo que seja alterada de 2% para uma meta mais flexível, de “acima de 0%”. Essa mudança poderia implicar em taxas de juros estruturalmente mais elevadas, contrastando com as taxas historicamente baixas praticadas até agora. Neste contexto, embora o primeiro-ministro tenha indicado que não pretende renunciar, ele agora deverá buscar um terceiro parceiro para a coalizão, o que eleva a incerteza política. Caso as negociações se prolonguem, o Banco do Japão poderá postergar os planos de ajuste das taxas de juros. A expectativa é que, apesar desse revés, o partido conservador continue a governar com uma aliança ampliada.
· 05:02 — Mudanças
A Cosan (CSAN3) recentemente anunciou uma reestruturação significativa em sua alta gestão e em várias subsidiárias, com o objetivo de acelerar a desalavancagem financeira do grupo. Esta é a mudança mais abrangente desde o IPO da empresa em 2005, e parece um passo promissor.
Mas qual é o impacto concreto dessa reorganização?