Os mercados internacionais operam em alta nesta manhã de segunda-feira (25), com ganhos consistentes nos índices europeus e nos futuros americanos, seguindo a predominância de um tom positivo observado na Ásia. Esse movimento ocorre após uma semana turbulenta, marcada por intensas tensões geopolíticas, especialmente no conflito entre Ucrânia e Rússia.
Como conversamos, os ucranianos, com autorização de Estados Unidos e Reino Unido, utilizaram mísseis fornecidos por esses países para atingir alvos russos. Em resposta, Vladimir Putin intensificou a escalada, lançando pela primeira vez um míssil hipersônico e reiterando alertas sobre o risco de uma escalada nuclear. Os desdobramentos deste conflito serão acompanhados de perto nos próximos dias, enquanto a pressão sobre os preços do petróleo continua (o ouro também sobe).
Nos Estados Unidos, a semana traz a “Black Friday” — tradicional evento de vendas que marca o início da temporada de compras de fim de ano — em meio ao feriado de Ação de Graças na quinta-feira (28), que manterá os mercados fechados na sexta-feira (29). Além disso, dados importantes de atividade econômica serão divulgados, assim como declarações de autoridades monetárias europeias, que podem oferecer novos sinais sobre a política de juros.
Embora a temporada de resultados corporativos tenha perdido força, alguns nomes relevantes, como Dell e CrowdStrike, ainda devem movimentar o mercado. Outro fator que contribui para o clima de otimismo é a recepção positiva à nomeação de Scott Bessent como secretário do Tesouro no próximo governo de Donald Trump, algo que já havia sido antecipado neste espaço. A escolha reforça uma postura mais moderada e bem recebida pelos investidores (aliás, bom para o fiscal).
Por aqui, o mercado local passou os últimos dias em compasso de espera, enquanto o pacote fiscal do governo foi novamente adiado. Entretanto, há expectativas crescentes de que esta seja, finalmente, a semana decisiva para a apresentação das medidas. O anúncio, previsto para hoje ou amanhã, será fundamental para destravar o sentimento dos investidores e fornecer um direcionamento mais claro para os ativos brasileiros.
· 00:57 — O ajuste
No Brasil, a semana concentra importantes divulgações econômicas, com destaque para os dados de inflação, representados pela prévia do IPCA-15 de novembro, e para os indicadores fiscais. O principal foco, no entanto, estará na análise do relatório bimestral de receitas e despesas, apresentado na última sexta-feira (22) e acompanhado de uma coletiva de imprensa marcada para a manhã de hoje, além da aguardada divulgação do pacote de corte de gastos públicos, prometida para hoje ou amanhã.
Como mencionei anteriormente, de acordo com a Instituição Fiscal Independente (IFI), será necessário um bloqueio adicional de R$ 13,3 bilhões para atingir o piso da meta do arcabouço fiscal deste ano. No último relatório, o governo revisou sua projeção para o déficit primário de 2023, ajustando-o de R$ 28,3 bilhões para R$ 28,7 bilhões, excluindo despesas relacionadas às enchentes. Esse valor ainda está dentro dos limites estabelecidos pelo arcabouço fiscal.
O bloqueio total de gastos foi ampliado para R$ 19,3 bilhões, um aumento de R$ 6 bilhões, principalmente em função de uma revisão para cima nos benefícios previdenciários. O déficit será compensado, em parte, pelos R$ 7,3 bilhões destinados ao governo, provenientes dos dividendos extraordinários de R$ 20 bilhões anunciados pela Petrobras (PETR4). Essa combinação nos trouxe aos R$ 13,3 bilhões desejados.
Qualitativamente, o relatório trouxe pontos positivos: pela primeira vez neste ano, a projeção oficial para os gastos não está subestimada, indicando melhora na execução. Apesar de algumas receitas ainda subestimadas, a compensação virá pela subexecução de despesas. Excluindo os gastos relacionados às enchentes, o déficit primário ajustado deve atingir R$ 28,7 bilhões, enquanto o déficit total ficará em R$ 65,3 bilhões (melhor do que o esperado no começo do ano pelo mercado).
Com o cenário de 2024 relativamente sob controle, o desafio maior reside em 2025 e nos anos subsequentes, o que torna o pacote de corte de gastos ainda mais essencial. Um ajuste fiscal responsável no presente pode evitar um aumento adicional de 75 pontos-base na Selic em dezembro. Contudo, o tempo pode ter sido um fator crítico: o atraso na adoção de medidas mais estruturais pode dificultar a reversão do cenário de desancoragem das expectativas inflacionárias, exigindo ações robustas e de impacto imediato para evitar um aperto monetário mais severo.
- Em busca de dividendos? Curadoria reúne os melhores ativos para os investidores interessados em renda passiva.
· 01:42 — O ritmo forte continua
Na última sexta-feira, nos Estados Unidos, o índice de sentimento do consumidor de Michigan atingiu seu nível mais alto em quase quatro anos, destacando a resiliência da economia americana. Esse dado positivo reflete uma economia robusta e ajuda a explicar o rali observado nas ações recentemente. O S&P 500 está a apenas 0,5% de alcançar seu recorde histórico, após acumular um ganho semanal de 1,7%, enquanto o Nasdaq Composite permanece 1,5% abaixo de sua máxima de fechamento.
O otimismo no mercado também foi impulsionado pela reta final da temporada de resultados corporativos, com destaque para as varejistas, que surpreenderam positivamente, alinhadas ao forte indicador de confiança do consumidor. Pelo menos dez empresas do setor elevaram suas projeções de vendas ou lucros para o atual ano fiscal, refletindo o aumento nos gastos dos consumidores. Entre elas, destacam-se Walmart, Gap, TJX, Ralph Lauren, BJ’s Wholesale Club, Home Depot e e.l.f. Beauty.
Embora a temporada de resultados esteja quase concluída, ainda há algumas grandes empresas que devem divulgar seus números nesta semana, como Best Buy, CrowdStrike, Dell, Dick’s Sporting Goods, HP e Macy’s. No entanto, o grande destaque da agenda econômica ficará por conta da nova leitura do PIB do terceiro trimestre e do índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE) referente a outubro. Esses indicadores serão cruciais para avaliar a dinâmica da economia americana e suas implicações para o mercado financeiro.
· 02:33 — Confirmando o favoritismo
Como antecipei na semana passada, Donald Trump escolheu Scott Bessent, fundador da Key Square Capital Management, para ocupar a Secretaria do Tesouro dos EUA. A decisão foi recebida de forma positiva pelo mercado financeiro, que ansiava por um nome associado à ortodoxia, previsibilidade e coerência na condução da política econômica. Essas características contrastam com os temores em torno de outros candidatos considerados menos qualificados para atender às expectativas de Wall Street. Bessent, por outro lado, oferece um histórico que inspira confiança.
Graduado por Yale, Bessent construiu uma carreira sólida no mercado financeiro, com destaque para sua atuação na Soros Fund Management, onde foi sócio durante os anos 1990. Ele desempenhou um papel de destaque no famoso trade contra a libra esterlina durante a crise da “Quarta-Feira Negra” em 1992, consolidando sua reputação como um dos profissionais mais bem-sucedidos formados pela casa de George Soros. A nomeação de Bessent é vista como um claro sinal de Trump para Wall Street, demonstrando disposição para adotar uma postura econômica pragmática.
Essa escolha, somada à nomeação de Howard Lutnick, da Cantor Fitzgerald, para a Secretaria de Comércio (já comentada na semana passada), além de Elon Musk e Vivek Ramaswamy para o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), reforça a percepção de um governo comprometido com uma abordagem fiscalista. A equipe sugere um esforço coordenado para controlar os gastos públicos nos próximos anos, em resposta às preocupações de que a administração Trump pudesse inclinar-se para uma política fiscal excessivamente expansionista.
O cerne da abordagem de Bessent está encapsulado em sua “Regra 3-3-3”: i) responsabilidade fiscal, com redução do déficit público para 3% do PIB até 2028; ii) crescimento sustentado, provendo um ritmo de crescimento real do PIB de 3% ao ano; e iii) independência energética, aumentar a produção diária de petróleo bruto dos EUA em 3 milhões de barris. Essa fórmula, vista como um aceno direto ao setor financeiro e ao eleitorado republicano (mesmo o mais tradicional), deve moldar os dois primeiros anos do governo Trump, especialmente enquanto os republicanos mantiverem o controle do Congresso. A reação do mercado deve ser amplamente positiva, sinalizando apoio à estratégia proposta e esperança de que a disciplina fiscal.
- LEIA MAIS: Esta elétrica é ‘um dos nomes obrigatórios para a maioria dos portfólios’, defende o BTG – veja qual é o papel com resultados fortes no 3T24.
· 03:28 — Risco de fraqueza
Os principais dirigentes dos bancos centrais regionais da União Europeia emitiram um alerta enfático sobre o agravamento da fragilidade econômica do bloco, ressaltando que a atual paralisia política está intensificando a vulnerabilidade europeia diante de um potencial confronto comercial com os Estados Unidos. A Europa pode enfrentar consequências severas caso Alemanha e França não reestabeleçam sua histórica cooperação, considerada o alicerce da integração e estabilidade do continente.
Aliás, a vitória de Donald Trump e as prováveis mudanças em sua abordagem comercial ampliam as pressões sobre a já debilitada economia europeia — o retorno de Trump à Casa Branca seria interpretado como um sinal de alerta urgente para o bloco.
O panorama é agravado por tensões geopolíticas crescentes, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia e do confronto com a Rússia, o que adiciona uma camada de incerteza e complexidade ao cenário. O bloco enfrenta não apenas a necessidade de superar obstáculos internos, como a falta de coordenação política e econômica, mas também de lidar com pressões externas cada vez mais intensas. O conjunto dessas declarações expõe um quadro alarmante para a União Europeia, que parece estar em uma encruzilhada. Sem uma estratégia clara e uma resposta coordenada, o continente corre o risco de comprometer ainda mais sua relevância e competitividade em um ambiente global cada vez mais fragmentado e desafiador.
· 04:16 — Cúpula encerrada
A COP29, cúpula climática da ONU, encerrou-se com a concordância de quase 200 países em triplicar os recursos destinados a apoiar as nações em desenvolvimento na mitigação e adaptação aos impactos do aquecimento global. Os países desenvolvidos comprometeram-se a aportar pelo menos US$ 300 bilhões anuais até 2035, um passo importante, ainda que distante das expectativas das nações mais vulneráveis, que pleiteavam um suporte financeiro mais robusto. Realizada no Azerbaijão, a cúpula foi marcada por negociações intensas, frequentemente tensionadas, revelando os desafios de alinhar interesses divergentes em um mundo cada vez mais polarizado.
Com o término da COP29, o foco global se desloca para o Brasil, anfitrião da próxima edição, a COP30, em 2025. Nosso país tem buscado posicionar-se como um líder em debates climáticos, especialmente após os holofotes conquistados durante a recente cúpula do G20. Contudo, o próximo ano traz desafios adicionais: além de sediar a COP30, o Brasil também será palco da reunião do BRICS+, ambos eventos de grande complexidade diplomática.
A presença esperada de representantes do governo de Donald Trump nos fóruns internacionais adiciona uma camada de imprevisibilidade, tornando 2025 um ano crucial para o Brasil demonstrar sua capacidade de mediação.
· 05:05 — Continuo longe do setor, obrigado
A Austrália está avançando com uma proposta legislativa para enfrentar os riscos que as mídias sociais representam para crianças, proibindo menores de 16 anos de acessar plataformas como TikTok, Facebook, Instagram, Snapchat, Reddit e X…