O que é sucesso pra você?
Os gregos associavam sucesso a uma morte heróica. Talvez seja uma postura excessivamente dura. Sua atualização possivelmente sugeriria ligar pessoas bem-sucedidas a uma vida heróica, no sentido de que herói é aquele que dedica sua trajetória ao bem-estar de terceiros.
Pra mim, só pode haver uma definição de sucesso: se você se olha no espelho todos os dias de manhã e vê uma imagem refletida que não decepciona a pessoa que você era aos 18 anos, então, meu caro, você não fracassou. Conseguiu não ser corrompido pela vida, pelas tentações mundanas e por questões que feririam intimamente sua essência e seu caráter.
Não importam sua reputação, o quanto de dinheiro você tem, os prêmios que você já ganhou, os carros estacionados na sua garagem. No final, é somente você com você mesmo. No limite, você também com aqueles que ama profundamente, os poucos capazes de mudar sua noite com uma inesperada mensagem no WhatsApp contendo um vídeo de 17 segundos tocando algumas notas no piano, as cinco pessoas com quem você pode se comunicar apenas por olhar, os trapezistas com quem você topa se jogar num mundo desconhecido, mas bom…incrivelmente bom.
Hoje em dia, a maior parte das pessoas com quem converso sobre a Empiricus vem me parabenizar pelo “sucesso da empresa”. Claro que não são todos e, sim, também convivo com uma série de críticas. Mas a maioria vem mesmo “cumprimentar pelo que vocês fizeram e pela relevância que assumira, surpreendentemente.”
Eu, num esforço muitas vezes além de minhas possibilidades, sorriu gentilmente e agradeço pelas agradáveis palavras. A verdade, porém, e isso não é falsa modéstia, é que eu não me sinto bem-sucedido. A imagem refletida no espelho do meu banheiro não se parece com aquela sonhada quando peguei pela primeira vez às chaves do Palio azul (saudades!) dado pelo meu pai como presente por ter sido aprovado entre os primeiros vestibulandos da USP. As ilusões estão todas perdidas, meus heróis morreram de overdose e meus inimigos estão no poder – felizmente, porém, os meus sonhos ainda não foram todos vendidos.
Sabe de onde vem minha decepção?
De ver como a maior parte das pessoas físicas ainda investe tão mal. E o pior: os incentivos estão todos no sentido de reforçar o status quo, ainda que estejamos melhorando na margem.
Fato é que temos uma concentração bancária absurda, o que olipoliza o acesso a produtos e também à informação de qualidade. A imprensa financeira brasileira precisaria melhorar incrivelmente para começar a ser digna de receber crítica – se quem supostamente deveria transmitir informação não tem informação de qualidade nem para si, o horizonte realmente não é dos mais bonitos. Ainda temos uma sofisticação de investimentos precária, mesmo dentro da renda fixa, para não falar na penetração ínfima do mercado de ações entre a população. E, para piorar, um regulador que trata o investidor PF como uma criança indefesa e, sob essa interpretação, quer inibir práticas de propaganda que supostamente ludibriariam esses bebês, esquecendo-se de que recém-nascidos estão muito mais em perigo quando desacompanhados. Se eles são indefesos, a melhor coisa a se fazer é estimular ao máximo a companhia de um adulto. Mas, aqui, não. Não se medem esforços para travar o mercado, desafiando frontalmente as melhores práticas adotadas no exterior, mais notadamente nos EUA.
Quando vejo tudo isso, eu penso que fracassamos. Aquele menino de 18 anos (posso chamar de “menino” quem tem 18 anos?) estaria realmente decepcionado. Não estou fazendo meu trabalho direito. Ou, ao menos, não na proporção e na abrangência que deveria.
Ao fundarmos a Empiricus há oito anos, tínhamos um objetivo explícito: levar ao investidor pessoa física – todos eles – a possibilidade de acessar estratégias de investimento tão boas ou até mesmo melhores do que aquelas anteriormente restritas apenas aos profissionais.
Aqui dentro – e isso é mesmo verdade -, quando me entregam uma análise de investimento, eu faço duas perguntas. “O que o Stuhlberger acharia disso? E o que a massagista moçambicana da pousada Vila Cobé em Japaratinga, Alagoas, que é minha cliente, acharia disso?” Se não julgar que as duas pessoas, apresentadas aqui claramente como representações de dois estereótipos, simultaneamente, vão achar aquilo útil e interessante, podemos jogar o material no lixo. Não serve. Volta e refaz.
Quando vejo que, por mais que cresçamos, ainda atingimos tão pouca gente perto do total da população, eu me desaponto. E carrego cotidianamente essa sensação de ter falhado.
Hoje, porém, demos um pequeno passo na outra direção. Em meio a uma rotina de certa frustração e melancolia, pude ter uma breve sensação de dever cumprido.
Ontem à noite, mais precisamente às 23h23, o Ruy, uma das pessoas mais brilhantes e dedicadas da Empiricus, com quem eu gostaria de casar a filha que ainda não tive, me enviou um email com o desempenho da Carteira Empiricus com os dados fechados de maio – ele sempre faz isso aos finais de mês, para que possamos reportar a nossos clientes. Eu pude constatar, com absoluta surpresa e, confesso, alegria genuína que o portfólio recomendado acumula alta de 76,72% em 36 meses.
Desculpe se me excedo em algumas sensações – já confessei aqui que me inclino a certos exageros -, mas eu fiquei orgulho da performance. (Sim, se pegarmos outros intervalos de tempo também chegaremos a resultados muito positivos; não fiz cherry picking da melhor janela temporal possível, apenas foquei num prazo suficientemente longo para referendar a importância da consistência).
Sei que muito disso se deveu à sorte, talvez muito mais até do que se deveu propriamente à competência. Também não sei dizer como conseguimos fazer isso. Mais ainda, não quero aqui supor que teremos o mesmo desempenho à frente – é bem provável que não. Eu não sou besta de tirar onda de herói, sou vacinado, eu sou cowboy, quase fora da lei.
Mas o resultado está dado, reportado na pedra. E quem seguiu as recomendações ganhou dinheiro. Isso ninguém nos tira. Podem falar o que quiser: aquela criança de 18 anos ficaria orgulhosa.
O desempenho é muito melhor do que outras referências de mercado, do que o oferecido pela média dos gestores multimercados e até mesmo do que nós mesmos havíamos sugerido como provável.
Nesse tempo de Carteira Empiricus, pudemos atender à nossa vocação mais íntima: dar ao investidor de varejo a possibilidade de, sem alavancagem e sem instrumentos heterodoxos, ter rendimentos até mesmo melhores do que o apurado pelos profissionais, apenas com estratégias totalmente acessíveis. Isso me orgulha, montão.