Investimentos

Não devemos ter pressa, mas também não podemos perder tempo

Não adianta tentar ganhar todo o dinheiro de uma vez. Esse é pecado capital, que provavelmente vai expulsá-lo do jogo.

Por Felipe Miranda

17 maio 2017, 10:19

Deixe-me lhe apresentar quatro sequências de números:

13,75; 12,36; 19,55; 18,10; 8,80; 28,65; 15,10; 3,61.
10,02; 11,91; 10,44; 7,81; 10,11; 13,43; 13,93; 4,98.
18,27; 13,04; 17,85; 14,62; 14,84; 20,25; 18,19; 6,23.
1,02; 11,16; 11,52; 16,30; 4,74; 27,31; 19,19; 6,58.

Calma. Não é pra adivinhar qual o próximo número da sequência. Essas são as valorizações percentuais ao ano de quatro fundos brasileiros, desde 2010. O que você acha?

Possivelmente, olhando cada percentual isoladamente, sem compô-los algebricamente, você não tenha achado nada de mais. Há poucos retornos anuais superiores a 20 por cento. Pensando assim, nada muito espetacular, certo? A princípio, pessoas medíocres – no sentido estrito de “medianas”- poderiam ter apurado retornos anuais de magnitudes semelhantes, não é mesmo?

Não. Não é. Os números acima descrevem a trajetória anual de quatro dos mais admirados (merecidamente) fundos brasileiros, de 2010 até o último 12 de maio. Na ordem, temos: Verde, JGP Hedge, Safra Galileo e SPX Nimitz, tocados, respectivamente, pelos gênios Luis Stuhlberger, André Jakurski, Márcio Appel e Rogério Xavier.

Duas breves ressalvas: i) o SPX Nimitz começa em dezembro de 2010, por isso a performance de apenas 1,02 por cento no primeiro ano, de modo que a comparação direta desse número específico com os demais da primeira coluna é inadequada; e ii) em 2016, Márcio Appel fundou sua própria gestora, deixando, portanto, de gerir o Safra Galileo – o desempenho de seu novo fundo no ano passado foi destacadamente superior àquele do Galileo (o Adam Macro surgiu em abril de 2016 e desde então rende 30,6 por cento), o que também distorce um pouco a análise (de todo modo, para o argumento aqui desenvolvido, nada muda – já chego lá).

Por que estou falando tudo isso?

Eu sei que o investidor, principalmente pessoa física, sente-se atraído pela tentação de ganhar 50 por cento ao ano. Quem sabe 100 por cento ao ano. Ora, quem não se sentiria tentado? Ocorre que profissionais absolutamente geniais, debruçados sobre os mercados 24×7 e municiados de equipes de 20 a 40 pessoas (também competentes – não no mesmo nível, obviamente, porque não pode ter tanto gênio assim no mundo), dificilmente conseguem entregar mais de 20 por cento ao ano.

O que importa é a consistência, o juro composto ano contra ano. O que esta turma não tem? Um ano muito negativo. É tijolo a tijolo, que, quando colocados um acima do outro, formam um prédio bonito. Num ano muito bom, você arrebenta. Num ano médio, você vai apenas ok. E na soma dos vários anos a diferença é brutal. Não adianta tentar ganhar todo o dinheiro de uma vez. Esse é pecado capital, que provavelmente vai expulsá-lo do jogo. Se você mira 50 por cento ao ano, vai expor-se a riscos excessivos e quebrar no meio do caminho – acredite que as coisas podem dar errado, pela simples razão de que elas efetivamente podem. Potência não é nada sem controle.

Embora os desempenhos de cada ano isoladamente possam não parecer tão excepcionais, quando você compõe a coisa, considerando todo o histórico, a parada muda completamente de figura. No intervalo considerado, o Verde registra alta de 201 por cento (177 por cento do CDI), o JGP Hedge avança 119 por cento (104 por cento do CDI), o Safra Galileo aprecia-se 213 por cento (187 por cento do CDI) e o SPX Nimitz apura ganhos de 144 por cento (151 por cento do CDI). Exceção feita ao fundo da JGP, ai, sim, temos algo efetivamente espetaculares.

O discurso pode parecer chato pra caramba, mas fato é que se você tem conseguido apurar retornos superiores ou mesmo próximos a 20 por cento ao ano, seja sozinho ou com a ajuda de um certo alguém, pode estourar o champanhe. Mais do que isso, só o Verde no começo dos anos 2000, mas aquilo ali já era extraterrestre.

Sobre o autor

Felipe Miranda

CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.