Investimentos

A inveja é uma…

O que você prefere? Ganhar uma maçã (supondo que você gosta de maçã) hoje ou duas maçãs amanhã?

Por Felipe Miranda

11 maio 2017, 10:31

Os invejosos da Física, conhecidos vulgarmente como economistas, são bichos curiosos. Eles, tentando se afastar do soft science tipicamente associado às ciências sociais, querem desqualificar análises históricas como abordagens científicas. Em substituição a isso, adotam a estatística em seus métodos de previsão, por meio da chamada econometria. Eu me pergunto: o que seria a estatística das séries de tempo senão mera análise histórica, contada quantitativamente?

Quando a obra de Ludwig von Mises foi publicada como Human Action: A Treatise on Economics, aquilo tinha um objetivo bastante claro: definir a economia como o estudo da ação humana, altamente subjetiva e impossibilitada de se reduzir a planilhas de dados e modelos matemáticos.

Se você quer entender a economia, precisa se debruçar sobre o comportamento do homem. Com isso em mente, eu lhe convido ao seguinte exercício (falo de verdade; peço que tente responder ai para você mesmo).

O que você prefere? Ganhar uma maçã (supondo que você gosta de maçã) hoje ou duas maçãs amanhã?

Escolha sinceramente.

Agora, uma segunda pergunta: prefere ganhar uma maçã daqui 365 dias ou duas maçãs daqui 366 dias?

Esse experimento foi efetivamente conduzido por Richard Thaler, possivelmente o maior expoente da economia comportamental. Ele verificou que muitas pessoas, tipicamente associadas à impaciência, preferem ganhar uma maçã hoje a duas amanhã.

Até ai, tudo bem. Questão de gosto. Cada um, cada. No entanto, essas mesmas pessoas tidas como impacientes respondem também preferir duas maçãs em 366 dias a uma maçã em 365 dias.

Dai azedou. Isso fere o princípio da transitividade da hipótese da escolha racional, pois o problema um é rigorosamente idêntico ao problema dois. As preferências não são estáveis sob uma perspectiva intertemporal.

O que significa a preferência por, em um ano, esperar um dia a mais por uma maçã adicional sendo que, hoje, esse mesmo sujeito não topa esperar um dia a mais por uma maçã adicional? Somos impacientes hoje na expectativa de que conseguiremos ser pacientes amanhã.

O fenômeno é amplamente documentado e aparece na literatura como inconsistência intertemporal ou desconto hiperbólico. Somos impacientes, preguiçosos e ansiosos com as questões imediatas, achando que “na semana que vem eu começo o regime.”

Isso tem implicações fundamentais para o investimento. A construção de patrimônio exige a completa inversão dessa lógica. Por definição, a construção implica um sacrifício hoje para a colheita do benefício futuro. Precisamos ser pacientes (poupadores) hoje para sermos impacientes (gastadores) amanhã.

A identificação do problema abre espaço para a chamada “arbitragem intertemporal”, a apropriação da impaciência alheia, do consenso de mercado, em prol de seus resultados particulares. Identifica-se a obsessão humana pelo imediatismo do curto prazo e montam-se posições a partir disso para a colheita futura.

Subverter o viés cognitivo aqui abre um espaço claro para você ganhar dinheiro. O foco no curto prazo para o resultado de seu portfólio não é somente inócuo – no sentido de que comportamentos de curto prazo estão integralmente sob a égide da aleatoriedade. Mais do que inútil, essa propriedade se torna um mapa errado, pois o curto prazo está justamente dominado por questões associadas ao desconto hiperbólico. A paciência é uma virtude, que pode ser medida em reais. Se você quer um plano de investimento não para hoje, mas para a vida inteira, o Combo Upside Essencial está aqui para lhe ajudar. Encerraremos hoje as adesões a esta série muito especial.

Eu tento ser paciente com a recuperação da economia, mas desse jeito não está fácil. Vendas ao varejo caíram 1,9 por cento em março, contra uma expectativa de recuo de 0,6 por cento. A parte boa disso é que a via parece pavimentada para aceleração adicional do ciclo de corte da Selic – provavelmente, terminaremos maio a 10 por cento ao ano e 8,5 por cento para o fim de 2017 virou piso. Assimetria interessante no pré. O argumento é reforçado pela primeira prévia do IGP-M de maio, que mergulhou 0,89 por cento, contra -0,58 por cento esperado.

Juros futuros reagem aos indicadores com nova queda significativa.

Dólar recua 0,24 por cento contra o real, na esteira do comportamento de outras moedas emergentes, que olham para recuperação das commodities após tombo do início do mês. Relatório da Opep pode guiar variações do petróleo.

Otimismo não é compartilhado por mercado acionário. Ibovespa Futuro abre em baixa de 0,35 por cento, com frustração em torno de vendas ao varejo e atento ao desempenho das bolsas internacionais. Inflação ao produtor norte-americano acima do esperado contribui para elevar aversão a risco – PPI subiu 0,5 por cento, contra 0,2 por cento esperado, alimentando suposições de mais aumentos do juro básico dos EUA. Tensão em torno de demissão de diretor do FBI por Donald Trump também não ajuda. Pedidos de auxílio desemprego completam agenda norte-americana.

Sobre o autor

Felipe Miranda

CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.