Groucho Marx, muito mais legal que o Karl, disse algo mais ou menos assim: “eu me recuso a fazer parte de um clube que me aceita como sócio.” Eu adoro falar mal dos economistas porque sou um deles – embora me considere um economista bem mequetrefe. Nada mais divertido do que rir de si mesmo. Somos todos um grande escândalo, falaria James Hilman.
Agora, para pagar de descolado, economista tem de dizer que o principal temor é vivermos um “jobless ricovery”, ou seja, que o País observaria uma recuperação da economia sem uma volta mais vigorosa do mercado de trabalho, sendo, assim, menos sólida, mais lenta e errática. Sem empregos, não haveria consumo sustentável, o que seria percebido pelos empresários, cujos espíritos animais continuaram sob hibernação.
Como chegamos até aqui?
Primeiro, o Banco Central dos EUA, que funciona como uma espécie de Semana da Moda de Paris, o grande responsável por ditar tendências, cita o termo em referência ao comportamento das recuperações norte-americanas a partir dos anos 90. Segundo a argumentação, até esse período, as retomadas se davam normalmente em forma de V. Posteriormente, assumiram uma cara de U. Isso estaria associado à maior demora em colocar as pessoas de volta ao trabalho. Virou um artigo famoso chamado The Trend is The Cycle: Job Polarization and Jobless Recoveries, de Nir Jaimovich e Henry Siu, que identificava a dificuldade para a recuperação de empregos de média habilidade (tradução minha para middle-skill routine).
Ai veio um outro texto mais polêmico, o Is Modern Technology Responsible for Jobless Recoveries?, de George Graetz e Guy Michaels. Todo mundo adora retomar o argumento ludita de que a culpa do desemprego é das máquinas! Os autores investigaram 17 países desenvolvidos entre 1970 e 2011 e seu comportamento nas retomadas da economia. A conclusão: as chamadas “jobless recoveries” seriam um fenômeno exclusivo dos EUA. Enquanto os demais países industrializados contratavam de volta empregados previamente demitidos, a tendência norte-americana seria de substituir os seres humaninhos por máquinas e coisas mais tecnológicas.
Parecia algo circunscrito ao contexto dos EUA. Mas ai veio o Banco Central Brasileiro e citou no Relatório Trimestral de Inflação a possibilidade de um comportamento mais benigno para os preços por conta de uma retomada mais vagarosa do emprego.
Pronto! Lá foram os economistas resgatar o termo jobless recovery e repeti-lo ad nauseam por ai. Estão todos preocupados com a fragilidade da nosso potencial recuperação. A cumprir com o padrão internacional, essa seria uma retomada mais lenta, diferentemente das anteriores por aqui, tipicamente em forma de V.
E estão, mais uma vez os economistas sobre essa preocupação – ao menos no que diz respeito ao impacto nos mercados. E, aqui, esta é a nossa missão. Se você trabalha num fundo, num banco ou num research, pouco importam, em si, suas projeções para as variáveis macro. Sozinhas, as informações sobre desemprego, PIB e afins não oferecem qualquer utilidade. Estamos interessados em transformar essas estimativas em dinheiro. É isso que define o sucesso do economista que trabalha para uma instituição financeira. Per se, os modelos servem apenas para satisfação da curiosidade intelectual e para uma demonstração diletante de conhecimento técnico, conversa entre pares.
Não deveria ser surpresa. Os economistas estão sempre errados sobre os mercados. Por uma razão muito simples: são seres platônicos. Invejosos da física, superior em escala moral dentro do universo das ciências, queremos esterilizar o mercado como se ele obedece a regras quânticas e naturais, quando, na verdade, se trata de um fenômeno social.
Leitores dedicados dos Princípios de Economia de Alfred Marshall, somos craques em exercícios de estática comparativa e em derivadas parciais, como se pudéssemos isolar o impacto de uma variável específica sobre a outra, esquecendo-nos que, na vida real, tudo acontece ao mesmo tempo. Na versão menos Microconomia 1, pulamos para o software Eviews e pedimos as tais funções de resposta a impulso, que nada mais é do que a versão informatizada do exercício anterior.
Economista quer antever comportamento dos mercados financeiros acessando o site do IBGE – e lá é o último lugar em que você deve procurar inferências sobre a Bolsa. Quando a informação vai pra lá, já está há um século no preço dos ativos.
Eu, que sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco e sem parentes importantes, penso, neste espaço, em como gerar lucros para meus clientes. Sob essa ótica, a preocupação sobre eventual jobless recovery me parece despropositada. Com folga no mercado de trabalho, a Selic vai abaixo do neutro, possivelmente para a casa dos 7% ao ano. Se assim for, é porrada no prefixado e migração adicional para a turma ainda subalocada em Bolsa. Se esse é o seu medo, pode voltar a dormir tranquilo.
Mercados iniciam a terça-feira demonstrando alguma cautela após ganhos robustos na véspera. Expectativa com reunião do Fed e por debate na França restringe um pouco disposição a risco.
Consenso espera manutenção do juro básico nos EUA, mas aguarda sinalizações sobre posterior gradualismo e eventuais menções à redução do balanço do Fed. Agenda internacional ainda tem inflação e PIB na Zona do Euro, criação de postos de trabalho no setor privado, estoques de petróleo, ISM e Markit nos EUA.
Por aqui, destaque para Comissão Especial votando reforma da Previdência. Governo mostra otimismo e espera aprovar a questão com alguma folga, embora cresça pressão por novas concessões de última hora.
Na economia estritamente, produção industrial veio abaixo do esperado, cedendo 1,8%. Fluxo cambial de abril completa a agenda.
Ibovespa Futuro abre em leve queda de 0,2 por cento, dólar alterna leves altas e baixas e juros futuros recuam.
PS.: Diante do esgotamento relâmpago de vagas ontem e da série de reclamações – a maioria pertinente – abrimos em caráter extraordinária mais 100 vagas para o Empiricus 1 MR. Agora é definitivo, sem espaço para tergiversar. Aos interessados, recomendo fortemente agilidade.