Um fôlego às bolsas americanas. De forma geral, a safra de balanços das companhias no quarto trimestre vem se mostrando positiva.
Os resultados da maioria das empresas vieram acima do esperado, apesar de algumas frustrações em relação a guidance – projeções sobre os negócios apresentadas ao mercado.
A grande decepção ficou por conta da Meta Platforms, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, cuja ação teve uma queda impressionante de mais de 30% após a divulgação do seu resultado há poucos dias.
Até o momento, no S&P, 311 de 500 companhias divulgaram os balanços do 4T21, sendo que 76% deles ficaram acima do esperado. Na Nasdaq, 662 de 3.143 empresas apresentaram os resultados, 66% acima das expectativas.
Contudo, o efeito positivo nas bolsas americanas, que leva um ar de otimismo também às bolsas europeias, deve ceder espaço para revisões, com o iminente ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos.
“De maneira geral, a temporada de resultados nos Estados Unidos é boa e começamos ver isso convergir para os preços, mas não é um sinal definitivo de vitória. Isso porque estão na iminência os apertos monetários nos EUA e no mundo”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus, que atua na série Palavra do Estrategista e na carteira Oportunidades de Uma Vida, nesta quarta-feira (9/02).
O comitê de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) anunciou após sua reunião no final de janeiro a manutenção da taxa de juros no intervalo entre 0% e 0,25% ao ano, mas sinalizou que haverá aumento em breve.
Em entrevista coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que está atento aos riscos de uma inflação persistente e ressaltou que a economia não precisa mais dos fortes níveis de suporte, pois o mercado de trabalho segue forte.
“Por enquanto o mercado precifica algo entre 4 ou 5 aumentos da taxa de juros nos Estados Unidos, mas alguns agentes já colocam a possibilidade de 6 ou até 7, ou seja, ajustes em todas as reuniões que o Fed vai fazer ao longo deste ano”, comenta Spiess.
Portanto, espera-se um movimento consideravelmente agressivo do BC americano. “É um ‘cavalo de pau’ praticamente, considerando os altos patamares de estímulos que foram dados até então. Quando começar o movimento de alta da taxa de juros, assim como a redução de balanço pelo Fed, sabemos que haverá revisões no mercado, até precificar de maneira concreta e material o aperto monetário nos mercados desenvolvidos” explicou o analista.
Por isso, toda a atenção dos agentes do mercado estará voltada para a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) dos EUA referente ao mês de janeiro de 2022, nesta quinta-feira (9/02).
No ano passado, os preços ao consumidor saltaram 7% na maior economia do mundo, sendo que a meta da inflação no país é de apenas 2% ao ano.
Enquanto isso, no Brasil…
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), segundo Spiess, teve um tom levemente hawkish, indicando que o ciclo de aperto pode durar para além de março. “Algumas pessoas precificavam o fim do aperto em março em 1 ponto percentual para 11,75%. A ata não contratou a intensidade do aumento, mas deu a entender que a Selic pode ir para 12% ou 12,25% ao ano”, avalia Spiess.
E hoje saiu um dado relevante que reforça essa trajetória.
A inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,54% em janeiro. “Veio um pouco abaixo do que o mercado esperava. A mediana era de uma alta de 0,55%”.
Contudo, nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 10,38%, acima dos 10,06% dos 12 meses imediatamente anteriores.