Investimentos

Forte aperto monetário nos EUA ampliará migração do capital de US techs ao Brasil; resultado positivo do Itaú e short em Nubank – veja as análises de Felipe Miranda

CIO e estrategista-chefe da Empiricus comenta sobre a preocupação com a inflação nos Estados Unidos, a postura do Fed e seus efeitos no mercado, além de alguns resultados corporativos

Por Daniela Rocha

11 fev 2022, 13:22 - atualizado em 11 fev 2022, 14:08

Recentes dados sobre a inflação nos Estados Unidos indicam que a preocupação com a trajetória de alta nos preços continua e que o aperto monetário será intenso. Nesse contexto, Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, avalia que a mudança na alocação de capital – que já está acontecendo, ganhará força.

“Não estamos falando de um aperto monetário módico ou superficial, ao contrário, ele será intenso e isso vai causar a migração das US techs para ações de bancos, commodities e outros cíclicos domésticos bastante descontados”, disse em seu grupo no Telegram, nesta sexta-feira (11/02).

A lógica por trás disso é que, com a alta da taxa de juros, as empresas de tecnologia e os cases growth, companhias que tem fluxo de caixa muito para a frente, em uma janela temporal maior, devem sofrer.

Ao fazer o valuation, os fluxos de caixa serão trazidos a valor presente com taxas de desconto maiores – portanto, haverá uma queda nos seus valores intrínsecos ou preços justos de suas ações.

Retomando, nesta quinta-feira (10/02) foi divulgado o Índice de Preços ao Consumidor (CPI), indicador de inflação nos EUA, que subiu 0,6% em janeiro ante dezembro. O resultado superou as expectativas de agentes do mercado, que previam uma alta de 0,4% no mês passado.

Na comparação anual, o CPI deu um salto de 7,5% em janeiro, também acima do esperado – era aguardada uma alta de 5,9%, segundo analistas consultados pelo The Wall Street Journal.

Outro ponto de atenção é que presidente do Fed (Federal Reserve) de St. Louis, James Bullard, integrante do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), disse que gostaria de ver um aumento de 100 pontos-base nos juros até o início de julho deste ano.

Fluxo para emergentes…Brasil é atrativo

Para Felipe, 2022 pode ser surpreendentemente bom para a Bolsa brasileira. Com esse ‘estouro da bolha tech’, nosso país pode ser percebido como um local interessante para colocar capital por ser conhecido como o celeiro do mundo e grande produtor de commodities”, destacou.

Segundo ele, o Brasil é uma das melhores opções entre os emergentes. A Rússia está em uma fase de conflito com a Ucrânia; a Índia está cara e a China está apertando as regulações e tornando o ambiente de negócios complexo.

Safra de balanços: resultados do Itaú (ITUB4) vieram fortes

De acordo com o Felipe, historicamente, o Itaú Unibanco (ITUB4) sempre negociou com prêmio sobre o Bradesco (BBDC4) por ser um banco considerado premium. Nos últimos tempos, houve oscilações nesse prêmio, na verdade, alguns descontos.  E, no cenário, o Santander (SANB11), por conta da brilhante atuação do Sergio Rial, também passou a se destacar na categoria premium.

Contudo, o resultado que o Itaú divulgou nesta quinta-feira (10/02) veio turbinado, um divisor de águas. “O Itaú vinha perdendo essa conotação, mas diante do seu resultado, estampou no peito a estrela de banco premium. Belíssimo resultado do Itaú, com margem financeira forte e controle de custos”, comentou Felipe.

O Itaú registrou lucro recorrente de R$ 7,159 bilhões no quarto trimestre de 2021, um aumento de 5,6% em comparação com o trimestre anterior e de 32,9% em relação ao mesmo período de 2020.

No acumulado do ano, o lucro foi de R$ 26,879 bilhões, um salto de 45% ante o resultado de 2020.

Ele lembrou que, na segunda-feira (14/02), será a vez do Banco do Brasil (BBAS3) divulgar seu resultado do 4T21. “O Banco do Brasil está muito barato em relação aos demais bancões. Espero que ande bem em contrapartida com o short que a gente tem em Nubank”, disse.

Em meados de janeiro, ele recomendou uma operação Long & Short em Banco do Brasil e Nubank na carteira Oportunidades de Uma Vida.

Conceitualmente, Long & Short é uma operação que tem duas pontas – uma posição comprada e outra vendida, com dois ativos diferentes. O objetivo é ter lucro na diferença entre essas duas pontas.

Então, a ação na ponta comprada (long) é aquela que o analista acredita que terá valorização – o Banco do Brasil (BBAS3). Já o papel na posição vendida (short) é aquele cuja perspectiva é de queda na cotação, no caso, o Nubank (NUBR33 na B3 ou NU na Bolsa de Nova York).

Mais uma recomendação de venda de Nubank

Felipe Miranda comentou ainda sobre a recomendação do BTG de venda (sell) de Nubank, feita nesta quinta-feira (11/02), também avaliando que o roxinho está sobrevalorizado.

“Quem fez a recomendação foi o Eduardo Rosnan, que para mim é um dos melhores analistas do setor financeiro. Foi um downgrade no Nubank, ele deu sell”, destacou. Esse tipo de indicação não costuma ser muito comum no sell side, isto é, entre analistas que atuam em bancos.

Sobre o autor

Daniela Rocha

Coordenadora de Conteúdo na Empiricus. Jornalista com MBA em Finanças na FIA. Atuou nas editorias de economia da TV Cultura e da Band e foi colaboradora do Valor Econômico, Exame e RI.