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Day One

Procura-se empresa sem diferencial competitivo

“A pergunta mais feita ao se estudar valuation é: Qual seria o diferencial competitivo de determinada empresa? […]”

Por Rodolfo Amstalden

17 fev 2022, 10:22

A pergunta mais feita ao se estudar valuation é:

Qual seria o diferencial competitivo de determinada empresa?

Como de praxe nas perguntas frequentes, existem muitas variações para um mesmo tipo de questionamento.

Quais são as barreiras à entrada?

Quais são os prêmios pagos? Os alfas esperados? Os corações arrasados?

Porque, no fim das contas, a empresa diferenciada possui uma lista de pretendentes poucos e seletos.

À medida que se valoriza, um número menor de investidores consegue alcançá-la — ou, dito de outra forma, novos investidores conseguem alcançar pedaços cada vez menores dela.

Cumpre, portanto, garantir boa fatia antes que ela venha a se valorizar.

E como saberemos?

Como saberão os caga-regras?

Analistas e gestores trabalham com comparações.

Um “diferencial competitivo” pressupõe a capacidade de comparação com os pares, ainda que seja uma comparação contemplada do alto de um patamar superlativo.

Mas, veja, não é bem esse o caso para empresas verdadeiramente avantajadas, cujo diferencial, elevado à enésima potência, implica a unicidade.

Não lhe parece estranho que o acrônimo MANGAM pressuponha um conjunto com características semelhantes entre si e — supostamente — comparáveis?

Meta.
Amazon.
Netflix.
Google.
Apple.
Microsoft.

De parecido mesmo entre elas só há o renome.

São todas digitais, competem entre si por intersecções, ok, eu admito. Mas suas diferenças se destacam naturalmente, pois são únicas. Não é como o dérbi entre Bradesco e Itaú.

Isso posto, sugiro inverter a pergunta.

Qual seria a empresa sem diferencial competitivo?

Zero diferencial, porque não precisa dele.

Diferenciam-se os iguais.

Já os diferentes não se comparam.

Os diferentes só cabem juntos em acrônimos de léxico pobre, cujos caracteres são convenientemente emprestados da primeira letra de cada nome.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.