Em Ribeirão, depois de alguns vestibulares, o COC costumava fazer uma festa para celebrar o fim do sofrimento.
A coisa era boa.
Pense na disposição da molecada depois de meses suando sangue para decorar a fórmula de força de Lorentz – sério, quem quer saber sobre campos magnéticos?
A galera se preparava para consumir vodka de qualidade duvidosa em quantidades industriais e fazer todo tipo de coisa que seria desaprovada pelos pais.
Ahhh, a rebeldia da juventude.
Em julho de 2002, eu já era veterano, havia completado os desafios do vestibular há alguns anos e estava lá acompanhando a movimentação das aspirantes a bixetes.
A fase estava ruim e comecei a me lamentar com um amigo, sobre como eu havia perdido os olhos de tigre.
Nenhuma técnica funcionava e, a cada derrota, a auto-estima sentia os duros golpes da rejeição.
Eu já estava jogando no desespero, baixando as metas e o padrão de qualidade.
Paciente e sábio, como qualquer mentor que se preze, Neto (não o craque) começou aquele discurso motivacional da virada que todo moleque dos anos 80 cansou de ouvir na adolescência.
Get up you son of a bitch ‘cause Mickey loves you’.
Aos poucos, fomos desenvolvendo a melhor estratégia para a noite e a cada dose de Balalaika, a teoria ia ficando mais robusta.
Definimos que de nada adianta baixar o nível, só te leva a correr mais riscos com pior expectativa de retornos – tomar fora da Fernanda Lima (ou do Rodrigo Hilbert, que se respeite todas as preferências) não dói nada e rende boas risadas, mas, levar o balão de quem você tem certeza que vai te “querer”, ah, isso te traumatiza para o resto da vida.
Ou seja, ali, naquela noite, chegamos à conclusão de que é possível, sim, aumentar o retorno ao mesmo tempo que se reduz risco, só é preciso de um pouco de confiança e cara de pau…
O resultado, além de uma ressaca ridícula, foi conhecer uma gatinha aspirante à médica.
A gente se enrolou até o fim do ano, quando fui passar o Réveillon no Rio, e a história não sobreviveu às (festas) cariocas.
Se você não acredita no ensinamento empírico da balada do COC, talvez acredite em um cara chamado Mark Spitznagel.
Spitznagel é um baita de um gestor de hedge fund americano, responsável pela alocação de alguns bilhões de dólares.
Fundador da Universa Investments, ele é pioneiro na aplicação do tail-hedging investment que, de forma simples e direta, implica na compra sistemática de proteção (hedge) contra “quebras” do mercado acionário – o bom e velho apostar centavos para ganhar milhões.
A teoria é relativamente simples: investir uma porção considerável dos recursos em ativos de risco (ações, por exemplo) e colocar algo como 5 por cento em opções de venda (as famosas puts) beeeem fora do dinheiro.
O que são puts fora do dinheiro?
São opções de se vender um ativo a um preço menor do que ele é negociado hoje.
Quando o preço do ativo cai, o valor da put sobe.
Qual a vantagem disso?
Os modelos tradicionais de precificação de opções são derivados do Black & Scholes, que, em última instância, leva em consideração o desvio padrão (volatilidade) para mensurar quanto vale uma opção.
Quanto mais a bolsa sobe, menor a volatilidade do mercado e mais barato fica comprar opções.
Olhe que divertido: quanto mais inflado fica o mercado acionário, mais importante é comprar proteção, porque quanto maior a bolha, maior a explosão, certo?
E quanto maior a bolha, menor a volatilidade, mais baratas as opções e, por tabela, mais barato o seguro.
O mercado é tão maluco que, quanto maiores os efeitos de um crash, mais barato se proteger.
É como se eu te dissesse que fica mais barato fazer um seguro de carro quanto mais rápido você dirigir, desde que acelere muito devagar.
Loucura, não?
O efeito prático da estratégia é que o risco da sua carteira fica menor com maior retorno esperado, simplesmente porque você ganha quando a bolsa sobe e ganha MUITO quando a bolsa quebra.
Você ainda pode perder um pouco quando a bolsa cair pouco, mas está reduzindo significativamente os riscos de grandes perdas por eventos catastróficos inesperados, os famosos e famigerados cisnes negros.
Uma put fora do dinheiro custa centavos de dólar (ou de real), mas, quando o mercado vira e a bolsa derrete, se valoriza muitas e muitas vezes.
Milhares de vezes, na verdade.
É uma estratégia muito em linha com o que o Taleb “prega” – não à toa, um dos fundos da Universa foi batizado de Black Swan Fund.
O Felipe, como não poderia deixar de ser, tem se aprofundado cada vez mais nessas teorias e as colocado em prática na Carteira Empiricus.
Quando ele fala que nosso objetivo para o ano é popularizar a aplicação do tail-hedging para a pessoa física brasileira, o pessoal torce o nariz, dá risada e/ou desdenha.
A despeito da descrença, ele está ali, na dele, colocando os ensinamentos dos grandes mestres em prática.
Dia a dia, direcionando médicos, advogados, dentistas e arquitetos.
Há tempos a carteira do careca está batendo tudo que é benchmark por aí.
Alguns dirão que é sorte, outros que é puro marketing.
Quem assina os relatórios pouco se importa – está sorrindo bastante, ganhando mais de 7 por cento só em 2017 (mais de 3x o CDI no período).
Enquanto o seu gerente do banco te recomenda aquele CDB horrível ou um fundo caro, o Felipe está te ensinando o que há de mais avançado no mercado financeiro.
Concordo que ele pode ser um pouco controverso, mas, para encerrar com mais uma aula do treinador mais conhecido do mundo do boxe, a pior coisa que pode acontecer com um lutador é ele se tornar civilizado.
É melhor contar com um transgressor que te ajuda do que com um gerente de banco engomadinho que te ferra.