Investimentos

S01E09 – Pimenta na Poupança dos Outros é Refresco

nosso analista com cara de mau fala um pouco sobre a péssima ideia de se investir em poupança.

Por Alexandre Mastrocinque

26 dez 2016, 11:30

Quando eu acho que 2016 já passou e que as surpresas negativas ficaram, definitivamente, para trás, eis que me deparo com um conselho, no mínimo peculiar.

A Empiricus está, há 7 anos, se esforçando para melhorar a educação financeira do povo brasileiro e, do nada, um colunista recomenda aplicação em poupança para quem tem 250 mil reais para aplicar por 30 dias.

Sério, eu quase caí da cadeira.

Depois falam por aí que eu é que sou louco!

Difícil ler uma coisa dessas e não ter um surto psicótico.

Pior é que o colunista tem um belo currículo e, certamente, sabe, ou deveria saber, do que está falando.

O principal argumento da recomendação é que a aplicação na poupança é simples.

É verdade.

É muito simples.

Mas, por quê?

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Oras, é fácil aplicar na poupança porque é de total interesse do banco que você deixe seu dinheiro ali. É uma fonte de recursos extremamente barata: o banco te paga 6 por cento ao ano mais a TR e aplica em títulos do Tesouro que rendem, atualmente, 14 por cento ao ano praticamente livre de riscos.

Assim, até eu!

Veja, o interesse do banco não é te fazer feliz, não é aumentar sua renda nem garantir sua aposentadoria. Se ainda não te contaram, sinto decepcioná-lo, mas nenhum banco foi “feito pra você”.

Facilitar a sua vida é só mais uma forma de te atrair para essas “arapucas”.

É muito fácil aplicar no fundo DI caro do Itaú. É muito fácil contratar um título de capitalização do Santander. É muito fácil contratar um seguro de vida caro no Bradesco.

Nem por isso, esses são bons investimentos. Pelo contrário, o banco facilita sua vida exatamente porque é do interesse dele.

Mesmo que seja mais trabalhoso, sempre vale a pena procurar investimentos melhores. Facilidade e simplicidade não são desculpas aceitáveis para tomar uma má decisão de investimentos.

A argumentação segue, e Fábio nos diz que a poupança tem liquidez diária e que a qualquer momento você pode sacar os recursos.

Mas, o que ele não conta é que, antes de a poupança “fazer aniversário” e completar os 30 dias, qualquer resgate implica abrir mão de todo o rendimento. Nesse caso, o banco vai ter usado o seu dinheiro literalmente de graça.

Ou seja, essa história de “liquidez diária” na poupança é uma meia-verdade, para não dizer uma inteira-mentira.

“Ah, mas até 250 mil reais você está garantido pelo FGC.” Bem, isso é verdade, mas nem mesmo o FGC é uma garantia total contra o calote. O saldo atual do FGC é capaz de garantir uma pequena parcela de todas operações com cobertura do fundo. Se houver um problema sistêmico no mercado brasileiro, há uma boa chance de sua poupança ir para o espaço.

Finalmente, a coluna encerra o tema comparando o rendimento da poupança com o Ibovespa desde 1995. De acordo com dados da Bloomberg e da Calculadora do Cidadão, em termos nominais e líquidos, o Ibovespa rendeu 717 por cento, contra 725 por cento da poupança.

Praticamente um empate – concordamos que o Ibovespa decepcionou.
Mas, de qualquer forma, faz mais sentido comparar a poupança com outros ativos de renda fixa.

Vamos ver como seria o retorno de uma aplicação na Selic?

No mesmo período, o rendimento nominal e líquido seria de 2.612 por cento – sim, o resultado final de 100 reais investidos na poupança seria de 825 reais contra mais de 2,7 mil reais da Selic.

A diferença é gritante.

Absurda.

Mais absurdo do que isso é recomendar poupança em pleno 2016. Com o Tesouro Direto e todas as facilidades do mundo digital.

Mas será que em apenas 30 dias, como recomendou o colunista, a diferença seria assim tão grande?

Aplicando de 20 de novembro a 20 de dezembro, os 250 mil reais do início da conversa teriam rendido 1,7 mil reais, contra 2,1 mil reais da Selic, ambos já líquidos de impostos. A diferença é de quase 400 reais, em apenas um mês!

Com esse valor, é possível pagar por um jantar em alguns dos melhores restaurantes do Brasil, com direito a vinho e sobremesa.

Será que o “trabalho” a mais de se aplicar em um bom fundo DI (a Luciana te conta tudo sobre eles) ou no Tesouro Direto (dá uma conversada com a Marília) não vale a pena para poder sair com o(a) namorado(a) todo mês?

Se você não se der ao trabalho, quem vai sair para jantar é o banqueiro que, cá entre nós, já deve estar com a pança bem cheia e não precisa da caridade de ninguém, nem mesmo no Natal.

Seria loucura seguir alimentando os gatos gordos.

Por fim, espero que todos tenham tido um ótimo Natal, comido bastante besteira e que ninguém tenha passado (muito) dos limites com a bebida.

Em caso de ressaca, muita água, um Gatorade e repouso.

Ainda tem muita festa até o fim do ano!

 

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Formado em Economia pela FEA-USP e Contabilidade pela PUC-SP, atua no mercado financeiro há mais de dez anos. Ávido por análises e discussões, sejam sobre futebol, política, ou o mercado de capitais, segue sempre estudando e caçando o valor escondido dos ativos.