A guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem provocado altas nas cotações das commodities agrícolas e energéticas, ou seja, fortes pressões inflacionárias sobre as economias. Contudo, os bancos centrais estão diante de um “quebra-cabeça” para controlarem a escalada generalizada de preços.
Em um ambiente “normal” agiriam com rigor, elevando intensamente as taxas de juros, porém, diante de um conflito geopolítico, das incertezas e dos seus impactos humanitários e no comércio global – essa solução deixa de ser óbvia.
Segundo Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, o Federal Reserve, banco central americano, grande referência global, tende à uma postura mais branda, o que significa que a inflação elevada pode se prolongar.
Isso ficou evidente com o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, nesta quarta-feira (2/03), que de forma nada trivial, decidiu antecipar o que irá propor na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Fomc) uma alta de apenas 0,25 ponto, contra 0,50 ponto esperado mercado pelo consenso de mercado.
“Trata-se de um ‘puzzle’ para os bancos centrais porque a inflação está subindo. Me parece que esse é um pouco do novo equilíbrio e a gente deve migrar para ativos reais como proteção contra a inflação”, destacou Felipe em seu grupo no Telegram nesta quinta-feira (3/03).
Conforme ele, os preços do milho e do trigo estão batendo no limite de alta; a cotação do zinco está no maior patamar desde 2007; o gás teve novo recorde histórico; o barril do petróleo está mirando US$ 120 e o minério de ferro segue acima de US$ 120 a tonelada.
Porém, se os bancos centrais subirem demais os juros podem machucar a atividade e causar impactos negativos em relação ao mercado de trabalho, que já estarão sofrendo por conta da inflação excessiva. Uma encruzilhada.
Felipe Miranda ressalta, entretanto, que um quadro de inflação alta persistente acaba gerando concentração de renda, o que embute um risco. “Lembra-se da Primavera Árabe? Os preços elevados dos alimentos geram pressão sociopolítica”, comentou sobre manifestações que ocorreram no Oriente Médio e no Norte da África em 2010.
Por outro lado, a inflação alta resolve um pouco dos problemas fiscais dos países, pois há corrosão das dívidas.
Então, é preciso analisar os desdobramentos de toda essa história – aumento da inflação e dinâmica dos BCs.
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MSCI exclui Rússia: fluxo para a Bolsa brasileira
Para a Bolsa brasileira, as coisas não vão tão mal por conta da grande participação de produtoras de commodities cujas ações pesam nos principais índices – Ibovespa ou no MSCI Brazil.
“O Brasil é visto como um grande produtor de commodities e tem atraído fluxo estrangeiro para a Bolsa”, comentou Felipe.
Na visão dele, o fato da provedora de informações financeiras MSCI ter retirado a Rússia dos seus índices, incluindo os de mercados emergentes, pode intensificar o fluxo de capital ao Brasil.
“Isso aumenta o peso do Brasil nos índices MSCI. E os fundos passivos que seguem o MSCI e que são relevantes no mercado devem migrar, comprar ações brasileiras que compõem esses índices”, explicou.