Investimentos

S01E03 – The Godfather

Alexandre, nosso analista com cara de mau, explica como vai garantir a faculdade de seu afilhado – nem os piores psicopatas resistem ao milagre da vida.

Por Alexandre Mastrocinque

14 nov 2016, 10:42

No capítulo anterior, conversamos sobre a importância de seguros e de como recomendo que as pessoas se protejam, sempre!

Pois bem, no último Carnaval, um casal de amigos meus, definitivamente, não seguiu meus conselhos e, na semana passada, o resultado: nasceu Davi, meu afilhado!!!

Claro que fui à maternidade acompanhar de perto o milagre da vida – nem psicopatas resistem à emoção de se tornarem padrinhos – e posso dizer: tem muita gente vivendo perigosamente por aí.

Como tem gente grávida neste mundo!

Agora, o mais preocupante de tudo foi o brilho nos olhos da minha namorada quando segurou o pequeno (e fofo) Davi pela primeira vez. Se vocês me acham com cara de louco, precisavam ter visto a cara dela!

Foi assustador!

Não me levem a mal, quero bastante criar e moldar um minilouco futuramente – no fim de semana fui visitar a nova mamãe, ajudei a dar banho e até fiz o moleque arrotar depois de mamar; orgulho total!

Mas, ter um filho é um compromisso sério, algo que deve ser bem pensado e planejado. Não é uma decisão a ser tomada precipitadamente.

Além do mais, vocês sabem quanto custa criar um filho???

Quem segue o Você Investidor  já sabe.

Sem spoilers, posso adiantar: não sai barato!

Já viu quanto custa um pacote de fraldas? Sabe quantas vão por dia? Bebês são uma máquina de mamar e, bem, tudo que entra, tem que sair.

Isso sem contar pediatra, remédios, cursos, natação, escola, judô, caratê… a lista é longa, quase infinita.

Em vez de pensar em quanto custa, é muito mais produtivo preparar-se e planejar as finanças para que as visitas à obstetra sejam momentos de alegria.

Nessa linha, digamos que eu queira garantir a faculdade do Davi. Certamente ele será um menino esperto, vai passar em faculdade de primeira linha – mensalidade de 3 mil reais ao longo de 5 anos. Estimo que, lá em 2034, será necessário um total de 160 mil reais bem aplicados para bancar a brincadeira.

Assumindo que, até 2034, a poupança entregue juros reais (ou seja, descontando a inflação) de 2 por cento ao ano, todo mês será preciso aplicar 660 reais para garantir essa quantia.

Mas, se aplicarmos no Tesouro Direto a uma taxa real e líquida de 4,5 por cento ao ano (em linha com as últimas cotações da NTN-B), seriam necessárias aplicações mensais bem menores, de 490 reais cada.

O perfil de risco de uma NTN-B é no mínimo tão baixo quanto o da poupança e entrega um retorno real líquido muito maior – aplicar em poupança só interessa ao gerente de seu banco, acredite!

Mesmo assim, 490 reais todo mês ainda é uma bela grana!

Será que o Tesouro Direto é a opção mais adequada?

Será que não há uma opção melhor, com menor necessidade mensal de caixa?

Veja, 18 anos é um prazo muito longo e, durante esse tempo, a necessidade de liquidez será mínima – só esperamos começar a consumir caixa depois que vier a aprovação no vestibular, ou seja, sem problemas se houver alguma volatilidade no meio do caminho.

Nesse cenário, então, é possível aumentar os riscos e, com isso, garantir melhores retornos.

Quando penso em investimentos longos com bom perfil de risco x retorno, sempre me vêm à cabeça as ações, que são uma ótima maneira de se tornar sócio de boas empresas e participar de seu crescimento.

Veja o desempenho do índice de ações da Bovespa, o Ibovespa, comparado com a rentabilidade da poupança, nos últimos 18 anos. Os dois índices estão calculados em termos reais e líquidos.

Nesse período, o retorno anual da poupança foi irrisório – 1,4 por cento real e líquido de impostos, enquanto o Ibovespa apresentou retorno real e líquido de 6,0 por cento ao ano.

Com números como esses, seria loucura manter aplicações na poupança!

Olhe que, cá entre nós, o Ibovespa nem é uma opção muito atraente! No mesmo período, não bateu nem o CDI, que teve retorno real e líquido de 6,2 por cento ao ano.

Com uma cesta diversificada de ações, por exemplo, você pode ser “dono” de uma rede de farmácias, de uma cadeia de postos de combustíveis, usinas hidrelétricas e até de alguns bancos – seria ótimo se o banco passasse a dar a você algum retorno, em vez de cobrar taxas e mais taxas, não é mesmo?

Vejamos, como exemplo, o desempenho de 2 boas ações nos últimos 18 anos.

De acordo com dados da Bloomberg, entre outubro de 1998 e outubro de 2016, as ações do Itaú (ITUB4) renderam 12,6 por cento ao ano, real e líquido de impostos. As ações das Lojas Americanas (LAME4), renderam 23,5 por cento no mesmo período (também real e líquido).

Investindo nessas duas ações, a aplicação mensal para garantir a faculdade de seu filho seria de 214 reais para ITUB4 e de 66 reais no caso da LAME4 (consideramos que após a   entrada na faculdade, o dinheiro será aplicado no Tesouro Direto, pela necessidade mensal de liquidez a partir de então).

Comparando com a poupança e com o Tesouro Direto, a diferença é brutal!

Destaco aqui que o desempenho passado das duas ações não é, em hipótese alguma, garantia de desempenho futuro! Não estou recomendando investimento nessas ações específicas, apenas mostrando que existem opções além da renda fixa!

Mais do que isso, escolher duas das melhores ações da bolsa para os próximos 18 anos não é uma tarefa simples. Por outro lado, acho que é bem possível escolher um bom fundo de ações ou compor uma carteira escolhendo algumas empresas de qualidade, vencedoras no longo prazo.

O que é preciso é um certo grau de dedicação, pesquisa e entendimento do mercado. Concordo que é trabalhoso, mas será que o futuro do seu filhote não vale o esforço?

O mais legal de tudo é que, se ele passar em uma faculdade pública, você poderá  usar a grana pra comprar um carro pra ele e outro pra você (só não esqueça de fazer o seguro!).

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Formado em Economia pela FEA-USP e Contabilidade pela PUC-SP, atua no mercado financeiro há mais de dez anos. Ávido por análises e discussões, sejam sobre futebol, política, ou o mercado de capitais, segue sempre estudando e caçando o valor escondido dos ativos.