A crise dos fertilizantes – restrição de oferta e elevação de preços – não é recente, é intensa e deve persistir mesmo com fim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Essa é a avaliação de Rodolfo Castro, sócio da Agriplanning Consultoria e engenheiro agrônomo.
Conforme o especialista, as altas desses insumos, seguirão afetando os custos de produção agrícola, também impactados pelo aumento do preço do diesel.
“Por consequência, o cenário é de elevação da inflação de alimentos como já está ocorrendo”, destaca Castro, que participou da elaboração de relatório recente da série Palavra do Estrategista conduzida por Felipe Miranda, CIO da Empiricus. A edição teve foco nos desdobramentos do conflito geopolítico.
Xadrez geopolítico: o intrincado contexto dos fertilizantes
Fertilizantes são compostos utilizados na agricultura, que fornecem nutrientes ao solo para ganho de produtividade. Segundo Castro, o setor é regido pela sigla NPK – nitrogênio, fósforo e potássio.
O nitrogênio precisa ser transformado em amônio (NH4) ou nitrato (NO3), presentes nos chamados fertilizantes nitrogenados como amônia e ureia. Já o fósforo e o potássio estão presentes na natureza em forma de minerais.
De acordo com o consultor, a Rússia é importante detentora de reservas de fósforo e potássio e, em geral, o país responde por 13,3% das exportações mundiais de fertilizantes.
Juntando com o vizinho Belarus, esse número sobe para 32,3%, o que demonstra a importância da região no fornecimento global desse tipo de insumo.
Ele destaca que mesmo antes da tensão entre Rússia e Ucrânia as altas dos fertilizantes já vinham acelerando.
Os fertilizantes nitrogenados foram afetados pela alta do gás natural, usado na produção.
A escalada do gás começou no final de 2019 com a expectativa de inverno rigoroso na Ásia, depois houve restrição na oferta com a pandemia de covid-19, e ganhou tração com o retorno das atividades econômicas. A partir daí, a trajetória acompanhou a ascensão das cotações do petróleo.
Por sua vez, os preços do fosfato dispararam a partir de novembro de 2021, após conflitos internos no Marrocos, que possui a maior reserva mundial. Mais especificamente, um movimento separatista no Saara Ocidental, apoiado pela Argélia.
A tensão entre o Marrocos e a Argélia teve consequências. O governo argelino suspendeu o fornecimento de gás natural ao rival. Com menor disponibilidade, o preço do gás subiu no Marrocos, puxando junto o do fosfato.
Quanto ao potássio, as elevações de preços se intensificaram a partir do segundo semestre do ano passado devido às sanções da comunidade internacional à Belarus – retaliações às práticas pouco democráticas de seu presidente.
“Depois de todos esses desarranjos, em 24 de fevereiro deste ano, a Rússia invadiu a Ucrânia”, comenta Rodolfo Castro. Tudo isso leva à inflação dos alimentos.
O consultor ressalta que a Rússia e a Ucrânia representam, respectivamente, 18,4% e 7% das exportações de trigo no mundo, mais de um quarto do total.
“Não só o trigo terá altas. A Ucrânia é considerada celeiro da Europa, com 70% das terras agricultáveis. O país cultiva milho, cevada, girassol, batata e beterraba”, destaca.
E quanto ao Brasil?
Do total de fertilizantes que o país consome, um terço é de NPK. Dessa fatia, 85% são importados, sendo que Rússia e Belarus representam 28%.
Para Rodolfo Castro, para os produtores o cenário pode ser mais de oportunidade do que de crise, apesar das dificuldades de disponibilidade de fertilizantes, que proporcionam maior produtividade por área.
É provável que adubem menos às terras, contudo, podem aumentar a área de plantio, privilegiando culturas com preços atraentes no mercado.
“Analisando os impactos da guerra como um jogo de xadrez, eu diria que o Brasil está bem posicionado, contudo, a população em geral será impactada pelos aumentos nos preços dos alimentos e dos combustíveis”, conclui.
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