Um robô que utiliza alta tecnologia, ciência e fundamentos de mercado para criar um sistema de Inteligência Artificial, onde algoritmos e estratégias quantitativas são utilizadas no processo de decisão de um fundo. Dentro dessa breve explicação do que é um fundo quantitativo, gestores da Kadima, Canvas e Pandhora consideram que os riscos operacionais desse robô são os principais pontos de atenção dentro do processo de gestão de seus fundos.
Conduzidos por Bruno Mérola, analista de fundos da Empiricus, Rodrigo Maranhão, sócio e gestor da Kadima, Francisco Funari, sócio e CIO da Canvas e Isaías Lopes, sócio e CIO da Pandhora, participaram do bate-papo sobre fundos quantitativos da Semana de Fundos de Investimento Vitreo, que até sexta-feira apresenta uma programação com painéis exclusivos com os melhores gestores do país.
“O grande risco é se o operacional tem falha, se o robô manda uma ordem com uma vírgula errada. Nós somos obcecados nas análises do robô, pois o risco de mercado os nossos modelos conseguem cuidar”, explica Rodrigo Maranhão.
Francisco Funari compartilha dessa visão. “A nossa principal preocupação são os riscos operacionais, pois riscos de mercados fazem parte do jogo. Se você modela bem os riscos, se está ciente do que é humanamente possível saber, tem um lado emocional nosso que sempre torce para o fundo ganhar dinheiro. Mas não é realista no longo prazo que isso sempre vai acontecer”,
Isaías Lopes, da Pandhora destacou que é preciso ter foco no cliente certo e pesquisar intensamente para tentar conhecer o que ainda não se sabe. “A gente tem duas preocupações: estar alinhados com o perfil do cotista do fundo; e sempre nos colocar uma pulga atrás da orelha sobre quais os riscos que a gente não sabe que a gente não sabe”. Para ele, a ciência não vai dar a certeza de nada e, por isso, sempre se perguntam na gestora qual o questionamento que não foi feito.
Como treinam os robôs?
Se os riscos operacionais são os mais importantes na indústria, o monitoramento das premissas do robô é fundamental para saber se elas continuam valendo, se os resultados estão dentro do esperado. E para isso, Rodrigo Maranhão afirma que é necessário ter uma base de dados muito extensa para entender se de fato aquela estratégia funciona em diferentes cenários.
Por sua vez, Isaías Lopes destaca que suas estratégias são pensadas em longo prazo, sempre interpretando os ruídos de curto prazo. “É preciso ser orientado para o longo prazo. Quanto mais curto prazo, provavelmente maior a deterioração de retorno”, diz o gestor da Pandhora, citando gestor dos Estados Unidos que usa cenários entre 30 e 50 anos para validar ou invalidar suas teses.
Outro aspecto debatido pelos gestores foi o modelo de fatores dentro da estratégia do fundo ou de uma carteira de investimentos. “Independente de fazer uma análise fatorial pura, faz sentido pensar também em fatores também em termos de riscos. Ter uma carteira com muitas ações não necessariamente se está diversificado em fatores”, explica o gestor da Canvas, citando que ter diferentes ações de exportadoras em carteira, por exemplo, a coloca em um mesmo tipo de exposição de mercado.
Dentro do modelo de fatores, o gestor da Kadima afirma que antes de montar um portfólio, primeiro pensam quais os riscos querem ter na carteira e quais fatores querem estar expostos. “Só daí que vou montar um portfólio”.
Uma indústria em crescimento
Com os investimentos em fundos quantitativos no Brasil em crescimento, o mercado está muito atento às estratégias das gestoras. Com 15 anos de atuação, a Kadima Asset é focada em estratégias quantitativas, com cerca de R$ 5 bilhões em ativos sob gestão distribuídos em 11 produtos – multimercados, ações long, ações long short, renda fixa e previdência.
De acordo Maranhão, a Kadima atua em três dimensões: decisões sistematizadas; automatização das execuções e metodologia científica para utilização das estratégias. “Se olharmos isoladamente para cada uma dessas dimensões, a estratégia deixa de ser quantitativa. Nós atuamos de forma ortodoxa dentro desses três eixos”.
Sócio fundador da Pandhora, gestora que iniciou atividades em 2016, Isaías Lopes explica que a casa utiliza uma mescla de duas situações: um método científico para validar hipóteses, mas com muita tecnologia. “Somos gestores sistemáticos, no sentido de as regras serem preestabelecidas dentro de um processo robusto, científico e validado ao longo dos anos”. A gestora oferece fundos multimercado, long bias, long bias ESG.
Francisco Funari é gestor do fundo Canvas Vector, um multimercado, e avalia que o mercado de fundos, de uma maneira geral, sofre com os altos juros do Brasil, que garantem um retorno fixo também alto no curto prazo. “No Brasil nunca foi necessário ter estratégia de diversificação pelos altos juros da renda fixa”. A Canvas, criada em 2012, é especializada em produtos alternativos.
Perfil profissional para atuar nas gestoras
Por fim, o tema que encerrou o painel foi sobre a capacitação necessária para trabalhar com fundos quantitativos e quais são os pontos fundamentais para a contratação de novos profissionais nas três casas. Em suas análises, os três painelistas apontaram que a formação em programação é mais interessante no perfil do profissional do que propriamente ser economista ou ter experiência em mercado financeiro.
“A gente espera que, eventualmente, a pessoa interessada tenha os conhecimentos de programação e de mercado, mas, principalmente, programação. O conhecimento acadêmico é mais importante que o econômico”, diz Funari.
Na Kadima, quase toda equipe é formada por engenheiros matemáticos e não tem economista. “Fazemos questão que todos saibam programar. A gente não costuma exigir conhecimento de mercado”, diz Maranhão.
*Reportagem de Fernando Antunes
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