Times
Empiricus Play

Magalu (MGLU3) versus Via (VIIA3): entenda o desempenho do setor de e-commerce na Bolsa

O analista da Empiricus Fernando Ferrer, responsável pela série “Melhores Ações da Bolsa”, compartilha sua visão sobre o setor e as empresas. Ele também avalia se se há ou não oportunidades de investimento

Por Melissa Bumaschny Charchat

30 mar 2022, 17:24 - atualizado em 30 mar 2022, 17:38

No setor do varejo, o crescimento do e-commerce tem gerado consequências para algumas ações no mercado. Nesse sentido, o analista da Empiricus Fernando Ferrer, responsável pela série “Melhores Ações da Bolsa”, destaca o comportamento de duas grandes empresas no setor de varejo: Magazine Luiza (MGLU3)Via (VIIA3), explicando como a atual conjuntura econômica têm influenciado para a queda dessas ações.

Crescimento do e-commerce: será que o segmento continuará valorizando?

A partir da análise dos índices de crescimento do e-commerce ao redor do mundo, tem-se uma média de 28%, sinalizando uma valorização do setor. “O e-commerce já vinha crescendo ao longo do tempo, mas com a pandemia, tanto as empresas quanto as pessoas viram uma necessidade de realizar compras on-line”, explica Fernando Ferrer.

Quanto ao crescimento do e-commerce por regiões, a América Latina ocupa o primeiro lugar, com um avanço de quase 37% em 2020, o que pode ser associado a dois motivos. O primeiro é a densidade populacional, dada a quantidade de habitantes nessa região, e o segundo diz respeito aos problemas socioeconômicos que geravam uma defasagem em relação a outras regiões.

Com a curva de crescimento do e-commerce na pandemia, esperava-se que esse índice seguiria aumentando, acelerando de fato o percentual do varejo on-line, mas não foi o que aconteceu. 

“Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, aquela taxa de crescimento pré-pandemia parece voltar ao normal, como uma reversão à média”. Ferrer constata que com a diminuição das restrições, as pessoas estão preferindo fazer compras presencialmente: “Na verdade, foi mais conjuntural e não estrutural”.

Como anda Magazine Luiza?

Em meio a esse contexto, Ferrer dá destaque a duas companhias e suas movimentações no 4T21. A primeira delas é a Magalu (MGLU3). “Ela tem um ecossistema muito bem estabelecido que une varejo, logística, serviços financeiros e conteúdo. É uma empresa bem plural que tem marcas conhecidas”, enfatiza. Contudo, o resultado observado no último trimestre e que persiste até o momento aponta para um cenário desafiador.

As vendas totais do Magazine Luiza no 4T21, quando comparadas com o mesmo período de 2020, apresentaram um crescimento de apenas 4%. “Uma empresa que víamos como um case de growth brasileiro, crescendo a taxas de 70, 80%, começou a reportar um crescimento muito baixo, abaixo inclusive da inflação”, comenta Ferrer. 

Já a receita líquida apresentou queda de 7% e a margem bruta se manteve estável. “Para uma inflação de dois dígitos, é uma velocidade de vendas muito baixa”, afirma Ferrer. O resultado operacional (Margem Ebitda), por sua vez, foi negativo, influenciado por diversos fatores, entre os quais a alta dos juros, a inflação, a queda do poder de compra dos consumidores, o aumento do dólar e o desemprego.

“O core business do Magazine Luiza, que é vender produtos de bens duráveis, não está alavancando porque está caro”, comenta o analista. Ele fala, ainda, sobre o índice Same-Store Sales, que consiste no quanto cada loja antiga vendeu, sem levar em consideração as lojas novas. 

Esse resultado foi de -23% para a Magalu. “As lojas são os potencializadores dos resultados do Magazine Luiza, e isso não se traduziu nesse quarto bimestre e ao que tudo indica o cenário vai continuar desafiador para o ano de 2022”, analisa.

E a Via (VIIA3) como está?

A segunda companhia abordada pelo analista é a Via (VIIA3), antiga Via Varejo, que também apresentou algumas dificuldades no 4T21. “Além de vender produtos linha branca, ela também tem a parte de móveis planejados, que está sofrendo com esse cenário”, explica Ferrer.

Ele aponta que o GMV total está em queda de 7%. Em meio a esse número, o GMV das lojas físicas caiu em 24%, assumindo um comportamento semelhante ao da Magalu nesse sentido. Já a participação das vendas digitais no total da Via teve um aumento significativo, de 47%. “Isso é pior para o business e para a rentabilidade”, comenta.

Ao observar a receita líquida, é vista uma queda de 14%. Com os índices de Ebitda Ajustado e lucro líquido não foi diferente, tendo ambos apresentado um movimento de queda. “Além de todo o problema de gestão trabalhista que a Via está tendo, ela também passa por essa dificuldade de vendas nas suas lojas e no seu market place”, aponta Ferrer.

O cenário desafiador para as empresas pode ser observado na curva de suas ações: ambas caíram consideravelmente ao longo dos últimos meses. Já ao longo da pandemia, esses papéis tiveram fortes valorizações.

Olhando para as ações: vale a pena comprar agora?

Após 2020, é vista uma queda vertiginosa da curva das ações, mas a Magalu, por exemplo, ainda negocia a 20x EV/Ebitda. “Mesmo depois de uma queda acentuada, as ações ainda estão caras quando comparadas com as de outras empresas de outros segmentos que não estão sofrendo tanto quanto o segmento do varejo”, comenta.

Ferrer finaliza dando uma dica aos investidores: “Nesse momento, em que os investidores focaram mais em empresas de valor e menos em empresas de crescimento, mesmo com esses múltiplos, acreditamos que essas empresas não estão tão favoráveis assim para se ter em carteira”.

Assista ao vídeo completo!

Jornalista em formação pela Faculdade Cásper Líbero, é integrante da equipe de conteúdo da Empiricus e já atuou em social media e redação.