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No radar dos gestores de fundos de renda fixa estão títulos de curto prazo indexados à inflação e papéis ligados à infraestrutura local

Gestores do Itaú, JGP e SPX falam sobre o contexto macro e revelam suas estratégias em renda fixa; confira onde eles enxergam melhores oportunidades de ganhos

Por Equipe Empiricus

01 abr 2022, 14:48 - atualizado em 16 maio 2022, 20:08

Desafios e oportunidades no Brasil e no exterior marcam a dinâmica da indústria de fundos de renda fixa ativa nesse ano. O cenário combina incógnitas sobre o tamanho e duração do aperto monetário nos Estados Unidos e Europa e a esperada volatilidade interna por conta da corrida presidencial no Brasil. No mercado doméstico, os próximos três meses devem voltar a registrar operações primárias com as incertezas externas deixando as emissões no exterior mais difíceis, enquanto o ciclo de alta das commodities cria oportunidades em operações de crédito fora do Brasil. Essas foram algumas das principais mensagens do painel sobre renda, da Semana de Fundos Vitreo nesta quinta-feira (31/03). O debate, com mediação do analista Bruno Mérola, da Empiricus, contou com a participação dos gestores Andrew Woods, do Itaú; Alexandre Muller, da JGP e Albano Franco, da SPX

As estratégias para surfar as incertezas têm sido papéis de curto prazo indexados à inflação, operações estruturadas e emissões ligadas à infraestrutura no mercado brasileiro e seleção de títulos de crédito de empresas específicas no exterior ligadas ao ciclo de alta de commodities.

No Brasil, o cenário de referência combina inflação alta e juros em patamar alto até dezembro sem redução da Selic, afirmou Andrew Woods. A expectativa é de que, em março e abril, o IPCA fique acima de 1% em cada um dos meses. “Em maio, já pode haver uma redução de bandeira nas tarifas de energia e a valorização do real pode contribuir para a inflação ceder lentamente. Difícil ver uma redução da Selic neste ano com a inflação já quase no centro da meta em abril”, afirmou o gestor, que estima que a Selic possa encerrar 2022 em 12,75% ao ano ou um pouco mais. Uma estratégia vencedora, segundo ele, é aplicar em juros reais. O ano traz ainda a corrida presidencial, o que deve criar volatilidade e incerteza sobre os ativos. “Quando começar a campanha, no segundo semestre, o cenário deve ficar mais complicado”, avalia.

O cenário externo é desafiador. A inflação anualizada nos Estados Unidos está em 7,6%, em 7% na Alemanha e em 10% na Espanha. Isso aponta que os Bancos Centrais terão de apertar os juros para reduzir essas pressões sobre os preços. O tamanho e a extensão do aperto são incertezas. Isso pode criar oportunidades no Brasil, uma vez que o mercado doméstico passa a ser uma opção de financiar projetos em um momento em que a janela externa se torna mais difícil de acessar. “No mercado doméstico, o pipeline de operações primárias cresceu em março, voltou a atividade de emissão de dívida com o offshore fechado, devemos ver um aumento de ofertas nesses próximos três meses”, afirmou Alexandre Muller, gestor da JGP. Já no mercado externo, por conta das incertezas em relação ao aperto monetário nos Estados Unidos e na Europa, a extensão do conflito entre Ucrânia e Rússia, a gestora está bastante cautelosa. “Ainda estamos buscando entender o ajuste dos bancos centrais lá fora, como o mercado é muito mais pré-fixado, estamos bem cautelosos no offshore. Aqui se vê uma oportunidade desde o fim do ano passado de elevar a indexação com papéis atrelados ao IPCA de curto prazo e há muitas oportunidades de crédito estruturado no Brasil, com muita coisa vindo.”

Outra oportunidade no mercado de dívida local está na área de infraestrutura. Nos últimos meses, o governo federal tem concedido diversos projetos em vários segmentos, como saneamento, linhas de transmissão de energia elétrica, rodovias, terminais portuários e a gestão de um terminal portuário público. A lista aumentará, com leilões previstos de transportes, saneamento e energia nos próximos meses. Isso fará com que os controladores dos projetos tenham de financiar os projetos com uma parte de emissão de dívida local, como debêntures de infraestrutura, que contam com a isenção de Imposto de Renda de ganho de capital para o comprador dos papéis. “Para cada real de equity colocado em um projeto, dois ou três reais são exigidos de dívida, esse mercado sempre vai existir. Não me preocupo com oferta de crédito”, destacou Albano Franco, gestor da SPX. Mesmo que o resultado da eleição marque a retomada da relevância dos bancos públicos, o mercado de capitais deve ter papel importante no financiamento desses projetos. Com o cenário de inflação em alta, o retorno desses títulos tende a ser mais alto. 

Se há oportunidades, existem também desafios a serem superados. O cenário brasileiro enseja cautela com a combinação de inflação alta, crescimento mais baixo, aperto monetário no país e no exterior e a disputa presidencial. “Entramos nessa crise com balanços bons, mas com juros de 15% a 16% ao ano para empresas já se começa a escutar de que algumas empresas poderão ter problemas, mas ainda nada que seja muito grave”, disse Albano, da SPX.  

Para ele, o mercado de crédito no exterior tem oportunidades que não estão no radar de quem investe apenas em alternativas domésticas. Empresas internacionais que estão ligadas ao ciclo de alta dos commodities são um exemplo. “A debênture de Petrobras não rende muito além do CDI, mas há papéis de empresas estrangeiras ligadas ao petróleo que podem ter atratividade elevada. Ter uma carteira comprada em empresas específicas tem sido uma estratégia que tem se provado correta nesse início do ano, mesmo com o índice dos países emergentes em queda de 10%.” 

*Reportagem de Roberto Rockmann

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