Investimentos

Ações de empresas que repassam preços, commodities e bancos são principais alvos de gestores de fundos com que investem no exterior

Na Semana de Fundos da Vitreo, gestores da O3, IP e Pimco comentaram quais são os ativos preferidos para as carteiras dos fundos com foco no exterior

Por Equipe Empiricus

01 abr 2022, 14:55 - atualizado em 17 maio 2022, 00:01

Guerra entre Ucrânia e Rússia, ciclo de alta de commodities, inflação em alta, aperto monetário nos Estados Unidos e Europa, maiores gastos fiscais e subsídios na Europa para a população conviver com o menor poder aquisitivo. Esse cenário cria desafios e oportunidades para fundos que investem em ativos no exterior. Essas foram algumas das principais mensagens do painel de fundos com foco internacional, da Semana de Fundos Vitreo, nesta sexta-feira (01/04). O debate, com mediação de Laís Costa, analista da Empiricus, contou com a participação de Norman Khan, da gestora O3; Gabriel Raoni, da IP, e Flora Meirelles, da Pimco

As estratégias para obter retornos tem sido garimpar ações de empresas que tenham poder de repasse de preços ou sejam mais resilientes no cenário de incertezas, acompanhar oportunidades ligadas à economia da China e acompanhar emissões de setores que combinem solidez e lucros, como o financeiro, que depois da crise do subprime de 2008 reforçou sua estrutura de capital.

O cenário macroeconômico internacional inspira cautela, segundo os gestores. A principal razão é a incerteza em relação à postura do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos em relação ao tamanho e à duração do aperto monetário na maior economia mundial, cuja inflação anualizada em 12 meses está em 7,6%, com a maior pressão de preços de energia sobre o bolso dos consumidores em 40 anos. A guerra entre Ucrânia e Rússia trouxe ainda mais incertezas por pressionar preços de alimentos, já que os dois países são grandes exportadores de grãos. 

“O Fed vive o dilema de qual será o aperto monetário mais suave para provocar uma aterrissagem suave e não uma recessão na economia”, afirmou Flora Meirelles, da Pimco. No cenário de referência da gestora global, trabalha-se com a hipótese de que o Fed conseguirá evitar inércia inflacionária e descontrole de preços sem grandes impactos ao crescimento dos Estados Unidos, mas ela ressalta que o risco de um cenário alternativo não é desprezível. “Estamos cautelosos, não sabemos se a curva de juros futura sofrerá uma inclinação ou uma inflexão ainda”, observou.  

Norman Khan, da O3, destacou que a inflação nos Estados Unidos deve se situar entre 4% a 4,5% neste ano, com os juros podendo superar 3%. “A Bolsa dos Estados Unidos está andando bem e se recuperou muito bem nos últimos 30 dias, o que pode indicar um Fed mais livre para atuar no aperto monetário porque o mercado está reagindo bem às incertezas.”

Sob esse panorama de incertezas macroeconômicas, Gabriel Raoni, da IP, aponta que a gestora tem buscado aplicar em empresas com poder de repasse de preços nos setores em que atuam. Um exemplo é a Mastercard, que recebe 0,2% de cada transação efetuada sob sua bandeira nos mercados em que está inserida. “É como pagar um pedágio no mundo”, analisou. Outra opção são empresas que oferecem serviços essenciais para pessoas e companhias, caso da gigante tecnológica Microsoft. “Ela é uma tech utility company, com um amplo poder de repasse de preço porque as pessoas dependem dos serviços dela.” Raoni destacou que é importante que o investidor tenha disciplina. “Não pagar muito pelo futuro é importante”, disse. Ele também ressaltou que a resiliência da economia dos Estados Unidos é muito maior que a brasileira, por exemplo, com liderança em energia, tecnologia, agricultura e commodities.

A guerra entre Ucrânia e Rússia também deverá ter impacto sobre o setor de energia, além da alta dos preços do petróleo. A economia alemã, maior da Europa, depende de gás russo. Países europeus estão trabalhando para reduzir a dependência com a Rússia, que chega a responder por 40% da demanda de algumas nações da União Europeia. Isso levará a maiores investimentos em energias renováveis. “Isso será um movimento forte na Europa”, afirmou Flora. Norman Khan, da O3, destacou que a transição energética se combina a um cenário de rearranjo de forças geopolíticas com um pano de fundo com inflação alta, juros elevados e resposta fiscal crescente. “Muitos desses países tiveram eleições apertadas e esses regimes políticos poderão fazer concessões porque as pessoas reclamarão da perda de poder aquisitivo e medidas que ajudem 2% a 3% da população passam a ter importância em cenários polarizados.”Com essas referências, Norman diz que a gestora segue mantendo posições na alta de juros nos Estados Unidos e Europa e buscando posições em ativos de emergentes. “Estamos comprados em commodities, seja em petróleo, seja em ativos ligados à transição energética. E a China oferece oportunidades, há empresas europeias com negócios no país asiático e alta exposição a eles ou ativos lá mesmo em setores que têm grande potencial de crescimento”, observou o gestor. 

Outra opção são empresas resilientes aos setores e com grande margem de receita. Um exemplo é a Transdigm, que fornece peças essenciais para aeronaves. “Tem margem operacional de 40%, se mostrou muito resiliente em um momento em que o setor aéreo foi afetado, não é uma companhia aérea e é uma das maiores fornecedoras do mundo de seus produtos, com poder de mercado”, destacou.

Flora Meirelles, da Pimco, ressaltou oportunidades em ações de empresas do setor financeiro. Depois da crise do subprime em 2008, a exigência de capital das instituições foi ampliada e houve reforço dos processos de compliance. “Eles estão com três a quatro vezes mais capital e estão com boa precificação”, disse. Outras ações no radar são de empresas ligadas à hotelaria, a parques de diversão, cassinos e jogos. “Não se recuperaram ainda, mas há uma retomada lenta, há prêmios interessantes e o importante é selecionar boas empresas nessa categoria.”

*Reportagem de Roberto Rockmann

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