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3R e Enauta: por que o novo acordo de acionistas não agradou o mercado? Veja o que fazer com a ação

Após o anúncio sobre o acordo, as ações de ENAT3 e RRRP3, mas ainda vemos potencial para 3R Petroleum; entenda

Por Larissa Quaresma, CFA

29 maio 2024, 10:40 - atualizado em 29 maio 2024, 11:13

enauta (ENAT3) e 3R Petroleum (RRRP3)
Imagem: Montagem/Empiricus

Há alguns dias, a 3R Petroleum (RRRP3) anunciou a celebração de um novo Acordo de Acionistas entre os proprietários da companhia combinada com a Enauta (ENAT3). O acordo obriga os acionistas de referência de ambas as empresas a votarem a favor da combinação na assembleia geral marcada para 17 de junho, mas trouxe poucos mecanismos de alinhamento de interesses de longo prazo entre os maiores donos e os minoritários.

Isso acabou desagradando ao mercado (assim como a nós), o que pode explicar a reação negativa das ações nos últimos dias.

Esta situação gerou descontentamento no mercado, refletindo-se na recente reação negativa das ações, um sentimento que compartilhamos. Os papéis de Enauta caíram 3,3% após o anúncio e os de 3R, 2,6%.

Fonte: 3R Petroleum.

Quem são os acionistas de referência da empresa combinada entre 3R e Enauta?

A nova empresa terá como acionistas de referência as famílias Gerdau e Queiroz Galvão, a Maha Energy e os antigos credores da Enauta, Bradesco e Jive Investimentos.

Embora seja positivo que esses acionistas tenham se comprometido a votar a favor da incorporação da Enauta pela 3R, a ausência de um compromisso formal de longo prazo entre eles gerou descontentamento.

Em grandes processos de fusão, é prática de boa governança que os acionistas de referência ou controladores se comprometam a permanecer na empresa por um período prolongado.

Por exemplo, na fusão entre Droga Raia e Drogasil, que deu origem à RaiaDrogasil em 2011, os acionistas de referência estavam proibidos de vender suas ações por 10 anos, e esse acordo foi renovado por mais 10 anos em 2021.

Ou mesmo no caso da fusão Arezzo &Co e Grupo Soma, em que os acionistas representantes de 36% da nova empresa terão vedação à venda de ações (essa vedação é chamada de lock-up).

Cláusula de lock-up da fusão entre Enauta e 3R poderia ser menos restritiva

No caso da fusão entre Enauta e 3R, esperávamos um lock-up menos restritivo, considerando que a maioria dos acionistas de referência da Enauta são ex-credores (Bradesco, Jive).

Essas instituições se tornaram acionistas através da conversão de dívidas em participação, então é esperado que eventualmente vendam suas ações. No entanto, isso não se aplica a todos os acionistas da companhia combinada.

As famílias Gerdau, Queiroz Galvão e até mesmo a Maha Energy poderiam, em teoria, ter uma visão de longo prazo. Contudo, nem esses acionistas possuem um lock-up no acordo proposto.

Segundo o Brazil Journal, os acionistas ex-credores não teriam interesse em vender suas participações no curto prazo, por isso não viram a necessidade de um compromisso de lock-up. Contudo, acreditamos que seria prudente incluir algum tipo de vedação, mesmo que não envolva os ex-credores, mas que se aplicasse às famílias Gerdau e Queiroz Galvão. No entanto, não estamos contando com isso.

Ainda vale a pena investir em RRRP3?

Em nossa visão, a penalização sobre as ações foi exagerada. A RRRP3 cai em torno de 18% em maio até agora, levando seu múltiplo EV/EBITDA 2024 para 3,6x, um nível bastante atrativo.

Além disso, a tese de investimento permanece sólida: junto com a Enauta, a 3R terá uma escala relevante, o que deve resultar em benefícios de eficiência e rentabilidade.

Além de 3R Petroleum, neste relatório gratuito, recomendamos outras 10 ações para investir agora.

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.