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A encruzilhada da Bolsa: o que está em jogo? Saiba onde investir ainda em 2022

Cenário pós-eleições é incerto e compromete apostas na economia brasileira; é possível pensar em boas ações nacionais ainda para este ano? Analista faz suas recomendações

Por Mara Mendes

29 nov 2022, 16:23 - atualizado em 20 dez 2022, 17:27

Montagem de foto do Lula com gráficos econômicos ao fundo
Imagem: Getty Images/ Montagem: Julia Shikota

Desde que Lula (PT) venceu as eleições, o mercado vem se mostrando bem preocupado. Afinal, o que será que será? O cenário incerto agora parece comprometer até mesmo o panorama atrativo da Bolsa de Valores brasileira em comparação com o restante do mundo. 

Diante dessa realidade de transição, pensar em onde investir seu dinheiro exige ainda mais rigor. É possível pensar em ações seguras para alocar seu dinheiro ainda neste ano? 

Qual é a realidade dos investimentos brasileiros hoje? 

Na órbita brasileira atualmente pairam três pontos positivos: ativos com desconto, o ritmo de aperto monetário desenvolvido e a inflação baixando. A união destes fatores foi responsável para que, frente às outras bolsas internacionais, a Bolsa brasileira alcançasse um bom desenvolvimento em 2022. 

Prova disso é a valorização de 7.47% do IBOVESPA até o momento, contra a queda de 17.67% do S&P 500, índice que reúne as 500 maiores empresas de capital aberto norte-americanas. 

Na visão do analista Matheus Spiess, da Empiricus, os ativos brasileiros hoje têm bons descontos justamente por uma certa resolução da questão fiscal, que impactava diretamente na curva de juros e consequentemente na precificação dos ativos. “Esse problema foi de certa maneira reduzido quando chegamos ao final do ciclo de aperto monetário”, explica.

Aperto monetário? Hoje o Banco Central já subiu até o momento tudo que podia para ancorar a inflação e as expectativas de inflação. Por outro lado, o processo em outros países ainda está acontecendo e deve continuar ao longo dos próximos meses. Assim, o Brasil já está numa discussão que alcança o “quando vamos reduzir o juros?”, à frente do estrangeiro, detalhou Spiess. 

Além disso, há ainda o terceiro ponto. Para o analista, o Brasil está crescendo e a inflação caindo, enquanto o resto do mundo diminui a projeção de crescimento para este ano, com inflação ainda em patamares muito altos. Ao mesmo tempo, a arrecadação também deu alguma folga fiscal, acrescenta. 

Um cenário chamativo vem dessa perspectiva. Quais seriam, então, os problemas para o mercado? 

O temor pós-eleições: o calcanhar de aquiles do mercado atualmente

O problema em questão não se dá por agora. O Brasil parece atrativo. O que preocupa, segundo Matheus Spiess, é o quadro fiscal pós-eleição. “A gente tem uma PEC de transição complicada, que está sendo negociada agora no Congresso, falta de perspectiva sobre quem vai ser o Ministro da Fazenda e o Ministro de Planejamento e a gente não sabe qual será a nova regra fiscal que vai suceder o teto de gastos”, detalha.

A incerteza foi responsável por proporcionar ao longo de novembro correções na Bolsa brasileira. Os gastos acima do teto, esperados pelas últimas declarações de Lula, preocupam: “toda vez que perde-se a credibilidade de ‘bom pagador’ o Brasil paga mais juros. Pagar mais juros significa que aumenta o serviço da dívida brasileira”, explica Spiess.

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Ultrapassar esses desafios fiscais seria, portanto, essencial para que o Brasil surfasse a onda de pontos positivos acumulados citados anteriormente, na opinião de Spiess. Além disso, ele menciona que o Brasil poderia se encaixar também como um parceiro estratégico dos EUA e Europa, e ao mesmo tempo manter seus laços comerciais com a China, em um momento que o mundo “redesenha” suas cadeias. 

“O mundo está precisando de energia, de alimento, o Brasil tem energia, alimento, ativos descontados, já está um passo à frente no aperto monetário e, basicamente, parte de uma boa arrecadação, de um bom crescimento com a inflação caindo. Tem desafios, como a gente está observando agora, mas tem muitas oportunidades”, definiu. 

Será que o compromisso social defendido por Lula atrapalha o mercado?

Estaria o mercado se posicionando contra investimentos sociais? Lula sempre defendeu uma maior preocupação com investimentos sociais e os planos para 2023 não parecem caminhar para longe disso. Mas, segundo Spiess, o mercado não vai contra a ideia.

“Não tem problema investimento social. Eu entendo que um país como o Brasil, que é pobre, precisa desse tipo de investimento. O mercado entende isso. É até bom, porque quando bem feito o programa social, aumenta a renda real ao longo do tempo. Qual é o problema? O problema é que toda vez que você  gera mais gastos você precisa de um comprometimento de receita”, afirmou.

Casar receita com despesa é o movimento categórico para a questão. Caso isso não receba a atenção que merece, o endividamento brasileiro aumentaria muito e o prejuízo, hora ou outra, voltaria para o bolso dos menos favorecidos. Por isso, para o analista, é essencial “ancorar bem as expectativas” para lidar com essa realidade fiscal delicada. 

Ainda assim é possível pensar em boas ações para investir ainda em 2022

Apesar da  situação delicada, nada impede que se pense em posicionamentos na Bolsa brasileira atual. A questão chave para Matheus Spiess é: o investidor não pode só ter ações. 

Ele destaca que é essencial para o investidor ter caixa, bons títulos de renda fixa, dólar e ouro antes de tudo agora. Mantendo essas estratégias de segurança, é possível se posicionar em ações.

Essa fatia de ações varia a depender do perfil do investidor. Boas opções, segundo o analista, são as commodities brasileiras. “3R (RRRP3) e Gerdau (GGBR4) são dois nomes que nós gostamos”, afirma. Cosan (CSAN3) e Vale (VALE3) também são recomendadas por ele.


Partindo para as varejistas, Arezzo (ARZZ3) e Centauro (SBFG3) se destacam. Dentre os bancos, BTG Pactual (BPAC11) e Itaú (ITUB4) são as apostas de Spiess. As estatais ficam de fora, por ora, por conta do ruído político. Uma carteira diversificada é possível e recomendada.

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Sobre o autor

Mara Mendes

Jornalista em formação pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Já passou pelo Jornal da USP, Rádio USP FM, Jornalismo Júnior, LabCidade FAUUSP, Veja São Paulo e escreve, atualmente, para o Money Times e Seu Dinheiro.