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A ignorância é uma benção

Como empreendedor há mais de duas décadas, tenho convivido com o papel paradoxal da ingenuidade no empreendedorismo.

Por Caio Mesquita

22 jul 2024, 09:30 - atualizado em 22 jul 2024, 09:30

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Imagem: Pixabay

Tough of the track with the wind

And the rain that’s beating down on your back

Your heart’s beating loud

And goes on getting louder

And goes on even more ‘til the sound is ringing in your head

With every step you tread and every breath you take

“The Loneliness of the Long Distance Runner” – Iron Maiden (Steve Harris)

Neste mês de julho, tenho passado dias em casa sozinho.

Com três filhos em idade escolar, aproveitamos as férias e alugamos uma casa na Espanha para curtir o verão europeu durante as férias da criançada.

Enquanto a Larissa está ficando o tempo todo por lá, eu voltei a São Paulo já que as responsabilidades do trabalho me impedem de passar tanto tempo fora do escritório.

Ao final, voltarei para me juntar à turma e passar os últimos dias do veraneio internacional por lá.

Por aqui, depois de dar boa noite por vídeo-chamada aos meus amores, somente as cachorras têm me feito companhia em casa.

Normalmente barulhento com a atividade dos pequenos, o lar tem ficado desconfortavelmente calmo.

Eletrônicos e livros distraem, mas não confortam a mente que, sem interlocutores, gira em pensamentos circulares, tentando dar ordem aos temas que me cercam.

Aproveitando o tempo e o espaço incomuns, confesso que tenho gasto mais tempo do que devia surfando os vídeos que o algoritmo do Youtube seleciona.

Depois de assistir a trechos de um show de 1973 do Black Sabbath, em Paris, e acompanhar uma longa análise dos inacreditáveis erros do Serviço Secreto Americano durante o atentado a Donald Trump, fui apresentado a Jensen Huang, fundador e CEO da Nvidia, em uma entrevista que ele concedeu no ano passado.

A conversa foi com a dupla do excelente podcast Acquired. Durante o papo, o taiuanês comentou que, se soubesse das dificuldades que enfrentaria ao iniciar a Nvidia, talvez nunca tivesse começado.

Huanga classificou como uma benção essa ingenuidade inicial que permitiu que esse se lançasse na sua exitosa aventura empreendedora.

A ingenuidade protege o empreendedor da dura realidade de iniciar um negócio, com amplas e desfavoráveis estatísticas, ao mesmo tempo em que o isola em uma bolha de otimismo.

Como empreendedor há mais de duas décadas, tenho convivido com o papel paradoxal da ingenuidade no empreendedorismo. 

Por um lado, essa ingenuidade, de certa forma ignorante, encoraja as pessoas a explorarem o desconhecido sem se deixarem abater pelas dificuldades. Por outro, permite que os empreendedores mantenham-se altivos mesmo diante dos inúmeros obstáculos enfrentados cotidianamente.

A ingenuidade dos empreendedores serve tanto como uma faísca quanto como um escudo, impulsionando-os adiante e protegendo-os de realidades desanimadoras.

Como Huang nos lembra, se o empreendedor soubesse dos riscos que enfrentaria, sua decisão racional certamente seria desistir, posto que a relação risco/retorno é amplamente desfavorável.

Edward Murrow, jornalista americano que se notabilizou por sua cobertura da Segunda Grande Guerra, recordava que não descendemos de homens medrosos, já que somente os bravos prevaleciam e deixavam sucessores.

Felizmente, não somos racionais em nossas decisões e, assim, seguimos em frente, enfrentando e mudando o mundo que herdamos.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus