Investimentos

A parte que te cabe deste latifúndio

Marketing agressivo – diriam alguns. Eu chamo de mercado desenvolvido.

Por Equipe Empiricus

16 jun 2017, 10:18

Você pode salivar frente a propaganda de hambúrguer. Eu perco a compostura com anúncios de empresas de investimento em revistas estrangeiras. Tiro print, mando para os amigos.

O mais recente a me encantar é da americana Charles Schwab. Ela anuncia seus ETFs, com taxa de 0,03 a 0,05 por cento ao ano, em uma tabela comparativa com a concorrente, Vanguard, e seus produtos com custo que vai de 0,04 a 0,18 por cento.

Marketing agressivo – diriam alguns. Eu chamo de mercado desenvolvido.

Enquanto isso, do lado de cá, somos acusados de agressivos por expor fundo DI, também indexado, de taxa 5,5 por cento ao ano. Mesmo dentre os ETFs, os custos aqui ficam a partir de 0,2 por cento ao ano.

A discrepância de agendas é evidente. Enquanto no Brasil as vedetes são os rankings de rentabilidade, fora o debate é sobre custos. Oito de cada dez matérias que leio na imprensa estrangeira especializada em fundos tratam de preço, não retorno.

E nós aqui vendendo água mineral no deserto.

Um estudo da Morningstar com os 2 mil maiores fundos globais mostra uma estabilidade de custos ano a ano de 2013 para cá – a taxa média é 0,72 por cento.

Quando a conta é feita ponderada pelo patrimônio investido, entretanto, a figura muda. O investidor diminuiu o que paga, em média, de 0,65 por cento em 2013 para 0,57 por cento em 2016. O declínio, diz a Morningstar, resulta claramente da migração de investidores de produtos caros para baratos. Uma hora o cachorro vai ter que correr atrás do rabo.

Esses dias fui procurada pelo representante no Brasil de uma gestora global de 5 trilhões de dólares que teve a brilhante ideia de patrocinar a Empiricus. “Incrível como só vocês levantam o debate de custos no Brasil”, disse para mim.

“Patrocínio não aceitamos” – devolvi. O que eu teria que dizer, como contrapartida, sobre o fundo da gestora? “Mas elogios são bem-vindos, obrigada”.

Por que os ETFs não decolam em terras onde tudo que se planta dá? Aqui esse ainda é um mercado de 4,6 bilhões de reais, 0,14 por cento da indústria de fundos.

O Itaú tem uma das melhores gestoras que eu conheço no comando da área de fundos indexados. A forma como o banco toca o segmento de ETFs, entretanto, me parece aquele relacionamento que você deixa a em banho-maria: não avança, mas também não corta. Se aparecer concorrência, aí você já está meio caminho andado.

Dá para descolar uma propaganda em que as vovós trocam ideias sobre ETFs?

“Como vender algo que tem nome de sigla e que é tão complexo para o varejo?” – já ouvi. PGBLs e VGBLs são alguns dos produtos mais intrincados que eu conheço, cheios de especificidades, e vendem que são uma beleza.

Cadê os ETFs de renda fixa? Todos os gestores à espera da licitação do Tesouro. A regulamentação já está toda posta. Nenhuma alma disposta a ser pioneira? Deve ter algum grupo de trabalho por aí estudando como combinar o ETF com o sorteio de um carro.

“Nossa filosofia básica é perguntar: ‘Quem está sendo ferrado, onde e por quê? Vamos sair e resolver esse problema” – dizia um dos executivos do Charles Schwab segundo o livro de John Kador que roubei da mesa do Felipe (já devolvo).

Enquanto outras partes da indústria de serviços financeiros parecem olhar para a ignorância dos clientes como um centro de lucro, Schwab assume que os clientes a que ele serve são inteligentes e racionais, conta Kador. Adoraria ver isso por aqui.

Não é caridade, ao que me parece. Charles Schwab tem 2,5 trilhões de dólares sob gestão – mais que o dobro da indústria de fundos brasileira inteira.

O último grande gestor brasileiro que criticou uma de nossas campanhas contra fundos DI caros argumentou que deveríamos pagar pela solidez de um banco, assim como se remunera um restaurante no Rio pela paisagem.

Já comi uns bons croquetes com cachaça em Santa Teresa, com a mesma vista, sem ter que esvaziar a carteira, mas vou deixar isso de lado por ora para argumentar que seu dinheiro sempre acaba em um grande banco.

Um de meus fundos indexados ao CDI preferidos, com taxa de 0,2 por cento ao ano e aplicação mínima de 1 mil reais, tem a Órama como gestora. Talvez você não se sinta confortável para deixar lá sua reserva de emergência. Sugiro que espie o regulamento – a custódia é no Bradesco, é lá que fica o dinheiro.

Com 1 mil reais, se você não for eliminado antes da porta giratória, sua reserva de emergência repousa em um fundo de taxa 2 por cento ao ano no Bradesco. Se for Prime, aí a opção é acumular até 5 mil reais na poupança mesmo.

“Todo mundo deveria ir ao banco pelo menos uma vez na vida. Mas para assaltá-lo”, diz o personagem de Alan Pauls em História do Dinheiro.

Não sejamos assim tão selvagens. Podemos atravessar a porta giratória como acionistas – o Rodolfo já multiplicou um investimento por 15 vezes com uma recomendação envolvendo um banco.

Difícil focar nos custos, fato, quando a série política ganha novas temporadas. A sexta pós-feriado sofre pressão do apelo do presidente FHC para que as eleições sejam antecipadas e da decisão da Procuradoria Geral da República de adiar a denúncia contra Temer. Haja pipoca até o episódio da reforma da previdência (será que vai ao ar?).

Indicadores de inflação em queda, por sua vez, refletem-se nas perspectivas para os juros, alimentando no mercado sentimento de que o Banco Central pode pegar mais leve do que tem entoado e, quem sabe, cortar mais um ponto percentual da taxa básica de juros na reunião de julho.

A agenda econômica local tem IBC-Br, que dá sinais sobre a evolução da atividade econômica – o indicador mensal ficou em linha com o esperado, mas o anual, pior.

No mercado americano, enquanto aproveitávamos o feriado, dólar perdia força e os juros para dez anos batiam as mínimas ressoando uma inflação abaixo do esperado, ainda que o Fed tenha aumentado juros e se posicionado com confiança sobre a recuperação econômica. Nas bolsas, seguiu-se o movimento de realização de lucros, puxado por gigantes da tecnologia (Apple, Amazon, Facebook e Netflix).

Agenda americana hoje tem indicador de construção e leitura preliminar de sentimento do consumidor.

Bolsas asiáticas, com exceção de Xangai, fecharam em leve alta, de carona na decisão do BC japonês de manter política monetária frouxa.

O petróleo fechou no positivo, mas ainda acumula perda de 2,1 por cento na semana, enquanto commodities metálicas tiveram semana de valorização.

Ibovespa futuro começa o dia com queda de 0,4 por cento, dólar sobe 0,3 por cento contra o real e juros futuros estão predominantemente em queda, mas próximos à estabilidade.

Você pode reduzir os custos e navegar o cenário econômico sem grandes solavancos ao montar seu próprio portfólio com uma ajudinha da Carteira Empiricus.

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