Investimentos

Ações americanas: “Podemos encerrar o ano com valorização de dois dígitos nos índices”, afirma analista da Empiricus Research

Segundo Enzo Pacheco, dezembro é tipicamente o melhor mês do ano para as ações americanas.

Por Nicole Vasselai

02 dez 2024, 14:55 - atualizado em 02 dez 2024, 14:59

valorização ações americanas

Imagem: iStock/guvendemir

Novembro foi um mês muito próspero para as ações americanas. Na esteira da vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, as maiores valorizações vieram do Dow Jones Industrial Average, que teve seu melhor desempenho mensal do ano e subiu 7,54%, e do Russell 2000, que mede o desempenho das pequenas empresas nos Estados Unidos e registrou uma alta de 10,8%.

Segundo o analista de mercado internacional Enzo Pacheco, da Empiricus Research, os investidores compraram principalmente aquelas teses que haviam ficado para trás no ano.

Gráficos 1 e 2. Performance (em base 100) dos principais índices americanos em novembro e no ano de 2024 (até 27 de novembro de 2024) | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Para analista, valorizações das ações americanas estão ‘apenas começando’

“Apesar de, para alguns, parecer tarde demais, a verdade é que a partir de agora algumas teses que antes estavam somente negociando com a ideia de um governo mais favorável às criptomoedas passaram a ter mais substância. Ainda que o potencial de valorização seja menor, fato é que esses negócios também devem apresentar uma relação risco-retorno ‘menos volátil‘”.

Na visão do analista, o desempenho dos índices nas últimas semanas tornam ainda mais clara a predisposição ao risco por parte dos investidores. “O principal beneficiário no período foi o bitcoin — devido às promessas de Trump de uma legislação mais amigável às criptomoedas no seu mandato”, destaca.

“Apesar dos prognósticos, as chances são de que encerremos o ano com mais um ganho de dois dígitos nos principais índices americanos“, avalia Pacheco.

Gráfico 3. Performance por classe de ativo (em %), em novembro/24 (verde claro, vermelho) e no ano (verde escuro, vinho) | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Força da inflação americana ainda preocupa

Por outro lado, Pacheco reforça que, mesmo com a alta recente, alguns riscos permanecem no mercado atual.

“O principal deles segue sendo a resiliência da inflação americana. O PCE (preços de gastos de consumo pessoal) de outubro, divulgado ao final de novembro, veio no geral em linha com as estimativas dos analistas: alta de 0,2% na leitura mensal (+0,2% esperado, +0,2% anterior) e 2,3% (+2,3%, +2,1%) na anual para o indicador cheio, e de 0,3% (+0,3%, +0,3%) e 2,8% (+2,8%, +2,7%) para o núcleo”, ressalta.

Outro fator que preocupa, ele cita, é que, no curto prazo, o indicador tem mostrado aceleração, com a leitura do núcleo do PCE dos últimos três meses também ficando nos 2,8%, comparado com 2,4% nos três meses encerrados em setembro.

Além disso, a medida do “super-núcleo” de serviços do PCE (que exclui alimentos, energia e gastos com moradia), foi de 0,4% em outubro.

“O presidente do Fed, Jerome Powell, tem pontuado que este é o principal indicador de inflação futura no momento, mas as últimas leituras mostraram que ele está se movendo na direção contrária à desejada: a leitura anual veio nos 3,5%, ante 3,2% em setembro”, explica o especialista.

“Por outro lado, a segunda leitura do PIB do terceiro trimestre indicou alta de 2,8%, conforme as projeções e no mesmo patamar da primeira divulgação, indicando que a economia americana ainda não parece ser uma fonte de preocupação para os investidores (mas a sua força pode continuar dificultando uma queda mais significativa nos índices de preços)”.

Fed pode reduzir ou parar cortes de juros americanos?

Essa preocupação com a inflação, aliás, foi pontuada na minuta da última reunião do Federal Reserve, divulgada na semana passada.

“Apesar de entender que os riscos entre uma desaceleração econômica e uma reaceleração nos índices de preços seguem balanceadas, diversos membros do Fed pontuaram que pode ser necessário rever os próximos passos da política monetária — reduzindo ou até mesmo parando os cortes nas taxas de juros“.

Segundo o analista, após precificar uma probabilidade de mais de 80% de um corte de 0,25 ponto percentual um mês atrás, os investidores agora reduziram essa chance para algo perto de 65%. A manutenção dos juros no patamar atual (entre 4,5% e 4,75%) viu a probabilidade dobrar nesse mesmo período.

Ainda que parte da dúvida em relação aos juros esteja ligada ao fato de qual seria a taxa de juro neutra atualmente (com alguns membros do Fed indicando que ela pode ter aumentado em relação ao passado recente), de acordo com Pacheco a instituição ainda enxerga a inflação atingindo a meta de 2% em 2026.

Dezembro costuma ser o melhor mês do ano para ações americanas

“Para dezembro, a dinâmica parece se manter positiva para os ativos de risco, com os ‘espíritos animais’ firmes e fortes para o final do ano – o S&P 500 atingiu uma nova máxima 53 vezes no ano, enquanto o Dow atingiu em 47 oportunidades”, acrescenta Pacheco.

Isso porque, segundo estudo da Ned Davis Research, em anos que o S&P 500 teve valorizações superiores a 20% até novembro (como no caso de 2024), o mercado se valorizou 76% das vezes em dezembro, auferindo um ganho médio de 2,1%.

Ainda de acordo com a análise, o mês de dezembro é tipicamente o melhor do ano para índices americanos, com o ganho observado no cenário acima não sendo muito diferente de um mês usual.

Uma explicação para essa continuidade do movimento, segundo Pacheco, é que um ano de forte alta dificulta a estratégia de vender determinados ativos para reduzir o imposto devido no próximo ano (‘tax-loss harvesting’).

Por fim, o analista garimpou para dezembro 10 BDRs (papéis de ações internacionais negociados na B3) com bom potencial de valorização. Confira a lista gratuitamente aqui.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.