Em um ano complicado para o varejo de moda, algumas companhias do setor sofreram mais que a média. É o caso da Marisa (AMAR3), que viu suas ações despencarem 50% em 2023.
Levando em consideração uma janela maior de tempo, a fase ruim é ampliada: nos últimos 12 meses os papéis caíram cerca de 75%. Desde o dia 21 de fevereiro de 2020, a queda é de 95%.
O que explica a queda brusca nas ações da varejista?
De acordo com a analista Larissa Quaresma, da Empiricus Research, muitos fatores influenciam no desempenho ruim. O principal deles é a alavancagem alta da companhia.
Segundo ela, dois pontos principais pesaram sobre a varejista neste último ciclo:
- A alta da Selic, que é ainda mais sentida por empresas com alto endividamento;
- o cenário econômico que machucou as famílias das classes C, D e E, justamente o público da Marisa.
“A companhia sentiu ainda mais o cenário econômico difícil porque, além do varejo, ela também concede crédito aos clientes para a compra dos próprios produtos. A inadimplência pegou bastante”, explicou Larissa.
Com isso, a Marisa precisou entrar em outro processo de reestruturação, com o fechamento de lojas que não performaram bem e renegociação de dívidas.
Em fevereiro, por exemplo, contratou o banco BR Partners (BRBI11) para assessorar no endividamento.
Ontem, outra novidade: a transferência da gestão da operação de crédito para a Credsystem, que atuará como parceira comercial e estratégica na exploração de produtos de crédito.
A analista vê com bons olhos o movimento, que se assemelha à parceria entre Magazine Luiza e Itaú, que deu origem à LuizaCred.
“A Marisa separa do balanço dela toda essa parte de crédito e constitui uma entidade separada em que ela é sócia desse terceiro, que divide todos os riscos e lucros com a companhia. É uma sociedade 50%/50%, que visa reduzir a exposição de risco que a companhia tem a essa vertical e a gestão de funding, que é típica de uma instituição financeira e não de uma varejista”.
Com a separação da estrutura bancária, Larissa acredita que a Marisa poderá voltar o foco totalmente para o varejo. “Na nossa opinião, o movimento é bom”.
O que esperar da Marisa com o ciclo de queda da Selic?
A analista explica que o varejo de vestuário é mais sensível aos ciclos econômicos. Com a alta dos juros e a desaceleração da economia doméstica, o segmento sofre mais que outros voltados para bens essenciais, como por exemplo uma rede de farmácias.
“Essa sensibilidade é ainda mais forte para as varejistas de moda que trabalham com camadas mais baixas”.
Em tese, se a alta da taxa básica de juro brasileira, Selic, machucou a companhia, a inversão dessa tendência pode significar a recuperação da empresa, certo?
Em partes…
Larissa lembra que os efeitos da queda da taxa de juro podem sim produzir um efeito duplo para as varejistas do setor, com o estímulo ao consumo e a diminuição da inadimplência dos clientes ao longo do tempo.
No entanto, ela pondera que é necessário tempo para essa melhora ser vista. “Não é porque a Selic caiu 0,5% que a demanda vai aumentar 0,5%. A gente demora a ver a demanda responder”.
Até por isso, existem muitos riscos para os investidores que compram as ações de empresas do segmento de varejo de moda para antecipar os efeitos benéficos da queda de juro.
“Até que esses efeitos aconteçam, pode ser que algumas delas não cheguem lá, e esse pode ser o caso da Marisa. Não é óbvio que a companhia vai sobreviver a mais essa reestruturação. Ela está com Ebitda negativo, lucro líquido negativo. O acionista que comprar as ações pensando na queda do juro pode ser surpreendido negativamente”.
Por isso, a recomendação da Empiricus Research é de evitar o segmento, ao menos “até conseguirmos enxergar no horizonte uma melhora das condições econômicas das classes C, D e E”, conclui a analista.
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Confira abaixo a entrevista completa de Larissa Quaresma no Giro do Mercado: