Investimentos

Agenda local tem IGP-M e Relatório Trimestral de Inflação e EUA divulga PIB do 2T23 nesta quinta (28)

Nos EUA, as ações encerraram o dia de ontem sem uma direção única, enquanto o rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos atingiu seu pico em 16 anos.

Por Matheus Spiess

28 set 2023, 09:05 - atualizado em 28 set 2023, 09:11

Imagem para representar o Plano Bresser, uma tentativa do governo Sarney de estabilizar a inflação da época

Bom dia, pessoal. O principal tema internacional do dia é a divulgação final do PIB dos Estados Unidos para o segundo trimestre. Uma revisão substancial, seja para cima ou para baixo, teria um impacto direto na curva de juros dos EUA, afetando globalmente todos os mercados. Dado o recente nervosismo em certas partes da curva de juros dos EUA, especialmente nos títulos de 10 anos, uma surpresa negativa com dados mais modestos e um tom pessimista seria significativa. Além disso, estamos atentos ao discurso de Powell no final do dia, que pode oferecer mais detalhes sobre a orientação da política monetária nos EUA.

A maioria das ações asiáticas registrou queda nesta quinta-feira, ampliando as perdas recentes devido às contínuas preocupações com o aumento das taxas de juros globais. As ações chinesas também sofreram quedas devido a renovadas preocupações com o mercado imobiliário do país. O índice japonês teve o pior desempenho na Ásia, impactado pelo aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro, que pressionaram as ações do setor tecnológico, enquanto há incertezas antes da divulgação dos dados de inflação na sexta-feira. Nos mercados europeus, o dia começou sem uma direção clara, assim como os futuros americanos.

A ver…

· 00:36 — Um clima mais ameno

No Brasil, o dia começa de forma mais tranquila, especialmente após a conversa entre Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A autoridade monetária parece inclinada a buscar um equilíbrio e auxiliar o governo a avançar com sua agenda econômica no Congresso, visando minimizar a diferença entre o que foi planejado com o novo arcabouço fiscal e o que efetivamente poderá ser realizado.

Anteriormente, o BC havia elogiado as iniciativas do Ministério da Fazenda durante uma audiência na Câmara, reconhecendo que buscar uma situação fiscal mais robusta está dentro do escopo de riscos. Hoje, Campos Neto dará outra entrevista, possivelmente fornecendo mais informações.

Essa perspectiva é positiva, afastando-nos das discordâncias que presenciamos no início do ano. O Banco Central compreende, assim como o mercado reconhece, que atingir a meta é uma tarefa muito desafiadora. Não é necessário alcançá-la com precisão absoluta; é suficiente demonstrar esforço e perseguir um plano concreto para eliminar o déficit nos anos seguintes.

Além do sentimento positivo, um anúncio na manhã de hoje com o resultado primário de agosto não tão desanimador quanto o esperado seria bem recebido. O IGP-M e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) também estão na agenda, consolidando ainda mais as expectativas dos investidores.

· 01:42 — Não para de subir

Nos Estados Unidos, as ações encerraram o dia de ontem sem uma direção única, enquanto o rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos atingiu seu patamar mais alto em 16 anos. Embora a iminente paralisação do governo esteja ocupando as manchetes, provavelmente não é a principal responsável pela recente volatilidade do mercado.

Historicamente, os mercados tendem a desconsiderar os fechamentos do governo. No entanto, as estimativas agora indicam uma probabilidade de 90% de os EUA enfrentarem outra paralisação a partir deste domingo. Apesar disso, esse não é o centro das atenções do mercado hoje.

O Bureau of Economic Analysis (BEA) está prestes a divulgar sua terceira e última estimativa de crescimento do produto interno bruto para o segundo trimestre. A expectativa geral é que o PIB tenha crescido a uma taxa anual ajustada sazonalmente de 2,3%, dois décimos de ponto percentual acima da segunda estimativa do BEA divulgada no final de agosto. Caso a revisão seja negativa, a dinâmica muda, aliviando a pressão sobre a curva de juros, que tem reagido não apenas ao desafio fiscal, mas também a uma economia mais robusta do que inicialmente prevista. Ninguém antecipa uma revisão negativa, o que tornaria isso uma surpresa significativa.

· 02:38 — Há saída para evitar o shutdown?

Ontem, a proposta do Senado para um acordo provisório que evitaria a paralisação do governo dos EUA foi rejeitada pela Câmara. Ainda assim, há uma janela de oportunidade para um acordo de última hora. É crucial, no entanto, que o presidente republicano da Câmara, Kevin McCarthy, consiga superar a resistência dos membros mais inflexíveis de seu partido para aprovar um novo projeto de lei de gastos. Se isso não acontecer, o governo federal dos EUA fechará suas portas em 1º de outubro.

À medida que uma paralisação se prolonga, as perdas se multiplicam. Durante a última paralisação em 2019, que durou cinco semanas, a economia dos EUA perdeu 3 bilhões de dólares. Por outro lado, se estamos antecipando uma desaceleração da economia americana, independentemente da gravidade, um shutdown que envolve a maior máquina pública do mundo pode ajudar a arrefecer minimamente a economia, induzindo desinflação e auxiliando o Fed a conter as altas nas taxas de juros.

· 03:27 — E se as coisas continuarem a piorar?

Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, levantou a possibilidade de o Federal Reserve elevar as taxas de juros para 7% durante esta semana. Essa perspectiva de taxas tão elevadas pegaria o mundo de surpresa. A transição de zero para 5% surpreendeu alguns, mas um salto de 5% para 7% seria um nível de realidade ainda mais extremo, potencialmente afetando severamente os mercados financeiros globais. No entanto, a afirmação de Dimon parece ser mais uma representação vocal, explorando cenários extremos, visto que é difícil acreditar verdadeiramente em um patamar de 7%. É, no entanto, um exercício que provoca inquietação.

Dimon destacou que as taxas de juros de 7% seriam o pior cenário, especialmente se a estagflação, uma situação caracterizada por aumento de preços associado a um crescimento econômico mínimo ou inexistente, se tornasse uma realidade. Embora essa previsão represente um cenário extremo sobre até que ponto as taxas poderiam ser elevadas, está alinhada com a mudança de sentimento do mercado em direção à possibilidade de taxas mais elevadas por um período prolongado, após as decisões e projeções econômicas do Federal Reserve.

· 04:15 — Chegou a vez das mulheres no México

No início de junho do próximo ano, é altamente provável que o México tenha sua primeira presidente mulher. Claudia Sheinbaum, ex-prefeita da Cidade do México, assegurou a indicação presidencial do partido governista Morena nas últimas semanas, lançando-se em uma disputa eleitoral contra a carismática senadora da oposição, Xochitl Galvez, em 2024. Essa notícia surge em meio a uma série de conquistas do movimento feminista mexicano nos últimos anos, destacadas recentemente na descriminalização do aborto em todo o país pelo Supremo Tribunal.

Além disso, em 2019, a legislatura mexicana aprovou leis que exigiam paridade de gênero em ambas as câmaras do Congresso, em cargos de destaque nos poderes executivo e judiciário, e nas listas de candidatos dos partidos. Nenhum legislador votou contra esse conjunto de leis. Desde que esses requisitos entraram em vigor em 2021, o México tornou-se um dos seis países, e o único fora da Nova Zelândia, que realiza eleições competitivas, onde as mulheres ocupam pelo menos metade dos assentos na legislatura nacional.

Assim, após tantas iniciativas, é compreensível que a eleição de 2024 seja disputada entre duas mulheres. Atualmente, pelo menos por enquanto, Sheinbaum é a favorita nessa corrida, mantendo o partido de centro-esquerda Morena, liderado hoje por Andrés Manuel López Obrador (AMLO), o atual presidente, no poder. Como a esquerda de AMLO, assim como a de Boric no Chile, é fiscalmente responsável (o México tem se mostrado bem ortodoxo do ponto de vista orçamentário, o que é ótimo para um país emergente), o mercado não deverá se preocupar.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.