Investimentos

Alpargatas (ALPA4) apresenta números fracos no 3T22 e analista reitera recomendação de ‘short’; veja os motivos

Empresa apresenta dificuldades para crescer fora do Brasil e tem margens comprimidas por maiores custos com matéria-prima, despesas industriais e petróleo caro

Por Larissa Quaresma, CFA

04 nov 2022, 11:32 - atualizado em 04 nov 2022, 14:20

alpargatas alpa4
Imagem: Divulgação/Havaianas

A Alpargatas (ALPA4) divulgou, na noite da última quinta-feira (3), seus resultados referentes ao 3T22, que vieram abaixo das expectativas do mercado.

A Rothy’s, empresa americana de calçados sustentáveis adquirida no último ano pela Alpargatas, alcançou uma receita líquida de U$ 38 milhões no trimestre, praticamente em linha na comparação anual (+2%). Além da desaceleração no faturamento, a adquirida reportou novamente Ebitda negativo, atingindo -US$ 11 milhões neste período, justificado pela necessidade de investimentos para acelerar o crescimento. 

Já no resultado de Havaianas, o volume consolidado de vendas foi de 66 milhões (-4% vs 3T21) e, por mais um trimestre, pior na comparação anual. O crescimento de 16% na vertical Internacional foi compensado pelo volume menor no Brasil, que totalizou 59 milhões de pares, 6% inferior ao 3T21. 

Em contrapartida, apesar do volume menor, o preço médio por par no Brasil cresceu 15%, levando a receita líquida na região a R$ 834 milhões (+12% vs 3T21). Na operação internacional, apesar da queda de 3% na receita por par, o aumento nos volumes contribuiu para receita líquida atingir R$ 243 milhões (+4% vs 3T21). Assim, a Havaianas consolidada fechou o trimestre com receita líquida de R$ 1 bilhão, alta de 10% na comparação anual

Empresa tem dificuldade de crescimento fora do Brasil

Importante ressaltar alguns pontos na operação internacional, que evidenciam a dificuldade de crescimento da companhia fora do Brasil — e que deve persistir com a piora do ambiente macroeconômico global. Os números positivos foram puxados unicamente pela performance na Europa — a qual acreditamos não ser perene —, que cresceu sua receita líquida em 21% impulsionada principalmente pelo maior preço médio por par. Nos EUA, região ainda impactada pela mudança de estratégia de vendas da companhia, a companhia apresentou volume (-62%) e receita líquida (-41%) inferiores na comparação anual. 

O lucro bruto consolidado totalizou R$ 503 milhões, alta de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior e margem bruta de 47% (-2pp  vs 3T21). A queda de margem na Havaianas Internacional (-9,1%) na comparação anual foi a responsável por deteriorar o consolidado. A piora é explicada pelo efeito cambial, aumento nos preços das matérias-primas e despesas industriais — desafios que estão entre os pontos principais da nossa tese short no ativo.

O crescimento aquém do esperado do lucro bruto não compensou o aumento das despesas operacionais no período, assim o Ebitda recorrente de Havaianas atingiu R$ 180 milhões, queda de 4,1% na comparação anual e margem ebitda de 17% (-2pp vs 3T21). A Havaianas Internacional reportou Ebitda negativo em -R$ 9,2 milhões, impactada pelos efeitos já explicados. 

Na última linha do resultado, o lucro líquido de Havaianas atingiu R$ 105 milhões, 31% inferior em relação ao 3T21. Incorporando o resultado da Rothys, que apresentou prejuízo de R$ 60 milhões, o lucro líquido consolidado de Alpargatas foi R$ 45 milhões. 

Para além dos números: por que ‘shortear’ ALPA4?

Em suma, acreditamos que o desafio de crescimento de Alpargatas persiste. Trimestre após trimestre a companhia apresenta dificuldades de crescimento de volume na operação de Havaianas, e margens sendo comprimidas em função dos maiores custos com matéria-prima e despesas industriais, em uma cadeia ainda pressionada pelo barril de petróleo mais caro. Além disso, a etapa de crescimento de Rothy’s, que tem sua geração de caixa ainda em um futuro incerto, deve continuar deteriorando o resultado consolidado da companhia.

Por estes motivos e por negociar ainda a 21 vezes os seus lucros para 2023, Alpargatas (ALPA4) segue como uma posição vendida (short) da Empiricus. 

Confira a análise completa:

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.