Investimentos

Alpargatas (ALPA4): gestão atual fez bons ajustes na Havaianas Brasil e operação internacional é o próximo desafio; entenda

O turnaround feito pela gestão recém-empossada da Alpargatas parecem surtir efeitos positivos sobre a operação brasileira. Agora, o foco é a norte-americana e a europeia.

Por Ruy Hungria

05 dez 2024, 11:35 - atualizado em 05 dez 2024, 11:39

alpargatas ALPA4

Imagem: Divulgação/Havaianas

Aproveitamos o marasmo após a temporada de resultados do 3T24 para conversar com o time de Relações com Investidores da Alpargatas (ALPA4).

Após a conjuntura de problemas observados nos anos anteriores, a gestão recém-empossada precisou fazer ajustes profundos na estratégia.

Havaianas Brasil foi a mais fácil de ajustar

A primeira etapa da reestruturação foi pautada em dois pilares principais: preservação de caixa e foco no turnaround da operação brasileira no curto prazo. 

A Havaianas Brasil, além de ser de longe a mais importante para os resultados, era também a mais fácil de ajustar. Isso porque a marca já é muito conhecida e valorizada entre os brasileiros, além de vender o ano todo por aqui, eliminando desafios de sazonalidade.

Não que a tarefa fosse simples, mas bastava eliminar o excesso de SKUs e o descasamento entre as vendas para lojistas (sell-in) e para o consumidor (sell-out), que provocou uma superestocagem na cadeia, questões que foram em grande parte resolvidas.

Black Friday ajudou a movimentar o estoque

Falando em estocagem, a falta de planejamento da gestão anterior fez com que a companhia entrasse em 2024 com coleções de mais de dois anos de idade em seu inventário. Agora, ela tem utilizado datas especiais para desová-las sem tanto desconto.

Inclusive, o time se mostrou animado com a Black Friday. A data comercial trouxe uma boa movimentação do sell-in e contou com novas estratégias de ativação nos pontos de venda, o que deve se refletir em maiores vendas.

Baixas contábeis de Alpargatas devem terminar no 4T24

O RI também mencionou que os write-offs (baixas contábeis), que vêm poluindo os resultados há vários trimestres, devem terminar no 4T24, mais um sinal de que estamos bem próximos do fim do processo de limpeza. 

Em 2025, a Alpargatas quer ajustar a operação internacional

Com o problema da alavancagem resolvido e a Havaianas Brasil praticamente nos trilhos, a partir de 2025 o foco passa a ser em consertar a operação internacional, que exige mais esforço. Uma das maiores dificuldades é o inverno rigoroso no hemisfério norte, que prejudica as vendas em vários meses do ano. 

A outra dificuldade é o reconhecimento da marca, naturalmente bem menor lá fora do que no Brasil. Isso poderia ser amenizado com bons investimentos em marketing, mas a gestão anterior economizou demais nessa linha, o que carrega implicações negativas até hoje.

Para resolver parte desses problemas, o subestimado marketing deve voltar a ganhar relevância, fazendo com que a linha de despesas volte a representar 40% das receitas. Isso não deve ser um grande problema, se vier junto com impulso no top line.

Europa tem ‘luz no fim do túnel’

A Europa, que já foi bastante importante para os resultados, está no caminho certo, com a volta dos investimentos na marca e resolução de problemas com o operador logístico que atrapalhou as vendas a partir de 2023.

Em novembro deste ano, a companhia já disse ter volume de pedidos para 2025 maiores do que os observados no mesmo período do ano anterior, o que é um bom indício de que os problemas estão bem endereçados.

Operação dos EUA ainda oferece desafios

Se já conseguimos enxergar luz no “túnel Europa”, nos Estados Unidos ainda está escuro. Mesmo com diferentes gestões e estratégias distintas, o negócio nunca engrenou por lá. 

A estrutura local era grande demais para o volume de pares vendidos, e a conta só fecharia se as vendas aumentassem, o que não tem se mostrado uma tarefa fácil. Em partes porque a tropicalidade brasileira (que tanto ajuda as Havaianas ao redor do mundo) não é muito valorizada nos Estados Unidos.

Além disso, por não ter muito volume de venda, as Havaianas ficam fora das grandes redes de varejo, o que por sua vez atrapalha ainda mais as vendas, e se torna um ciclo vicioso. 

O que fica claro é que a operação dos EUA precisa de mais do que apenas alguns ajustes. É preciso uma reestruturação profunda, que já está acontecendo. 

Se por um lado a operação norte-americana parece mais difícil, por outro o diagnóstico dado pela atual gestão mostra que eles estão muito cientes dos problemas. Inclusive, não descartamos a possibilidade de um “stop” caso seja comprovado que não dá para ter retornos na região. Na nossa visão, é melhor investir onde há bons retornos ou devolver o dinheiro para os acionistas via dividendos do que insistir em uma operação deficitária.

E como está a alocação de capital da Alpargatas?

Por fim, questionamos a alocação de capital, já que a história da Alpargatas é recheada de aquisições com retornos discutíveis. 

Ainda que o time tenha tentado justificar o passado, o que nos importa é o futuro; sobre isso, ficamos menos preocupados. O compromisso é focar na marca Havaianas pelos próximos cinco anos, no mínimo, e todos os investimentos e aquisições devem ter como objetivo alavancar a venda de Havaianas, o que é boa notícia. 

De modo geral, saímos mais otimistas com a companhia que, não só está fazendo bem a lição de casa, como também parece ter aprendido com os erros do passado.

Por 6 vezes Valor da Firma/Ebitda esperado para 2025, ALPA4 segue entre as ações recomendadas pela Empiricus Research.

Sobre o autor

Ruy Hungria

Bacharel em Física formado na Universidade de São Paulo (USP), possui MBA de Finanças na Fipe e iniciou a carreira no mercado financeiro em 2011, na própria Empiricus Research. Está à frente da série da casa focada em opções desde 2018, além de contribuir na elaboração e decisões de investimentos nas séries da Empiricus focadas em microcaps e dividendos, além de fazer o acompanhamento de companhias de diversos setores, com mais foco em Utilities e Oil & Gas. Desde o início de 2020 é colunista do portal Seu Dinheiro.