Nessa altura, não é novidade que os títulos do tesouro norte-americano, os treasuries, estão nas máximas dos últimos 16 anos.
Diante do cenário atual, é possível que você tenha uma dúvida parecida com a que recebemos recentemente da nossa assinante Bruna:
“Bom dia!
Com os bonds de 30 anos batendo 5%aa, penso que seria uma boa comprar. Não entendi bem como a pessoa física pode comprar o bond em si. Tem como passar os tickers? Penso que carregar por esse 20 ou 30 anos esse tipo de taxa seria interessantíssimo pra uma reserva lá fora.
Obrigada”
E, de fato, entendemos que as oportunidades que o mercado está oferecendo quando o assunto é renda fixa é algo que o investidor com foco no longo prazo pode aproveitar para a formação do seu patrimônio.
Só que, diferentemente do Brasil — na qual o investidor tem acesso ao Tesouro Direto —, adquirir diretamente títulos de dívida (tanto do Tesouro americano como de empresas) só é possível se o indivíduo possui uma conta em uma corretora que dê acesso a esse mercado.
Além disso, por se tratar de um mercado secundário, o valor mínimo para investimento pode ser proibitivo para que se possa realmente diversificar a carteira.
Até é possível encontrar lotes de negociação com um valor mínimo que nem é tão proibitivo — como o exemplo demonstrado no site da TD Ameritrade, com o investidor precisando desembolsar pouco menos de US$2 mil para comprar títulos do Tesouro americano com vencimento em 2036. Mas, no geral, o valor é maior do que isso, ficando na casa dos US$5 mil (algo como R$25 mil).
Montando uma ‘escada’ para chamar de sua
Mas aqueles interessados não precisam ficar desanimados. Existem formas que permitem ao investidor com poucos recursos fazer essa poupança de longo prazo de maneira prática e simples.
Isso porque, no mercado americano, existem ETFs que possuem como mandato o investimento em títulos de dívida com vencimento em uma data específica.
Na procura por oportunidades de investimentos atraentes para nossos assinantes, acabamos descobrindo que a iShares, gestora reconhecida mundialmente por seus ETFs e ligada a BlackRock, oferece esse tipo de investimento para outros títulos de dívida, inclusive aqueles do Tesouro americano.
O único porém, na nossa visão, está na limitação de prazo oferecido pela iShares (máximo de 10 anos). Ainda assim, entendemos ser uma forma mais atraente para que o investidor monte uma “escada” com diversos vencimentos de títulos que melhor atende os seus objetivos de construção de patrimônio.
- VEJA TAMBÉM: Analistas da Empiricus Research identificaramas 5 melhores ações internacionais para investir agora. Confira a seleção completa neste relatório.
Veja alguns ETFs que investem nos treasuries
O iShares Bonds Dec 2023 Term Treasury ETF (NYSE: IBTD), por exemplo, teve sua concepção em 25 de fevereiro de 2020, e sua composição era composta por títulos que tinham vencimento entre 1o de janeiro e 15 de dezembro de 2023.
No início, por conta da taxa de juros próxima de zero, a cota do fundo ficou praticamente estável nos US$24. Com o processo de aperto monetário imposto pelo Federal Reserve a partir do final de 2021, todos os títulos que faziam parte do ETF foram reprecificados para baixo (lembrando que a relação é inversa: uma alta nos juros reflete em uma queda nos preços dos títulos).
Mas, como o vencimento do IBTD é agora em dezembro de 2023, é possível verificar que a cota está acima do observado no começo do fundo — ainda que o resultado obtido por quem decidiu comprar lá no início tenha sido pífio (meros 3,5% desde a cota do primeiro dia, ou 0,97% anualizado).
Importante ter em mente que, nesse tipo de investimento, prevalece a questão básica da renda fixa: o que importa para o investidor foi o preço de compra do ativo, e não o preço de tela do mesmo.
Isso porque, ao comprar um título de renda fixa, o investidor concordou em receber um rendimento estabelecido no momento da operação. Levando até o vencimento, ele receberá o valor acordado inicialmente.
Mas, se os juros de mercado sofrerem alterações no meio do caminho — algo que é mais provável do que o cenário de juros estáveis —, todos os títulos sofrerão ajustes no preço para refletir esse novo nível de juros. Mas, em relação ao preço de aquisição, o investidor terá o retorno original estabelecido.
Esse foi o principal risco, por exemplo, daqueles investidores que adquiriram o IBTD entre 2020 e 2021. Com os juros em patamares historicamente baixos, esses investidores aceitaram o risco de receber um retorno menor mas garantir que não teriam perdas (nominalmente, falando) em suas posições.
Os títulos com vencimentos mais longos, como o iShares Bonds Dec 2027 Term Treasury ETF (NYSE: IBTH) e o iShares Bonds Dec 2033 Term Treasury ETF (NYSE: IBTO) apresentaram a mesma dinâmica recentemente, com a forte alta nas taxas de juros longas nos Estados Unidos.
O próprio site dos ETFs fornecem uma ferramenta para auxiliar o investidor entender qual será a rentabilidade auferida nesses instrumentos considerando o preço de aquisição — clique aqui para calcular para o IBTH e aqui para o do IBTO.
O grande ponto para aqueles que tem interesse em comprar esses ativos é o comentário da Bruna logo no início da publicação: uma vez que o investidor considere as taxas de juros atrativas para formação de patrimônio, é necessário que ele se comprometa a carregar esses ETFs até o vencimento.
Uma das poucas possibilidades que o investidor pode adquirir esses instrumentos é no cenário em que há a expectativa de corte nos juros — o que aumentaria os preços dos títulos, em um exemplo diferente do demonstrado nos gráficos 2 a 5.
Neste caso, o investidor pode auferir ganhos maiores no curto prazo por conta da marcação a mercado (que seria positiva). Mas, ainda que o investidor acredite que a taxa de juros na qual comprou o ETF foi atrativa, ele obterá o retorno acordado na data da compra.
Nas nossas discussões nos comitês de análise do MoneyRider, entendemos que uma estratégia barbell — com o investidor apostando nos dois extremos da curva de juros — seja interessante para aqueles que gostariam de montar uma parte da sua carteira de investimento nos títulos do Tesouro americano.
Confira a nossa sugestão de alocação
Dessa maneira, entendemos que, no patamar de juros atual, uma composição de uma carteira de renda fixa com cerca de 30% nos ETFs de curtíssimo prazo (como o BIL, SGOV ou TFLO), 20% nos ETFs mais longos (como o IBTO) e o restante com percentuais seguindo os objetivos de cada indivíduo (escalonando de acordo com os vencimentos) seria algo interessante para construção de patrimônio do investidor.
Importante salientar que essa carteira demonstrada no gráfico é apenas um exemplo. O investidor pode, de acordo com os seus objetivos, alocar mais recursos em determinado vértice da curva (como não ter exposição ao IBTJ e IBTK, e aumentar o peso no IBTI).
Além disso, também é bom lembrar que a iShares oferece esse mesmo tipo de instrumento para títulos de renda fixa protegidos da inflação, os chamados TIPS (Treasury Inflation-Protected Securities). O valor de face desses títulos são atrelados ao CPI (inflação ao consumidor nos EUA), e ajustados de acordo com a mudança no nível de preços na terra do Tio Sam.
O importante é o investidor saber que, nesse mundo de taxas de juros mais altas por mais tempo, existem oportunidades a serem aproveitadas (e não apenas sofrer com os possíveis impactos nos ativos de risco mundo afora).
- ONDE INVESTIR EM OUTUBRO? Analistas da Empiricus Research revelam suas principais recomendações para o mês em entrevista completa. Assista agora: