A Ambev (ABEV3) divulgou seus números referentes ao 1T23, que foram melhores do que o esperado, mas recheado de efeitos não recorrentes ou que vêm sendo questionados pelo mercado.
A receita líquida da companhia cresceu 11% no trimestre, impulsionada pelo aumento de preço, haja visto que o volume total caiu -0,4% na comparação anual. A receita por hectolitro cresceu em todas as unidades de negócios, mostrando a capacidade de repasse de preço que a companhia possui.
Em termos de volume, depois de uma forte sequência de dez trimestres consecutivos com crescimento impulsionada pelo efeito Copa do Mundo, a companhia apresentou uma queda de -14% na comparação com o 4T22.
O desempenho no Brasil (+2,5%) e no Canadá (+5%) não foram suficientes para suportar a queda de volume nas demais regiões, onde a Ambev reportou queda de -5% na América Central e Caribe (CAC) e de -7,8% na América Latina Sul (LAS).
O custo dos produtos vendidos avançou 8% em função das pressões inflacionárias globais, mas abaixo do avanço da receita, de modo com que houve um importante avanço de 1,8 pontos percentuais de margem bruta, que voltou para o patamar acima dos 50%.
Dado que a receita apresentou crescimento, os custos foram diluídos e as despesas cresceram levemente acima da receita, o ebitda veio acima da nossa expectativa, em R$ 6,4 bilhões.
Ajustes tributários ‘maquiaram’ resultados da Ambev no 1T23
Embora o ebitda tenha avançado 17% na comparação anual, é muito importante notar que ele foi impulsionado por itens como subvenções governamentais e incentivos fiscais. Sob esse aspecto, a qualidade do ebitda poderá começar a ser questionada pelo mercado, tendo em vista que o arcabouço fiscal deverá reduzir essas distorções tributárias.
Já o lucro líquido, foi impulsionado pela grande distribuição de JCP e outros ajustes tributários, que fizeram com que a alíquota efetiva de impostos fosse de 1,5%, ou seja, a maior cervejaria do país praticamente não pagou imposto de renda e contribuição social no trimestre. Excluindo-se tais efeitos, o resultado seria em linha com o consenso de mercado.
Por fim, embora tenha reportado um resultado melhor do que esperávamos, enxergamos Ambev (ABEV3) negociando a múltiplos altos (16,8 vezes seus lucros para 2023) e fragilidades no que tange a uma eventual reforma tributária e fim do JCP, que aumentaria a alíquota de imposto e reduziria o lucro líquido da companhia, bem como um momentum mais desafiador da indústria. Por conta disso, seguimos com sugestão de short em Ambev (ABEV3).