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Investimentos

Ambev (ABEV3): efeitos não recorrentes contribuem para pequena melhora no 1T23

Lucro líquido da Ambev no 1T23 foi impulsionado pela grande distribuição de JCP e outros ajustes tributários

Por Fernando Ferrer

04 maio 2023, 11:10 - atualizado em 04 maio 2023, 11:10

ambev abev3
Imagem: Adobe Stock/Montagem Giovanna Figueredo

A Ambev (ABEV3) divulgou seus números referentes ao 1T23, que foram melhores do que o esperado, mas recheado de efeitos não recorrentes ou que vêm sendo questionados pelo mercado.

A receita líquida da companhia cresceu 11% no trimestre, impulsionada pelo aumento de preço, haja visto que o volume total caiu -0,4% na comparação anual. A receita por hectolitro cresceu em todas as unidades de negócios, mostrando a capacidade de repasse de preço que a companhia possui.

Em termos de volume, depois de uma forte sequência de dez trimestres consecutivos com crescimento impulsionada pelo efeito Copa do Mundo, a companhia apresentou uma queda de -14% na comparação com o 4T22.

O desempenho no Brasil (+2,5%) e no Canadá (+5%) não foram suficientes para suportar a queda de volume nas demais regiões, onde a Ambev reportou queda de -5% na América Central e Caribe (CAC) e de -7,8% na América Latina Sul (LAS).

O custo dos produtos vendidos avançou 8% em função das pressões inflacionárias globais, mas abaixo do avanço da receita, de modo com que houve um importante avanço de 1,8 pontos percentuais de margem bruta, que voltou para o patamar acima dos 50%.

Dado que a receita apresentou crescimento, os custos foram diluídos e as despesas cresceram levemente acima da receita, o ebitda veio acima da nossa expectativa, em R$ 6,4 bilhões.

Ajustes tributários ‘maquiaram’ resultados da Ambev no 1T23

Embora o ebitda tenha avançado 17% na comparação anual, é muito importante notar que ele foi impulsionado por itens como subvenções governamentais e incentivos fiscais. Sob esse aspecto, a qualidade do ebitda poderá começar a ser questionada pelo mercado, tendo em vista que o arcabouço fiscal deverá reduzir essas distorções tributárias.

Já o lucro líquido, foi impulsionado pela grande distribuição de JCP e outros ajustes tributários, que fizeram com que a alíquota efetiva de impostos fosse de 1,5%, ou seja, a maior cervejaria do país praticamente não pagou imposto de renda e contribuição social no trimestre. Excluindo-se tais efeitos, o resultado seria em linha com o consenso de mercado.

Por fim, embora tenha reportado um resultado melhor do que esperávamos, enxergamos Ambev (ABEV3) negociando a múltiplos altos (16,8 vezes seus lucros para 2023) e fragilidades no que tange a uma eventual reforma tributária e fim do JCP, que aumentaria a alíquota de imposto e reduziria o lucro líquido da companhia, bem como um momentum mais desafiador da indústria. Por conta disso, seguimos com sugestão de short em Ambev (ABEV3).

Sobre o autor

Fernando Ferrer

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos cobrindo os setores de Varejo, Saúde e Infraestrutura. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa.