Depois de nove dias no comando da Americanas (AMER3), Sérgio Rial e André Covre, o CFO que havia entrado com ele, anunciaram as suas renúncias do comando da companhia. O movimento se deu logo após a descoberta por parte dos executivos de inconsistências contábeis na casa dos R$ 20 bilhões.
Após assumir a presidência na semana passada, o executivo conta que começou a estudar os balanços da empresa para melhor entendimento do modelo de negócio e as suas formas de monetização.
Ao longo do estudo, foram encontradas inconsistências contábeis de valor aproximado de R$ 20 bilhões que estavam sendo abatidas da linha de fornecedores ao invés de serem tratadas como dívida bancária.
Isso motivou a renúncia de Rial e a teleconferência com os analistas de mercado, que pude participar.
Importante mencionar que toda informação foi apurada nos 9 dias em que ele esteve no comando da Americanas e, portanto, muitas perguntas ainda não possuem respostas definitivas.
Quatro pontos abordados por Rial na teleconferência
Em suma, é necessário o entendimento de quatro pontos:
De acordo com o executivo, o valor de R$ 20 bilhões está todo contemplado no balanço de AMER3, só que em linhas equivocadas, o que precisaria de ajuste.
Ao que parece (condicionado a um estudo de nove dias realizado pelos executivos), esses R$ 20 bilhões não deveriam implicar em problema de liquidez imediata para a companhia, haja visto que ela possui uma posição de caixa importante e todos os compromissos estavam sendo pagos.
Por outro lado, tendo em vista que os R$ 20 bilhões estavam sendo alocados na linha de fornecedores, ao invés da linha de endividamento, ao realizar o correto ajuste, é de se esperar que o endividamento da companhia aumente de forma considerável – ainda é difícil precisar o valor.
De todo modo, para honrar com os compromissos futuros e para que o endividamento seja equacionado para um patamar de 3 vezes dívida líquida ebitda, é estimado que seja realizada uma capitalização de US$ 2 bilhões. Adicionalmente, será preciso rever o balanço dos demais anos, uma vez que ele acredita que essa prática já vinha sendo realizada há vários anos.
Em terceiro lugar, ficou claro que os controles da área financeira foram insuficientes para prevenção desse tipo de prática. Desse modo, foi criado um comitê independente para avaliação da prática contábil e realizar os ajustes necessários. Rial se colocou a disposição como um advisor da companhia para ajudá-la nesse processo, embora não tenha nenhuma obrigação legal e já tenha renunciado ao seu posto.
Por último, tudo leva a crer que essa prática se deu em função da vontade de crescimento acelerado no canal on-line. De acordo com Sérgio Rial, “O digital foi too fast, too furious without enough control”.
Para que o crescimento de fato ocorresse, a empresa financiava seus fornecedores através dos bancos e realizava a contabilidade de forma inapropriada, embora ainda seja cedo para dizer se isto se configura como fraude ou não.
Rombo contábil de AMER3 liga alerta para empresas do setor
Obviamente que é difícil sabermos se outras empresas do setor também realizavam a mesma prática, mas fica um alerta para empresas com crescimento acelerado, com faturamento alto e margens baixas, pois elas podem acabar tendo um incentivo de realizar as mesmas práticas contábeis criativas como a apresentada pela Americanas.
Ainda não se sabe quando e se os acionistas de referência da Americanas participarão do aumento de capital, qual o real tamanho das inconsistências contábeis, por quantos anos essa prática foi realizada e qual real impacto nos balanços passados.
Já éramos céticos com relação ao setor de e-commerce desde o ano passado por conta dos problemas macro e da dificuldade de rentabilização que as companhias estavam enfrentando.
Além disso, temos o grave problema apontado por Sérgio Rial que expõe de forma importante os fracos controles e práticas da área financeira da companhia.
Dessa forma, esperamos um desempenho bastante negativo dos papéis e sugerimos que nossos clientes não tenham exposição à Americanas (AMER3), seja via equity ou via dívida.