Os últimos dias foram recheados de novas informações acerca da novela envolvendo a Americanas (AMER3) e seus acionistas de referência, o Grupo 3G, que é comandado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Após descobrir inconsistências contábeis de valor aproximado de R$ 20 bilhões e renunciar ao cargo de CEO com nove dias de comando, Sérgio Rial, ex-CEO do Santander, se colocou a disposição como advisor para ajudar a companhia a atravessar o momento mais sombrio de sua história.
Nesse contexto, Rial se reuniu com os CEOs dos bancos credores da Americanas para tentar achar uma equação que seja favorável para todos. De acordo com a mídia, os credores queriam que o Grupo 3G injetasse pelo menos R$ 10 bilhões na companhia e, em contrapartida, estes concordariam em alongar o prazo de recebimento dos empréstimos.
Sem um acordo sobre a injeção dos R$ 10 bilhões, o “plot twist” ocorreu na última sexta-feira, quando o Grupo 3G anunciou que injetaria R$ 6 bilhões e a Americanas entrou com pedido de tutela de urgência, que foi concedida.
Decisão é prejudicial aos bancos credores
Em termos práticos, a decisão suspende toda e qualquer possibilidade de um bloqueio, sequestrou ou penhora de bens da empresa, assim como adia a obrigação da Americanas de pagar suas dívidas até que um provável pedido de recuperação judicial seja feito à justiça. A empresa recebeu um prazo de 30 dias para avaliação se entrará com pedido de RJ ou não.
A decisão é bastante danosa para os bancos, em especial se a companhia entrar em recuperação judicial, uma vez que estes ficam impedidos de executarem a companhia e eventualmente receberão um “haircut” da dívida.
Conhecido como um dos maiores grupos empresariais do país, o Grupo 3G já começou a ser escrutinado de outra forma.
Vale lembrar que depois de assumir a América Latina Logística em 2015, a Cosan decidiu republicar os balanços de 2013 e 2014 para reclassificação de linhas que inflavam o ebitda da companhia.
Pouco tempo depois, a Kraft Heinz, que é controlada pelo Grupo, passou por problemas semelhantes e teve que pagar uma multa milionária para a SEC, o xerife do mercado de capitais dos EUA. O mercado já começa a se perguntar se haveria algum problema parecido na Ambev (ABEV3), outra empresa controlada pelo grupo.
Americanas deve perder espaço para Magalu, Mercado Livre e outros competidores
Ainda é cedo para conseguirmos responder todos os questionamentos. No entanto, acredito que essa tempestade perfeita que está caindo na Americanas (AMER3) fará ela perder espaço perante as demais competidoras.
Para crescer, a empresa precisa investir e para ter uma folga de capital de giro, realizar dentre outras iniciativas, operações de risco sacado com os bancos. Como o business em que atua é capital intensivo e dado o contexto de provável pedido de Recuperação Judicial, acredito que a companhia precisará de alguns anos para ajustar a casa e, com isso, entregará market share para empresas como Mercado Libre (MELI34), Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3).
Um exemplo prático pôde ser visto dias depois da descoberta das inconsistências contáveis. Após a Americanas anunciar a quebra do contrato de patrocínio com o Big Brother Brasil, o Mercado Livre rapidamente a substituiu como principal patrocinador de um dos realities de maior sucesso da TV brasileira.
Seguiremos acompanhando todo o desenrolar dessa história com a devida diligência. Mesmo após a queda acentuada na última semana, não sugerimos posicionamento de compra e nem de venda nas ações e na dívida da Americanas (AMER3).
Por outro lado, seguimos com posição vendida (short) em Ambev (ABEV3).