De dezembro de 2022 a março de 2023, o Nasdaq 100, índice que representa a principal Bolsa de ações de tecnologia dos EUA, disparou em torno de 23%, surpreendendo o mercado depois de um 2022 bastante desafiador para as chamadas tech.
No entanto, ainda que pareça um indício de bull market, João Piccioni, analista de investimentos internacionais da Empiricus, traz um olhar mais apurado em relação a esse movimento. A seguir, o especialista resume em três pontos por que pensa ser apenas mais uma subida pontual do Nasdaq 100.
1. O Nasdaq 100 ainda está bem abaixo de suas máximas, em novembro de 2021
João orienta a olhar para um horizonte maior do que apenas os últimos três meses e relembra que o Nasdaq 100 segue bem abaixo do seu pico, de 16 mil pontos, em novembro de 2021. “No final de 2021, a expectativa de que as empresas da ‘nova economia’ dominariam a cena ainda permanecia bem viva na mente dos investidores — e o Federal Reserve nem pensava em aumento dos juros”, destaca o analista em relação aos dados mostrados a seguir.
2. Apenas nove ações do índice subiram
Segundo o analista, outro ponto relevante para tentar entender se esse movimento no índice é sustentável ou não é destrinchando quantas e quais companhias foram responsáveis pela alta. Se a disparada é compartilhada pelas diversas ações que o compõem ou se está concentrada em apenas alguns papéis.
“A situação do Nasdaq parece mais vulnerável do que o apresentado no número de tela. Os mais de 2 mil pontos do Nasdaq 100 foram, em sua maioria [77%], provenientes de apenas nove companhias (considerando as duas classes de ações da Alphabet). Alguns casos em específico chamam ainda mais atenção, como é o caso das fortes altas de Nvidia [14% do total, 90% de valorização no trimestre], Tesla [9%, +76%] e Meta [9%, +68%]”, explica.
3. Não tem tanto espaço assim para subir
Quando analisamos os fundamentos do índice, a luz amarela acende-se novamente.
É verdade que, diferentemente das estimativas para o S&P 500 — que ainda considera um leve crescimento nos lucros por ação —, os analistas acreditam em um recuo nos lucros para o Nasdaq 100. Mas, por outro lado, a expectativa para 2024 também já mostra uma forte recuperação, crescendo quase 20% em relação ao esperado para 2023.
“Sem contar que, olhando os múltiplos Preço/Lucro e Preço/Lucro projetado, a valorização neste primeiro trimestre do ano os levou para patamares similares ao observado antes da pandemia (o que já parecia esticado em comparação aos meses anteriores). E nem precisamos lembrar também que níveis acima das 30 vezes observado durante a crise da Covid-19 seja algo difícil de vermos no futuro próximo dado o aumento nos juros…”, explica.
4. A alta ser apenas de ‘gigantes’ da Nasdaq não é um bom sinal
João também alerta para o fato da alta recente estar calcada nas maiores empresas do mundo. Em sua visão, isso parece indicar que os investidores estão preocupados com as perspectivas para a economia global nos próximos meses.
“Afinal de contas, caso tudo estivesse bem, o natural seria esperar que as companhias menores apresentassem maiores ganhos, uma vez que possuem um maior potencial de retorno — até por questões de aritmética básica, uma vez que é muito mais ‘fácil’ uma empresa que vale US$ 1 bilhão dobrar de valor do que uma Apple, por exemplo”.
E, fazendo a mesma análise para o S&P 500, João avalia que a situação é ainda mais complicada: as altas de Apple, Microsoft, Nvidia, Tesla, Meta, Amazon e Alphabet correspondem por 88% dos ganhos do índice no ano, e o Top 10 representa quase 94% do movimento total.
Caso o Nasdaq 100 volte para a casa das 20 vezes seus lucros projetados, e considerando que as estimativas dos analistas para o ano estejam corretas, estamos falando de um índice que deveria estar mais perto dos 10 mil pontos do que os quase 13.200 atuais. Mesmo não sendo tão pessimista, caso volte para as 23 vezes, ainda seria uma recuo potencial de 12% do preço de tela.
“Claro que estamos incomodados com dias em que os índices vão muito bem e acabamos ficando para trás. Mas entendemos que as perspectivas ainda nubladas do ponto de vista macro não nos dão uma margem de segurança tão atrativa nos ativos de risco”, defende o especialista. “E para completar, esse mês tem início da temporada de resultados do primeiro trimestre. Isso com certeza vai mexer com os mercados — mas não vemos como um grande propulsor para um bull market mais robusto”, finaliza.