O plano de recuperação judicial divulgado pela Americanas (AMER3) na última segunda-feira (20) é “insuficiente”, na visão de Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research.
O documento prevê a recuperação em quatro partes:
- Aporte de capital de R$ 10 bilhões do trio de acionistas históricos com o intuito de assegurar os recursos mínimos necessários para a reestruturação dos créditos concursais (aqueles que já foram pagos pelos credores);
- três opções de negociação a fornecedores e quatro a credores financeiros, como investidores que detém as debêntures da empresa;
- alienação de bens, como um jato avaliado em mais de R$ 40 milhões, a unidade de negócios Hortifruti Natural da Terra, a participação na Uni.Co e na Vem Conveniência, join venture com a Vibra Energia;
- reorganização societária entre as recuperandas do grupo.
Os credores têm 30 dias – a partir da data da divulgação – para dar as considerações sobre o documento, que será votado em 90 dias.
Para Ferrer, os R$ 10 bilhões de aporte dos sócios da Americanas não devem satisfazer os credores, que, inicialmente, queriam algo em torno de R$ 15 bilhões – o rombo contábil descoberto pela empresa em janeiro já está na casa dos R$ 42 bilhões.
“Acredito que ao longo das próximas semanas os bancos e os demais credores vão sentar com a companhia para tentar fazer os ajustes. Ainda me parece muito pouco diante do que os bancos estavam pedindo”, afirma Ferrer.
Venda dos ativos é complexa
Mesmo que a venda de ativos seja acrescida aos R$ 10 bilhões de aporte dos investidores, o analista destaca que a operação não é tão simples, já que não depende apenas do lado vendedor, mas também do comprador.
A rede Hortifruti Natural da Terra, por exemplo, foi comprada pela Americanas em agosto de 2021 por R$ 2,1 bilhões. Agora, as notícias dão conta que os fundos de investimento interessados no negócio querem pagar metade do valor.
Um outro problema é que dos quatro ativos especificados no documento, apenas dois são 100% da companhia: o Hortifruti e o jato. A Uni.co e a Vem Conveniência, por outro lado, têm outros sócios envolvidos na operação, o que tornaria o processo mais difícil.
“Esses processos têm muito vai e volta. Se eventualmente a venda de ativo demorar 1 ano, ao invés de 1 mês, prejudicaria o fluxo de caixa da companhia e a recuperação”, afirma.
Credores da Americanas teriam que perdoar pelo menos 60% das dívidas
O analista lembra ainda que todas as opções oferecidas aos credores embutem um haircut (diminuição) da dívida de pelo menos 60%. “O banco de alguma forma também está entrando nesse barco com a companhia. O que eles estão pedindo, no final, é um aporte maior dos acionistas para que os dois entrem comprometidos juntos nesse processo que é muito difícil”, explica.
Por fim, Ferrer destaca a complexidade de um plano de recuperação judicial de uma empresa do porte da Americanas, uma das maiores varejistas do país. Para efeito de exemplo, a recuperação judicial da Oi teve uma duração de 6 anos, e depois de dois meses do fim da primeira, a companhia abriu uma segunda recuperação.
Essa complexidade, além da perda de credibilidade com bancos, fornecedores e clientes, deve fazer com que a Americanas perca ainda mais espaço no e-commerce, como vem acontecendo desde a descoberta do rombo.
“Ainda vai ter esse fluxo para as competidoras que vão se beneficiar do enxugamento da Americanas”, acredita Ferrer.
Apesar disso, a Empiricus Research não recomenda a exposição ao setor de e-commerce no momento, dado o cenário macroeconômico desfavorável.
Confira o vídeo com as considerações do analista: