Ontem à noite (10), a Multi (antiga Multilaser, listada com o ticker MLAS3), divulgou seus resultados referentes ao 3T22, com números fracos que deixam nítidos os impactos na inflação e do aumento de juros no bolso do consumidor.
A receita da companhia totalizou R$ 1,1 bilhão no 3T22, recuo de -6,3% vs 3T21, um dos auges de demanda do setor.
Além dos impactos macroeconômicos, algumas linhas de negócios da Multi são bastante dependentes do setor público (como as vendas de tablets e notebooks); com todos os olhos voltados para as eleições, foi natural vermos essa importante linha de clientes sofrendo contração nas vendas.
Neste ambiente difícil, a mensagem dos executivos foi a de priorizar os recursos internos, com uma reestruturação dos custos. Por isso, essa linha teve uma queda considerável de mais de -8p.p comparado a 2021, e manteve-se em linha com o trimestre imediatamente anterior.
Graças a boa gestão de custos e um mix de produtos com maiores margens, o lucro bruto totalizou R$ 341,4 milhões com margem de 30,4% (+7,5% e +3,3 p.p vs 2T22, respectivamente).
Com um crescimento de quase +30% nas despesas com vendas, mas equilibrado com uma redução de -11% com gerais e administrativas, e um resultado financeiro mais ameno com queda de aproximadamente -50%, o Ebitda da companhia ficou em R$ 123,8 milhões, redução de -13,5% vs 2T22 e margem de 11% (-1,2 p.p vs 2T22).
Empresa opera com custo de dívida inferior à média
Algo que sempre ressaltamos é que a Multi roda um custo de dívida muito inferior ao que encontramos numa empresa média da Bolsa: parte da sua dívida é em dólares, alinhado à representatividade dos componentes importantes na matriz de despesas e parte das despesas são financiamentos públicos, que rodam abaixo do CDI.
O lucro líquido da Multi fechou o período em R$ 68,6 milhões, uma expansão de +23% vs 2T22, mas uma queda de -70% se comparado com o forte período do ano anterior. A margem líquida, de 6,1% representou um aumento de 1,4 p.p vs 2T22.
Não só na Multi, mas em outras empresas listadas no exterior, como a gigante Logitech, costumam apresentar alta volatilidade nos resultados, fruto da natureza discricionária da venda dos seus produtos e serviços.
A companhia, que sinalizou um foco maior em geração de caixa, teve um fluxo de caixa aplicado na operação de R$ 190,2 milhões, um bom crescimento de +6,6% vs 3T21. A dívida líquida de R$ 443,6 milhões com um múltiplo por Ebitda de 0,8 vez, mostra um nível bastante saudável de alavancagem.
Apesar de afetada pelo cenário macro, MLAS3 é recomendação de compra
Embora o resultado não tenha surpreendido positivamente as nossas expectativas, entendemos que o período segue muito desafiador para o varejo e que o setor público retornará naturalmente nos próximos trimestres.
A boa gestão de redução de custos e priorização pela geração de caixa combinados com uma possível melhora no próximo ano nas condições macro, faz a empresa ter grandes oportunidades de crescimento pela frente.
Negociando a 5,2 vezes preço por lucro, MLAS3 é uma das recomendações da série Microcap Alert.