Ontem (13) foi a última Super Quarta do ano, dia em que coincidem as reuniões de política monetária do Banco Central do Brasil e do Federal Reserve, nos EUA.
Por aqui, o Copom decidiu cortar em 50 pontos-base a Selic, taxa básica de juros, pela terceira vez consecutiva, que caiu de 12,25% para 11,75% ao ano. Já o Fed manteve os juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano, mas comunicou que deve contratar três cortes para o que vem, o que deixou o mercado em êxtase.
O Ibovespa, principal índice de ações brasileiras, respondeu, ontem, com uma valorização de 2% – e a maior parte da disparada aconteceu na parte da tarde.
Para Matheus Spiess, analista de macroeconomia da Empiricus Research, o aumento dos ânimos do mercado derivaram do comunicado mais “dovish” feito pelo FOMC, nos Estados Unidos, antes da decisão final do Copom.
Nesta quinta (14), o benchmark continua subindo 1% até às 15h.
“A decisão nos EUA já alterou em partes as expectativas dos investidores para que houvesse espaço para uma aceleração do corte da Selic no Brasil. E soma-se a isso o IPCA de novembro melhor do que o esperado e PIB brasileiro fraco, que corroboram para mais reduções dos juros”, explica Spiess.
Segundo o analista, alguns economistas e investidores teriam ficado frustrados com o fato de o Copom não realizar, nem sinalizar para o futuro, uma queda de 75 pontos-base na taxa em vez de 50 pontos-base.
“É normal que seja uma mudança mais gradual. Historicamente, ciclos de flexibilização monetária responsáveis são graduais. O próprio Ilan Goldman [ex-presidente do BC] foi duramente criticado quando diminuiu aos poucos a Selic dos 14% ao ano para 6,5% e depois ganhou o prêmio de melhor presidente do Banco Central”, comenta.
O analista considera, ainda, que Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, tem feito um trabalho alinhado à diretoria, indicada pelo presidente Lula. “Campos Neto teve seus deslizes, mas parece alinhado à equipe e deverá continuar fazendo um bom trabalho, no caminho de convergir para uma Selic a 9% ao ano ao final de 2024”.
Existe espaço para acelerar os cortes da Selic?
Assim como no caso do Fed, o analista lembra que quaisquer decisões vão depender dos próximos dados econômicos. são os próximos dados econômicos que irão balizar quaisquer decisões.
“Se os indicadores continuarem indicando que a aceleração pode vir, assim será. Mas conservadorismo também faz parte do jogo. Inclusive, considerando o balanço dos riscos internacionais e domésticos, o BC com certeza vai levar em conta o déficit público antes de decidir acelerar ou não”.
A Bolsa pode subir mais?
Na visão de Spiess, sim. “É comum termos um rali de fim de ano, principalmente nos EUA, e já estamos nele. Nós havíamos falado que era provável que nesta época tivéssemos entre 130 mil e 135 mil pontos no Ibovespa e já estamos nesse patamar. Daqui até janeiro esse ânimo deve se manter”.
O analista continua acreditando em um retorno dos múltiplos das ações para a média histórica do Ibovespa. “Hoje, o índice negocia a 9x preço/lucro; a média histórica é 12x P/L. Então, mesmo com a valorização que estamos vendo, ainda há espaço para convergir, pelo menos, à média. Só isso, sem considerar crescimento de lucro das companhias, já deveria impulsionar a Bolsa para novos patamares ano que vem. Dito de outra maneira, ainda estou construtivo para ativos locais“.