Quando assumiu a presidência da Argentina, há cerca de um ano atrás, Javier Milei tinha em mãos um país que enfrentava uma inflação de três dígitos e um histórico persistente de endividamento e desequilíbrios fiscais.
Para enfrentar os profundos desafios econômicos do país, o governante estabeleceu um plano radical e ambicioso, focado em uma drástica redução de gastos públicos e em reformas estruturais audaciosas. Agora, as medidas aparentam começar a dar frutos.
Medidas de Milei são bem sucedidas? Entenda
“Embora as medidas de Milei tenham enfrentado resistência inicial, elas foram desenhadas para corrigir muitos anos de políticas fiscais insustentáveis, características do kirchnerismo”, comenta o analista de macroeconomia da Empiricus, Matheus Spiess.
Desde sua posse, Spiess lista que Milei conseguiu:
- Reduzir mais da metade dos ministérios;
- Implementar cortes expressivos nos salários de funcionários públicos;
- Desvalorizar a moeda local;
- Estabelecer restrições rigorosas ao crescimento das pensões;
- Pagar US$ 4,3 bilhões em títulos da dívida soberana graças ao superávit de 2024.
“A mudança drástica no pêndulo político gerou uma transformação na política econômica, com melhorias consistentes em vários indicadores macroeconômicos. Essa reviravolta também impulsionou uma forte valorização dos ativos financeiros argentinos, posicionando-os entre os destaques globais”, avalia Spiss.
Desde o terceiro trimestre de 2023, a Argentina parece finalmente ter saído da recessão, com dados mais recentes indicando uma saída da crise enfrentada pela terceira maior economia da América Latina.
O analista salienta ainda que o Produto Interno Bruto (PIB) deve apontar uma contração em 2024, “um efeito estatístico herdado de 2023”, mas que o Índice de Atividade Econômica (EMAE), elaborado pelo Indec, já aponta para uma recuperação.
“A trajetória recente do país sugere uma recuperação em “V”, marcando um ponto de inflexão na história econômica argentina e demonstrando que, embora dolorosas, as reformas estruturais podem gerar resultados significativos em termos de estabilidade econômica e crescimento sustentável muito mais rapidamente do que se pensava”, ressalta.
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Recuperação argentina deve vir despacito
Na visão do analista, a recuperação da atividade econômica na Argentina deverá ser gradual, impulsionada por uma retomada lenta e consistente do consumo, com base na melhora da renda real.
Além disso, desenha-se um cenário mais otimista no mercado de crédito, impactado pelo recuo forte da inflação mensal – que chegou a 25% em dezembro de 2023 – para 2,4% em novembro de 2024.
“Essa conquista reflete o impacto imediato das medidas de austeridade e ajustes estruturais de Milei, que têm repercutido de forma contundente sobre os preços ao consumidor”, comenta o analista.
Custos sociais da recuperação econômica
Não escapa ao radar do analista que a conquista econômica de Milei trouxe “custos sociais significativos” ao país. Entretanto, ele aponta que, em paralelo, a desaceleração inflacionária gera reflexos positivos na taxa de pobreza do país (em uma trajetória de redução), sustentada pelo crescimento gradual dos salários reais.
A taxa de pobreza atual na Argentina reside em 36,8% da população, marcando uma queda expressiva em relação aos 52,9% registrados no início do governo, segundo a estimativa nowcast da Universidad Torcuato Di Tella.
“Embora ainda seja enfatizado o aumento da pobreza na Argentina durante o governo Milei, é crucial destacar que os dados em questão ainda refletem o cenário do primeiro trimestre de 2024, quando os efeitos das reformas recém-implementadas ainda não haviam se consolidado. A situação tem mudado”, conclui Spiess.
Analista enxerga que Brasil tem a aprender com Argentina
A bolsa brasileira, na opinião de Spiess, ainda pode aprender muito com a Argentina.
Lá, o mercado foi hábil em antecipar a recuperação econômica, apresentando uma reação positiva desde junho de 2022 – 16 meses antes da eleição de Milei em novembro de 2023.
“Transformações significativas no ambiente político e econômico costumam ser refletidas de forma antecipada nos preços dos ativos. O sucesso de Milei na Argentina levanta questões inevitáveis para o Brasil.
Por isso, o analista acredita que, em 2027, com uma possível guinada no pêndulo político nas eleições de 2026, o Brasil também possa implementar mudanças de grande impacto e colher frutos semelhantes.
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