Na última quinta-feira (15), aconteceu o Azzas 2154 Day One, o primeiro encontro com investidores após a fusão entre Arezzo &Co e Grupo Soma, realizado na sede da Hering em Blumenau (SC).
Segundo Larissa Quaresma, analista de ações da Empiricus Research, o evento deu mais clareza sobre o valor e prazo das sinergias, além de apresentar os focos de expansão para os próximos anos: “Consideramos que foi positivo, principalmente por demonstrar que a execução das sinergias já começou – algo impressionante, dado que a combinação aconteceu há apenas 21 dias”.
Sinergias entre Arezzo e Grupo Soma: o foco é nas receitas
Nas palavras dos executivos, a união entre as duas varejistas de moda é “uma fusão de sinergias de receita, e não de despesas“.
Para Quaresma, o posicionamento da companhia reforça otimismo da Empiricus Research com a ação: “Vemos com bons olhos, porque as economias de despesas ocorrem em quase qualquer fusão, inclusive nesta. Por outro lado, são as sinergias de receita que demonstram o verdadeiro sentido do negócio”, avalia.
“Isso não significa, contudo, que as economias de custos serão relegadas“, reforça a analista. Ela explica que essa frente será trabalhada na segunda fase da integração, dividida em um total de três etapas, conforme descrito na tabela abaixo.
Fase 1: sinergias de receita entre Hering e Farm
Na primeira etapa, o foco está nas sinergias de receita com Hering e Farm, o que, segundo Quaresma, deve trazer R$ 1,1 bilhão em venda incremental até 2027. Isso inclui linhas de acessórios nas duas marcas (R$ 673 milhões), expansão das multimarcas Hering (R$ 240 milhões), e melhor gestão deste canal (R$ 181 milhões).
“Esta fase, grande foco dos ganhos, está com o planejamento feito e já se encontra em execução, com novas receitas começando já em 2024”, comenta.
Como mostra o quadro acima, calçados, bolsas e acessórios representam cerca de 20% da receita de marcas internacionais de luxo (referência para a Farm), e 10% das de luxo acessível (referência para a Hering).
Mirando esses percentuais e usando a experiência com a Reserva Go, linha de acessórios da Reserva que atingiu R$ 240 milhões de receita em 2023, a companhia está lançando essas categorias na Farm e na Hering.
“Batizadas de FARM etc. e Hering Shoes, essas linhas já foram apresentadas aos canais B2B (franquias e multimarcas) e estarão nas lojas em outubro, a tempo de capturar o melhor trimestre do ano para o varejo. Essa frente deve gerar R$ 36 milhões em receita incremental em 2024, evoluindo até R$ 672 milhões em 2027″, explica Quaresma.
Fonte: Azzas 2154
Segunda frente da fase 1: maior capilaridade do canal multimarcas da Hering
A segunda frente da fase 1 envolve a expansão do canal multimarcas da Hering. O objetivo é aplicar uma nova abordagem: mais regionalizada, com maior adensamento das lojas em regiões metropolitanas e cidades pequenas, além de incentivos que promovam mais alinhamento dos lojistas com a marca.
“Essa frente, batizada de ‘go-to-market (GTM) multimarcas Hering’, objetiva aumentar tanto a capilaridade (‘footprint’) da rede, quanto a representatividade da marca no sortimento dos lojistas (‘share of wallet’), alavancando a experiência da Arezzo &Co nesse canal. Com isso, deve trazer R$ 18 milhões em receita incremental em 2024, progredindo até R$ 240 milhões em 2027”, contextualiza a analista.
Fonte: Azzas 2154
Última frente da fase 1: melhor reposição de produtos
Finalmente, a última etapa de sinergias consiste na melhor reposição de produtos nos multimarcas Hering.
Chamado de responsividade in-season, esse aspecto da integração pretende levar o alto nível de reatividade já usado nos canais próprios (lojas próprias e e-commerce) para o canal multimarcas.
“Isso envolve a redução de ruptura dos itens mais perenes da marca, produção mais rápida de produtos de coleção que deram certo e remarcação de preço preventiva para reduzir o percentual de sobra de produtos. Essa frente deve começar a gerar receitas incrementais em 2025, podendo chegar a R$ 181 milhões em 2027”, calcula.
Com isso, segundo ela, a fase 1 totaliza R$ 1,1 bilhão em receitas incrementais no terceiro ano cheio pós-fusão.
Fonte: Azzas 2154
Fase 2: enxugar custos e despesas em todo o grupo Azzas 2154
Para buscar a meta da fase 2, de acordo com Quaresma, isso envolve a otimização das despesas logísticas, comerciais, administrativas e tributárias, além da utilização da fábrica da Hering por outras marcas do Azzas, em um segundo momento.
“Esta frente está em planejamento, que deve ser finalizado em outubro, quando poderemos ter uma quantificação dos ganhos. A intenção do CFO é que o orçamento 2025 já incorpore uma base de despesas mais ‘otimizada'”, explica.
Para isso, a companhia pretende fazer as seguintes racionalizações:
- Logística: combinação de rotas, adensamento de cargas, ganho de escala em contratos de frete, maior utilização de centros de distribuição;
- Administrativo: centros de serviço compartilhados (RH, financeiro, etc);
- Marketing: ganho de escala em contratos de mídia direta e indireta, produção de conteúdo;
- Tecnologia: descontos na utilização de nuvem, contratos de telecom, compartilhamento de data centers;
- Tributos: base de lucro ampliada para o aproveitamento de JCP, utilização do ágio de amortização da Hering para abatimento de impostos devidos, aproveitamento do prejuízo fiscal da operação internacional para abatimento de impostos na Farm Global.
Vale notar que a companhia previu R$ 146 milhões em despesas não-recorrentes relacionadas à implementação da fusão, incluindo advogados, bancos, consultorias e um bônus de retenção de executivos.
“O lado positivo é que todas essas despesas serão reconhecidas em 2024, de forma que ano que vem já começa com uma base mais limpa”, observa Quaresma.
Finalmente, a fase 3 trabalha novas fronteiras de receita.
“Essa fase envolve o licenciamento de novas marcas, nos moldes da vinda da Vans para o Brasil em 2019; além de novas alavancas de receita, como programas de fidelidade nas diversas marcas do grupo. Essa fase deve começar a ser planejada na virada do ano”, explica.
Expansão: potencializando Hering e Farm
Além das sinergias em si, o evento deixou claro que as marcas Hering e Farm devem ser os grandes focos de expansão nos próximos anos.
“A Hering deve fazer isso por meio dos canais monomarca (lojas próprias, franquias, e-commerce), o que inclusive potencializa as mencionadas sinergias do canal multimarcas. A Farm, por meio da expansão em todo o mundo, com foco em América Latina, EUA e Europa, usando uma abordagem multicanal”, detalha Quaresma.
A expansão da Hering vem após um período de melhoria nos indicadores de desejo de marca, tornando-se a segunda colocada do seu nicho na pesquisa “Top of Mind” de 2024. Partindo desse melhor posicionamento, o plano é expandir os canais monomarcas:
- E-commerce: o plano é levar o faturamento para R$ 690 milhões em 2027, +73% em relação aos R$ 400 milhões planejados para 2024.
- Lojas próprias: abertura de 135 lojas próprias até 2027, na prática triplicando esse canal da marca. As aberturas serão no modelo “megalojas”.
- Franquias: abertura de 222 franquias até 2027, o que levará a um aumento de 35% neste canal. As franquias também estarão no modelo “megalojas”.
A expansão dos canais monomarca aumenta o desejo pelos produtos, o que, por sua vez, pode potencializar a mencionada expansão da receita dos multimarcas, uma das frentes de sinergias.
A expansão da FARM, por sua vez, tem foco no internacional, dividido em duas frentes: FARM Latam e FARM Global.
Na América Latina, Quaresma explica, o projeto partiu de uma análise do tráfego do e-commerce nacional da marca, com identificação de uma grande parcela das compras proveniente de países latinoamericanos. Daí partiu o plano de crescimento nos países vizinhos por meio dos canais de e-commerce e atacado, com os mesmos produtos e preços já praticados no Brasil
Já na FARM Global, que abrange as vendas da marca principalmente em mercados desenvolvidos e balneários, os produtos e preços são diferentes dos praticados no Brasil.
Ainda assim, para a analista, há muito potencial: a FARM já está presente nessas regiões há 10 anos, com receita correspondente a US$ 117 milhões em 2023. “A expansão terá uma abordagem multicanal: potencial de 40 lojas próprias nos EUA e 20 na Europa nos próximos anos; ampliação da presença em lojas de departamento e multimarcas; e um e-commerce dedicado aos mercados desenvolvidos”.
O que esperar da Azzas 2154 daqui pra frente?
“Do nosso lado, entendemos que as sinergias de custos e despesas ainda estão sendo planejadas, e podem ser divulgadas em um futuro próximo. Além disso, a companhia parece bem focada na execução dessas economias; portanto, não temos grandes preocupações nessa frente”, afirma Quaresma.
Inclusive, a analista acredita que ainda possa haver revisões altistas nos números do mercado, dado que a a companhia ainda não divulgou as sinergias de receita – que representam incrementos de 2%, 5% e 7% na receita total de 2025, 2026 e 2027, respectivamente, segundo a Azzas informou na época da fusão.
“Em contrapartida, a companhia não divulgou estimativas de economias em custos (fábrica da Hering) e despesas durante o evento, o que gerou alguma reação negativa por parte do mercado“, pondera.
Por fim, Quaresma reforça que provavelmente os resultados do 2S24 ainda estarão poluídos pelas despesas relacionadas à fusão e as sinergias ainda em fase inicial. “Entretanto, a companhia entra em 2025 com uma base de despesas mais limpa e capturando um valor mais relevante de ganhos”, pontua.
Negociando a um múltiplo EV/EBITDA de 12,6x (sem sinergias), Azzas 2154 (AZZA3) se mantém entre as recomendações da Empiricus Research.