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Investimentos

B3 Day (B3SA3): veja a nossa avaliação do encontro com investidores da companhia

Evento não mudou perspectivas com relação à companhia, que deve continuar com uma alta rentabilidade e crescimento de lucro para o próximo ano

Por Larissa Quaresma, CFA

20 dez 2023, 15:05 - atualizado em 20 dez 2023, 15:05

B3 B3SA3

Acompanhamos o encontro com investidores da B3 (B3SA3), realizado na sede da companhia, no Centro Histórico de São Paulo.

O evento não mudou nossas perspectivas de forma relevante: continuamos a esperar um 2024 com crescimento em volume de negociação, alavancagem operacional e inovações incrementais nas várias verticais da companhia. Entretanto, nada que seja transformacional ou disruptivo para o negócio. Abaixo, detalhamos os principais pontos do B3 Day.

Contextualizando a tese em B3…

Nos últimos anos, a B3 atravessou um importante bull market (2017-2021), muito positivo para o seu negócio, e, depois (2022-2023), um bear market, mas mantendo relativa resiliência de receitas. 

Durante o bull market, a companhia focou na estabilização dos seus sistemas para capturar o mercado em alta. As inovações eram focadas no negócio principal: oferecer infraestrutura de investimentos para operadores de mercado, tanto os institucionais quanto os de varejo. Nessa frente, a companhia lançou soluções como minicontratos de índice, negociação de BDRs por pessoas físicas, minicontratos de câmbio e produtos de juros em reais.

Então, a partir de 2021, a companhia buscou diversificação para além do negócio principal, com a compra da Neoway (2021), uma empresa de dados focada no setor de varejo; e da Neurotech (2023), focada em soluções de IA para crédito, risco e seguros. Ademais, a companhia desenvolveu, organicamente, produtos de dados do mercado de capitais e de crédito, além de soluções para negociação de créditos de carbono e ativos digitais.

Fonte: B3

Nesse período de quase 5 anos, a receita cresceu à taxa média de 13% ao ano, sendo metade disso proveniente das inovações descritas acima. Hoje, embora a negociação de ativos ainda seja responsável por 75% da receita, a companhia já é bem mais diversificada que em 2017, quando essa vertical era 86% do negócio. 

Planejamento para os próximos anos

A visão de futuro parte de um novo patamar do mercado de capitais brasileiro: antes, os formadores de mercado e as tesourarias de grandes bancos eram os principais clientes; hoje, são as gestoras de investimentos e o investidor de varejo.

O plano para os próximos anos é trazer inovações para esses clientes, tanto nos negócios principais quanto nas frentes de diversificação de receita (dados e tecnologia). Entretanto, entendemos que a abordagem é orgânica e incremental – não esperamos nenhuma aquisição transformacional no futuro próximo.

Na tradicional vertical de Listados, a companhia entende que a competição já é uma realidade, na medida em que bolsas internacionais atraem emissores para fazerem seus IPOs no exterior, e investidores, para negociarem em mercados de maior liquidez.

Nesse sentido, a B3 acredita que manter o mercado brasileiro atrativo envolve garantir níveis cada vez maiores de liquidez, e uma base de investidores cada vez mais diversificada. Para tal, a companhia pretende trabalhar os seguintes produtos:

  • Block trade, serviço em que investidores institucionais negociam um lote grande de ações sem passar pelo livro de ordens padrão do mercado listado;
  • Opções com vencimento semanal;
  • Horário estendido de negociação para atender melhor ao investidor de varejo que trabalha em horário comercial;
  • Plataforma ReVar, que facilita o cálculo do imposto de renda para a pessoa física e que terá dados compartilhados com a Receita Federal;
  • Simplificação ainda maior da portabilidade de investimentos entre corretoras; e
  • Simplificação e barateamento do cadastro para investidores estrangeiros operarem no Brasil.
Fonte: B3

Na frente de Balcão, em que predomina a negociação de renda fixa, derivativos e cotas de fundos, a estratégia é ganhar mercado com instrumentos onde ainda há pouca competição. É o caso das dívidas bancárias, cuja negociação ainda é incipiente no Brasil; e do registro de recebíveis e de duplicatas para fundos de investimento, por exemplo.

Já em Infraestrutura para Financiamento, a companhia está migrando os clientes para uma nova plataforma, o que deve acontecer até o final de 2024. Além disso, está nos planos entrar no mercado secundário de crédito imobiliário, a partir de uma regulamentação que entra em vigor no 2o semestre de 2024; consórcios; e uma plataforma de cobrança para credores, desenvolvida para o programa Desenrola e que a companhia pretende oferecer como um produto.

Por fim, nas frentes de diversificação para além dos investimentos,  a companhia está com um “roadmap” maduro.

  • Em Dados & Analytics, os esforços estarão concentrados em 4 verticais: Capital Markets, com dados de mercado e produtos de análise de dados; Loss Prevention, com prevenção a fraude em seguros; Sales & Marketing, focado em geração e segmentação de leads comerciais; e Crédito, com uma gama de soluções em crédito ainda em desenvolvimento.
  • Em Plataformas de Tecnologia, o foco estará no desenvolvimento de soluções de front, middle e back office diretamente para fundos de investimento (buy-side) e também para bancos (sell-side).
  • Por fim, a parte de Digital Assets, que foca na negociação de criptoativos, focará em 3 produtos, já em fase de implantação junto aos clientes. O primeiro é o Digitas Hub (“Crypto as a Service”), uma solução white label para instituições financeiras que pretendem oferecer negociação de criptoativos aos seus clientes. O segundo é o Plataforma Digitas, que oferecerá infraestrutura institucional completa para operar produtos digitais, em um modelo B2B. Por fim, o terceiro será o Digitas Check, plataforma para garantir o lastro de operações com ativos digitais.
Fonte: B3

Atualmente, a companhia não vê uma grande ameaça de competição, um ponto muito observado pelo mercado nos últimos anos. Novos entrantes podem até competir em alguns serviços, mas a companhia considera ainda difícil que venham a operar nos negócios principais, ligados a infraestrutura de negociação e que demandam investimentos mais pesados.

Guidance da B3 para 2024

A companhia divulgou, também, seu guidance para 2024, que prevê um crescimento de despesas em função do primeiro ano cheio da adquirida Neurotech dentro da operação da B3.

Mesmo assim, os números vieram em linha com a nossa expectativa. Por fim, a companhia pretende distribuir entre 90% e 120% do seu lucro aos acionistas, mantendo a política de passar todo o caixa excedente aos detentores das ações.

Fonte: B3

Conclusão

Após um ralí de 32% desde o final de outubro, B3 saiu de um múltiplo P/L 2024 de 13,6x para 16,6x atualmente, o que não consideramos exatamente barato.

Ainda assim, a companhia deve continuar com uma alta rentabilidade e crescimento de lucro para o próximo ano. À luz das novas informações, estamos revisando nossas projeções e traremos novas informações em breve.

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de Ações focada em Bancos e Instituições Financeiras, integra a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Mais de 5 anos de experiência em análise de empresas, com passagens pela Núcleo Capital e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, com certificações CFA, CNPI e CGA.