Investimentos

BDR da Disney (DISB34): vale a pena investir no Mickey?

A integração entre o físico e o digital é o grande movimento da Disney atualmente

Por Matheus Egydio

05 mar 2021, 04:35

Aqui na Empiricus, o BDR da Disney (DISB34) é sugerido nas séries As Melhores Ações do Mundo, Carteira Empiricus e MoneyRider, todas lideradas pelo nosso analista João Piccioni.

A maioria de nós já teve contato com “o mundo encantado” da Disney, seja visitando os parques ou consumindo suas criações cinematográficas. Portanto, neste artigo, vamos nos debruçar sobre a empresa de uma perspectiva diferente: a de investidores.

Além do artigo, preparamos um vídeo sobre a companhia, que você pode ver abaixo:

Voltando para cá, dividimos o conteúdo nos seguintes tópicos:

A história por trás do mundo da fantasia: de onde veio a Disney

Tudo começou em 1923, quando Walt Disney chegou na Califórnia com algumas ideias e… mais nada. Ele, até então, tinha criado um filme sobre uma menina num mundo animado — numa mistura de live-action com animação —, chamada Alice’s Wonderland (sim, da Alice no País das Maravilhas).

Walt Disney, à esquerda; Margie Gay (como Alice) no centro; e Roy Disney, irmão de Walt, à direita

A ideia era usar o filme como ponto de partida nos negócios, de forma que conseguissem vender uma série inteira de produções em seguida: “Alice Comedies”. Fora isso, a dupla de irmãos e sua pequena equipe de desenhistas não contavam com muito dinheiro e tampouco equipamentos de ponta.

A única saída era achar alguém que comprasse a ideia. Então, a busca por um distribuidor para suas criações começou e, ainda em 1923, encontraram a M. J Winkler, de Nova Iorque, que decidiu dar uma chance a eles.

Aqui, a trajetória da Disney entrou nos trilhos.

Isso porque Winkler entrou no projeto com tudo, pagando US$ 1.500 dólares por cada filme — o que era muita coisa naquela época. Assim, o Disney Brothers Cartoon Studio finalmente tinha fôlego financeiro para crescer.

Em 1927, criam o personagem Oswald, o coelho sortudo. O sucesso foi tão grande que houve uma reavaliação nos valores dos contratos e dos filmes.

Isso se os personagens pertencessem, juridicamente, a Walt Disney, é claro.

Em 1928, quando Walt foi a Nova Iorque, descobriu que o seu patrão Charles Mintz se apropriou dos direitos da Alice e do Oswald e, de quebra, contratou quase toda a equipe de desenhistas dele — restou apenas um, Ub Iwerks — ao oferecer pagamentos maiores.

Os estúdios da Disney não tinham mais nada, além da sua capacidade criativa.

Só que Walt tinha a consciência, em maior ou menor grau, tranquila, o que deixou claro ao enviar um telegrama ao irmão pedindo para que não se preocupasse. O motivo era um novo personagem que, na opinião de Walt, tinha tudo para ser icônico.

Um tal de Mickey Mouse.

Desenhado por Ub Iwerks, o personagem foi lançado em 1928 e aproveitou a mais alta tecnologia da época, isto é, filmes com som.

Mickey Mouse, como Walt imaginava, foi um divisor de águas

Depois disso, sucesso após sucesso, a empresa decolou até se tornar a referência em filmes e experiências que conhecemos atualmente:

  • Em 1927, apresenta a Branca de Neve e os Sete Anões;

  • Em 1940, emitem a primeira ação da Disney;

  • Em 1955, inauguram o primeiro parque de diversões; e

  • De 2006 a 2012, concluíram as aquisições da Pixar, da Marvel e da Lucasfilm.

A The Walt Disney Company é, hoje, um dos maiores conglomerados do mundo e possui ampla atuação no mundo do entretenimento.

Esse sucesso pode ser entendido como fruto da busca pelo encantamento dos seus clientes, tudo através “da aplicação de métodos de atendimento, seleção de colaboradores, processos, criação de ambientes e mais uma infinidade de detalhes”, destaca Piccioni.

Assim, a busca insaciável pelo bem-estar dos convidados e pela introdução ao mundo encantado é a lei.

Para ilustrarmos isso melhor, vale destacar que os postes da rua principal do Magic Kingdom, o mais tradicional dos parques, são pintados diariamente. A marca do grupo, portanto, é feita de toda essa preocupação com detalhes e com a precisão na execução.

Não por acaso, em pesquisa recente, quase 70% dos frequentadores dos seus parques de diversão afirmam já terem ido mais de uma vez.

Trata-se de uma companhia “com pilares robustos para um público amplo, que definitivamente não se restringe a faixa etária e nem gênero”, explica João.

Para irmos além das palavras, deixamos exemplos aqui e aqui.

A Disney (DISB34) pode transformar os sonhos dos investidores em realidade também?

Já entendemos a trajetória da Disney e sua atenção aos detalhes, que encantam desde crianças até idosos. Agora, vamos analisar ela como um possível investimento e, assim, concluirmos se vale a pena virarmos sócios do Mickey Mouse.

As linhas de negócio

As fontes de receita da Disney são divididas em quatro principais linhas de negócio:

  1. Redes de Televisão;

  2. DTC e Internacional;

  3. Parques, Experiências e Produtos; e

  4. Estúdios.

Na primeira linha de negócio, estamos falando de uma miscelânea de redes de televisão, canais a cabo, empresas de produção e distribuição associadas e, por fim, estações de televisão, das quais podemos destacar o Disney Channel e a Fox, adquirida em 2019 por US$ 72 bilhões.

De acordo com estimativas da Nielsen Media Research e da própria Disney, os canais do grupo possuem mais de 1 bilhão de assinantes.

Aqui, a Disney ganha por meio das “taxas cobradas das provedoras de serviços de telecomunicações, venda de espaço para publicidade e comercialização de direitos de transmissão de seus programas para terceiros”, explica Felipe Miranda, CIO da Empiricus.

Essa é a jóia da coroa da companhia quando o assunto é faturamento, que, em números, significou US$ 28,4 bilhões (40% do faturamento consolidado da companhia) nos últimos 12 meses.

Partindo para a segunda linha de negócio, temos a área de direct-to-consumer e internacional, que contempla os vários serviços de streaming direto ao consumidor (como o Disney+) e as unidades de negócios internacionais da Disney, ou seja, suas empresas controladas pelo globo.

Aqui, a Disney “alinha tecnologia, distribuição de mídia e vendas de publicidade em um único segmento de negócios para criar e oferecer experiências de entretenimento personalizadas aos consumidores ao redor do mundo”, aponta Piccioni.

O resultado dessa frente se traduz em um faturamento de US$ 16,9 bilhões nos últimos 12 meses, o que representa 24% do todo.

Na terceira linha de negócio, chegamos ao segmento where the dreams come true, ou seja, “o centro global que dá vida às histórias, personagens e franquias da Disney por meio de parques temáticos e resorts ao redor do globo, cruzeiros e experiências de férias e produtos, que vão desde brinquedos a roupas e de livros a videogames”, pontua Piccioni.

Assim, o dinheiro vem da “venda de ingressos para admissão nos parques, venda de comidas e bebidas em seus estabelecimentos, diárias de hotéis, pacotes turísticos e aluguel de propriedades, assim como patrocínios e royalties dos parques administrados por terceiros”, conta Felipe.

A variedade imensa de marcas fez com que o faturamento desta frente alcançasse US$ 16,5 bilhões nos últimos 12 meses, o que representa 23% do total.

Por fim, chegamos — ou retornamos, melhor dizendo — à quarta linha de negócio, o The Walt Disney Studios. Ainda que tenha sido a base da construção de todo o império Disney e conte com um portfólio robusto que inclui a Pixar, a Marvel e a Lucasfilm, o protagonismo aqui fica mais no encantamento do cliente do que nas finanças.

Através de filmes, músicas e peças de teatro, a Disney reforça sua qualidade e propósito na mente dos consumidores, afinal, quem nunca ouviu falar de filmes como O Rei Leão, Toy Story, Procurando Nemo, Homem-Aranha, Star Wars e Indiana Jones?

A geração de receita, portanto, é fruto da “distribuição de filmes, venda de ingressos, comercialização de direitos musicais e licenciamento da propriedade intelectual da empresa para outras produções”, explica Felipe.

Em números, essa linha faturou apenas US$ 9,2 bilhões nos últimos 12 meses, o que representa 13% do seu faturamento consolidado.

A pandemia

A Disney, como vimos na seção anterior, depende, em certo grau, da presença física dos seus clientes. É o caso dos parques e salas de cinema, que precisaram ficar fechados durante boa parte do ano no mundo inteiro.

Dessa forma, a linha de Parques, Experiências e Produtos e a de Estúdios foram verdadeiras âncoras nas vendas da empresa: “enquanto o primeiro faturou US$ 983 milhões (-85% vs. 3T19), o segundo vendeu US$ 1,7 bilhão (-54,7%)”, ressalta Felipe.

Além de perderem vendas por não poderem aceitar pessoas nos ambientes, a Disney se viu com uma estrutura de custos que permaneceu praticamente inalterada, uma vez que a manutenção, ainda que menos intensa, precisava ser feita.

Isso se traduziu num prejuízo de quase US$ 2 bilhões para a companhia e um desempenho bem aquém da sua capacidade.

A frente digital da Disney, na contramão das demais, cresceu quase 11% na comparação anual

Fonte: Disney | Elaboração: Empiricus

Há de ser destacado, no entanto, que as dificuldades enfrentadas pela empresa são momentâneas e, como bons investidores, devemos entender esse momento de baixa nos ativos como oportunidades para refletir se 2021 é um bom ano para comprar DISB34.

Para nós, na Empiricus, sim.

E os pontos que fundamentam essa tese, além da marca robusta que a Disney se tornou para os consumidores, são dois: vacina e Disney+.

Vale a pena virar sócio da Disney (DISB34) em 2021?

As duas frentes de negócio da Disney que foram mais castigadas pela pandemia poderão, com o progresso da vacinação em 2021, ver a luz do Sol novamente. E, para sermos francos, a volta por cima já está em andamento:

De trimestre em trimestre, a Disney busca recuperar os impactos de 2020

Partindo para o segundo ponto, no qual podemos nos aprofundar mais, o Disney+ é uma das iniciativas mais promissoras da marca até o momento.

Piccioni destaca que “as estimativas iniciais da gestão indicavam atrair entre 60 milhões e 90 milhões de usuários do produto até 2024; mas, no seu primeiro ano de existência, o Disney+ já reportou mais de 73 milhões de assinantes [no primeiro ano]”.

E o serviço de streaming ainda está presente em poucos países, frente aos quase duzentos da Netflix, que possui 192 milhões de assinantes e se configura como a principal concorrente.

Por falar na Netflix, vamos estabelecer um breve paralelo com os dados operacionais mais recentes dela.

A empresa divulgou que o número de assinantes na América Latina atingiu 36 milhões, onde o Brasil é o seu terceiro maior mercado (segundo a empresa de pesquisa britânica Comparitech), com 16,4 milhões de assinantes (45,5%).

E nós pagamos, em média, US$ 8 (cerca de R$ 43) por mês.

Então, “supondo que esse mesmo número de pessoas assine o Disney+ e assumindo que todos contratem o plano anual (US$ 69,99, um desconto de 17% na comparação com o mensal, que deverá custar algo em torno de R$ 35 por mês), o faturamento adicional da Disney poderia alcançar US$ 280 milhões por trimestre”, disserta Felipe.

Vale lembrar que estamos fazendo esse exercício apenas para o Brasil, ou seja, descartamos, para fins didáticos, o fato de que a empresa ainda está no processo de lançamento do Disney+ em outros países.

Mas vamos nos aprofundar mais sobre o potencial do Disney+.

O valuation da Netflix (NFLX34) é, aos preços atuais, US$ 222 bilhões e, quando levamos em conta o número total de assinantes divulgado pela empresa (cerca de 195 milhões), o valor da empresa por assinante é de US$ 1.139.

Vamos aplicar a mesma lógica para os serviços de streaming da Disney (DISB34), certo?

A quantidade de usuários atual — lembre-se que citamos 73 milhões no primeiro ano — subiu para cerca de 137 milhões e, dessa forma, essa parte do negócio estaria avaliada em US$ 156 bilhões. Assim, “supondo a manutenção do valor por assinante e que a Disney consiga atingir suas projeções em 2024, o valor de mercado desse segmento da companhia poderia superar os US$ 370 bilhões” aponta Piccioni.

Essas contas, no entanto, não são lineares, mas dão uma ideia do potencial que Piccioni enxerga para DISB34 daqui em diante.

Além disso, o portfólio da Disney contempla marcas como ESPN+ (esportes) e Hulu (produções mais dramáticas) que garantem vias de crescimento interessantes para o grupo.

O crescimento do ESPN+, por exemplo, excedeu 250% na comparação anual, mas ainda retém “apenas” 8,5 milhões de assinantes, ou seja, ainda possui muito espaço para crescer.

Assim, com o avanço das plataformas no mercado, o segmento passará a ter uma importância estratégica para a Disney, servindo como um tipo de “amortecedor para períodos difíceis a serem enfrentados no futuro”, explica Felipe.

Tudo isso pode ser sintetizado como upside (potencial de crescimento) para DISB34 durante 2021. Vamos entender, portanto, se o BDR da Disney (DISB34) está barato.

Piccioni fez diversos cálculos considerando os aspectos técnicos do negócio, desde a potencial margem líquida nos próximos anos, o desempenho dos seus ativos físicos (Parques, Estúdios, Redes de Televisão) e o múltiplo Preço/Lucro médio de cinco anos até a correlação entre as estimativas para o Disney+ e o desconto em relação ao valor de mercado por assinante do Netflix.

Em síntese, ele fez o trabalho duro.

A conclusão dele foi categórica: assumindo “um valor por assinante bem abaixo do observado com sua principal rival” ainda enxergamos “um potencial de valorização nas ações da empresa do Mickey e sua turma”.

Se “o desconto no valor por assinante for de 20%, estamos falando de um valor de mercado de US$ 325 bilhões que, somados aos ativos físicos, levariam a empresa a valer mais de US$ 500 bilhões nos próximos anos, 50% maior do que o valor atual (aproximadamente US$ 273, ou R$ 1.400 para o BDR)”, afirma.

No mais, devemos nos questionar: será que o Disney+ não merece ser tratado como premium pela sua capacidade de integração entre o mundo do streaming e seus ativos físicos?

Nesse caso, as ações da Disney poderiam valer ainda mais e, dessa forma, o upside se torna ainda mais atrativo.

No centro, os resultados tidos como base (neutros) nas contas do Piccioni

Conclusão

A nossa visão, aqui na Empiricus, para a Disney (DISB34) é centrada na combinação entre os novos serviços digitais e os ativos físicos de altíssima qualidade da companhia.

Para Felipe, exceto se “você considerar que nunca mais será possível visitar as experiências da empresa, nem mesmo assistir a seus filmes em uma sala de cinema, as ações ou BDRs da Disney são uma exposição ao mercado americano deveras importante”.

Além disso, ele destaca que “a parte de streaming vai dando um suporte para a empresa passar por este período turbulento e, quem sabe, se tornar tão grande quanto a Netflix é hoje”.

Para Piccioni, trata-se de um caso interessante de multiplicação de capital — o que mais poderíamos querer?

Na sua análise, “basta que as metas sejam cumpridas pelos administradores que, por sinal, ao levarmos em conta o histórico da empresa, tem tudo para entregar ótimos números mais à frente”.

Assim, considerando que comprar os papéis da Disney, aos preços atuais, é como pagar pelo digital e levar os ativos físicos praticamente “de graça”, sugerimos que você compre DISB34 e inclua o Mickey na sua carteira.

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.