As incertezas persistem. As três fontes de preocupação do mercado continuam sendo a dimensão da alta de juros nos Estados Unidos; os lockdowns na China e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
A atual crise, que reúne esse conjunto de fatores, não tem um nome específico, mas já levou a uma das maiores destruições de riqueza da história recente – mais intensa do que na bolha das companhias ponto com nos anos 2000 e chegando ao nível da crise do subprime em 2008, a bolha imobiliária americana.
“Em 2008, houve uma destruição de 19% da riqueza do mercado financeiro global, ou seja, da capitalização de mercado e, agora, já teve 14% destruídos, um valor de grande magnitude”, destacou Felipe Miranda, CEO e estrategista da Empiricus em sua live semanal deste domingo (15/05) no Instagram (ofelipe_miranda).
Eu acompanhei essa live e aproveito para compartilhar aqui o que ele comentou sobre os elementos que precisam ser monitorados de perto pelos investidores neste momento. Confira:
Comportamento dos juros nos EUA: a grande dúvida
O analista retomou o contexto. Jerome Powell, presidente do Fed (banco central americano) defendeu no segundo semestre de 2021 vinha defendendo a tese de que a inflação nos Estados Unidos era transitória, até que no final do ano, mudou sua postura, classificando a escalada de preços como preocupante e sinalizando a necessidade de subir os juros rapidamente para controlá-la. Essa virada foi chamada de Powell Pivot por agentes de mercado. De acordo com Felipe Miranda foi um dos maiores erros de política monetária, o que veio a ser admitido pelo próprio Powell.
A mudança de postura fez a curva de juros de mercado empinar e intensificou a volatilidade nas bolsas americanas, com fortes desvalorizações. O efeito negativo foi mais sentido pelas companhias de tecnologia e cases de crescimento, que possuem previsão de avanço nos lucros e receitas muito no futuro. Isso porque ao trazer os fluxos de caixa a valor presente com uma taxa de desconto mais alta, os valuations (valores intrínsecos) caem.
No entanto, na semana passada, Powell, em entrevista ao programa de rádio americano Marketplace, transmitiu um tom mais brando, destacando maior probabilidade de um ritmo de aumento de 0,5 ponto percentual nas duas próximas reuniões do Fed em vez de 0,75 ponto, o que trouxe um pouco mais de ânimo ao mercado. Conforme Felipe, a autoridade monetária está fazendo uma reflexão sobre toda a destruição de valor que já ocorreu e também sobre os impactos de uma elevação muito forte na Fed Funds Rate sobre o consumo. Mesmo assim, o cenário é incerto sobre o tamanho das altas nas taxas de juros da maior economia do mundo.
“Caminhamos sobre ‘gelo fino’. Existe uma probabilidade não desprezível de que o ajuste global dos valuations das techs ainda venha para baixo. Não acho que todo o processo de ajuste das taxas de juros de mercado esteja contemplado, há uma assimetria para cima nesses yields”, avalia o estrategista-chefe da Empiricus.
Segundo ele, a turbulência prosseguirá.
Ele recomenda, inclusive, para investidores que têm posições de risco no Brasil, ou seja, em ações de companhias brasileiras, que um hedge (mecanismo de proteção) possível no curto prazo é ter um short em S&P 500, ou seja, uma pequena posição vendida no índice.
Felipe decidiu fazer essa operação de short em bolsa americana na Carteira Empiricus no dia 5 de maio. Isso foi feito via ETF IVVB11.
Atividade na China e a guerra no Leste Europeu
No radar do mercado também está a economia chinesa, que vem sofrendo retração em função das medidas de isolamento social para conter a Covid-19.
Ele lembra que por alguns momentos no mês passado a preocupação com a China foi mais forte do que com os juros nos EUA, afinal, os lockdowns afetam 60% do PIB chinês.
Contudo, circulam notícias de que o governo chinês irá derrubar gradativamente as restrições até o retorno normal das atividades em junho. “Se isso de fato acontecer, a China poderá ensejar melhor dinâmica”, afirma Felipe, ponderando sobre as incertezas e desconfianças que ainda rondam em relação às informações oficiais por se tratar de uma ‘ditadura opaca’.
A reabertura gradual reduzirá a apreensão do mercado e tende beneficiar as commodities, avalia o analista. “Será um alívio para a própria economia chinesa, que é muito alavancada, incluindo o setor imobiliário. Portanto, pode evitar problemas sérios.”
Guerra no Leste Europeu
Os desdobramentos da guerra continuam nebulosos. Neste final de semana, começou a circular a informação que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, estaria muito doente e que haveria uma tentativa de golpe em andamento no país. “Surgiu essa especulação, ainda não muito abordada pela imprensa mais ortodoxa, de um possível golpe na Rússia”, contou.
Nesse cenário de conflito, o euro vem tendo forte desvalorização e poderá atingir paridade com o dólar depois de 20 anos.
“Um aspecto que não vem sendo muito tratado pelo mercado é a apreciação do dólar, que pode ser um aspecto de controle da inflação americana”, afirmou Felipe, conectando os pontos.
Em sua live, Felipe Miranda também analisou ações ligadas às commodities e exportações – Gerdau (GGBR4), 3R Petroleum (RRRP3) e Suzano (SUZB3), e comentou sobre alguns resultados corporativos do 1T22.
Te convido para assistir ao vídeo completo: clique aqui. Aproveite para marcar na sua agenda: todos os domingos, às 18h30, Felipe Miranda tem um encontro marcado com investidores como você no perfil dele no Instagram.