Investimentos

BERK34: vale a pena ser sócio do Warren Buffett?

BERK34, avaliado em US$ 538 bilhões, passa a ser negociada na B3.

Por Matheus Egydio

07 dez 2020, 08:24

As ações da Berkshire Hathaway podem ser compradas no Brasil por meio dos BDRs de de ticker BERK34. E caso não saiba o que são BDRs, aconselhamos a leitura do artigo sobre BDRs e internacionalização do portfólio.

Neste artigo, vamos contar a trajetória da empresa do megainvestidor Warren Buffett e os pontos mais relevantes sobre ela, deixando claro o motivo pelo qual nós, da Empiricus, indicamos sua aquisição.

O conteúdo deste artigo está dividido nos seguintes tópicos, para facilitar sua leitura:

Da crise ao sucesso: o caminho das pedras da Berkshire Hathaway (BERK34)

Hoje, a Berkshire Hathaway é um dos maiores grupos empresariais da economia americana. Comumente associada à lendária figura de Warren Buffet, o que poucos sabem é que a holding não foi fundada por ele e tampouco esteve sempre nos melhores dias.

Para entender mais sobre essa companhia que, agora, é negociada na B3 para todos os brasileiros, continue lendo este artigo.

A empresa antes de Warren Buffett

A Berkshire Hathaway era uma empresa têxtil, fundada no começo do século 20. Nos anos 50 e 60, ela passava por dificuldades e era negociada a cotações extremamente baratas.

O investidor Warren Buffett viu a oportunidade e comprou o controle da empresa. Utilizou todo o seu conhecimento para promover um turnaround. E então a companhia… continuou perdendo dinheiro a rodo.

Buffett fracassou.

“Comprar o controle da Berkshire [foi um erro]. Embora eu soubesse que seu negócio — manufatura têxtil — era pouco promissor, fui seduzido a comprar porque o preço parecia barato”, diria ele anos depois.

As fábricas acabaram definitivamente fechadas, mas Buffett usou o nome e o registro da Berkshire para passar a comprar outras empresas. A indústria têxtil deu lugar a uma empresa de participações, que era o que Buffett sabia fazer. Ficou só o nome e parte do mobiliário de escritório.

A dinâmica Buffett e Munger

E então deu certo.

Dos anos 60 até 2015, a Berkshire se valorizou mais de 1.800%. Algumas das participações que garantiram maior rentabilidade à empresa foram Coca-Cola (na carteira desde 1988) e American Express (desde 1993). Foi com a Berkshire que Buffett se mostrou um gênio da alocação de capital.

Ele não estava sozinho, porém.

Buffett foi muito influenciado por seu sócio e braço direito Charlie Munger. Buffett gostava de comprar empresas baratas. Munger gostava de comprar empresas boas, com vantagens competitivas claras e grande potencial. Em termos atuais, Buffett era value, Munger era growth.

Juntos, Buffett (à esquerda) e Munger (à direita) se tornaram imbatíveis

Mais tarde, o próprio Buffett acabou abandonando a filosofia de comprar qualquer coisa por estar barata. “Era como encontrar uma bituca de cigarro na rua e fumar, porque havia um trago grátis sobrando”, disse. Atualmente, ele deixa claro que, “exceto se você for um especialista em liquidar empresas [em estado falimentar], esse tipo de abordagem é uma tolice”.

Sua visão sobre investimentos, então, amadureceu até se encaixar na máxima criada pelo próprio: “é melhor comprar uma empresa excelente por um preço razoável do que uma companhia razoável por um preço excelente”.

O que a Berkshire Hathaway (BERK34) faz?

A Berkshire Hathaway (BERK34) se constitui como uma holding, ou seja, é uma companhia que detém muitas ações de outras empresas. Atua, portanto, como acionista, não produzindo bens e serviços por si própria.

Quando falamos da Berkshire Hathaway, temos dois tipos de carteiras: a de companhias privadas, ou seja, não negociadas em Bolsa; e a de ações.

Entre as não negociadas em Bolsa, estão empresas como Geico (uma seguradora) e Duracell.

Então as ações, estas são as principais:

  • Apple, que representa 47,8% do portfólio;

  • Bank of America, que representa 10,6%;

  • Coca-Cola, com 8,63%;

  • American Express, com 6,64%;

  • Kraft-Heinz, com 4,26%.

É uma carteira bastante concentrada. Juntas, essas cinco empresas representam 78% dos investimentos em ações.

Berkshire Hathaway na B3: ser ou não ser sócio de Warren Buffett, eis a questão

A holding — e os nomes por trás dela — é proeminente. Explicamos o que ela faz e de onde vem o dinheiro. Mas, para o investidor, funciona?

Muito. E podemos provar.

O grande ativo da Berkshire é muito simples: a capacidade dos seus administradores de identificar e comprar ações que vão se valorizar mais do que o mercado, demonstrada ao longo de muitas décadas.

O gráfico abaixo compara o rendimento da Berkshire Hathaway com o rendimento do S&P 500 (índice de ações atrelado às quinhentas maiores empresas dos EUA), de 1965 até hoje:

Berkshire Hathaway vs. S&P 500 (com dividendos)

Fontes: Berkshire Hathaway, Bloomberg e Empiricus

No fim de 2020, a companhia de Buffett (BERK34) conseguiu recuperar as perdas da pandemia, retornando “aos preços (em dólares) do início de 2020”, aponta Piccioni.

No mais, a atratividade de BERK34 é reforçada pelo próprio “Oráculo de Omaha”: a companhia recomprou US$ 9 bilhões de suas ações. Piccioni destaca que “esse movimento é emblemático, porque reforça a ideia de que o próprio Buffett enxerga as ações de sua holding descontadas em relação ao seu valor de mercado”.

Pontos de atenção: a Berkshire ficou para trás?

Buffett, durante muito tempo, preferiu a — hoje — “velha economia”. Assim, evitou empresas de tecnologia, preferindo setores mais consolidados (como bancos ou indústria de consumo).

É verdade que essa postura evitou algumas roubadas, como o estouro da bolha da internet em 2000, que deixou muita gente pobre e foi inofensiva para Buffett.

Nos últimos anos, porém, não ter tecnologia no portfólio significou perder dinheiro. As cinco maiores empresas americanas em valor de mercado são todas de tecnologia: Apple, Microsoft, Amazon, Google, Facebook. Há ainda outros exemplos extraordinários de multiplicação de valor, como Netflix.

Logotipos das Big Techs (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft)

E elas sabem como continuar crescendo: O Facebook comprou o Instagram em 2012 por US$ 1 bilhão, que hoje vale mais de US$ 100 bilhões; enquanto a Apple já supera US$ 2 trilhões de valuation, seguida pela Amazon com US$ 1 trilhão.

Considerando o histórico de Buffett de negligenciar esse segmento, podemos supor que a Berkshire ficou para trás?

Não, porque ele se readaptou ao contexto.

Como mostramos, a carteira de ações da sua holding (BERK34) expõe quase metade do seu capital à Apple (AAPL34), participação recorde que se preserva desde o 4T19.

O ciclo da vida

Paralelamente às dúvidas sobre a ascensão das big techs, outro assunto que preocupa os investidores — ou potenciais investidores — da Berkshire Hathaway é a longevidade de Buffett (90 aninhos) e Munger (96).

Há quem diga que eles são a Berkshire Hathaway e, sem eles, o negócio não vai andar. Mas Buffett tenta tranquilizar o mercado, afirmando que a empresa está 100% preparada para a eventual transição — ainda que não revele um nome.

Entre os mais cotados, estão Greg Abel (69 anos, há 21 na Berkshire), responsável por todos os investimentos da Berkshire em empresas de energia; e Ajit Jain (69 anos, há 34 na empresa), responsável pelos investimentos da Berkshire em empresas de seguros e resseguros.

É impossível cravar que qualquer um deles manterá a capacidade excepcional de Buffett e Munger de gerarem retornos, mas é inegável que a Berkshire tem uma cultura que transcende seus fundadores. Além disso, a dupla teve bastante tempo para passar seus conhecimentos e habilidades adiante.

O mercado, por sua vez, reflete sua insegurança no desconto do preço do papel (BERK34) em relação ao seu valor de mercado. E, se isso acontece enquanto eles ainda estão no comando, a reação quando saírem de cena é perigosamente imprevisível

Conclusão sobre a BERK34

A eficiência de Warren Buffett no mercado financeiro o consagrou como uma lenda desse segmento, sendo apelidado, quase de forma universal, de “oráculo” num ambiente onde impera a imprevisibilidade. Não é para qualquer um.

Sua holding (BERK34), por sua vez, se mostrou capaz de recuperar as perdas da pandemia e, como mostramos, o portfólio é diversificado. Historicamente, os lucros excederam o S&P 500 com folga, realidade bastante impressionante.

Acreditamos que, seja quem estiver tocando a Berkshire nos próximos anos, a empresa tem capacidade de manter sua habilidade de gerar retorno além do mercado.

Assim, mesmo que surjam dificuldades pelo caminho ou que rumores do mercado causem quedas momentâneas no valor do papel, o cenário de longo prazo e a margem de segurança aos preços atuais é atraente. Por isso, a recomendação dos nossos especialistas, aqui na Empiricus, é que você compre BERK34 e vire sócio de um tal de Warren Buffett.

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.