Investimentos

Bolsa a 150 mil pontos? Fim de ciclo de aperto monetário pode levar à expansão de múltiplos em 2023

Segundo Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, além de ser visto com bons olhos pelos investidores estrangeiros, o Brasil pode começar a reduzir a taxa de juros ainda este ano, abrindo espaço principalmente para ações de setores cíclicos domésticos

Por Daniela Rocha

04 abr 2022, 12:07 - atualizado em 16 maio 2022, 20:10

Apesar de todos os desafios do cenário macro e da guerra entre Rússia e Ucrânia, o Ibovespa teve valorização de quase 15% nos três primeiros meses do ano. Muito disso porque os investidores estrangeiros têm avaliado o Brasil sob uma perspectiva positiva. 

Segundo Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, nosso país se destaca politicamente por ser uma democracia – em vez de uma autocracia como diversos pares emergentes, incluindo Rússia, China e Turquia-, além de ser um grande mercado consumidor, localizado em uma região sem conflitos e de contar com grandes produtoras de commodities

Para o analista que lidera a série Palavra do Estrategista, a recente revisão dos dados do fluxo de investimentos internacionais pela B3, não muda essa avaliação, pois o saldo correto de mais de R$ 64 bilhões no ano não deixa de ser forte e a injeção de recursos tende a prosseguir. 

Mas não é só isso. Outro ponto relevante que desponta no horizonte poderá dar impulso à Bolsa: o fim do ciclo de ajuste monetário

Enquanto nos Estados Unidos e na Europa, os bancos centrais começam a se mover em direção aos aumentos nas taxas de juros, por aqui, como o processo teve início muito mais cedo, é possível termos uma discussão sobre queda da Selic já no final deste ano, conforme Felipe. 

Ele ressalta que a queda do dólar em relação ao real e a entrada na bandeira tarifária verde de energia no segundo semestre são fatores que contribuirão para o arrefecimento da inflação. E o próprio Banco Central tem sido explícito ao dizer que pretende parar com a taxa básica em 12,75%. 

“Falando de Bolsa, o que vai acontecer é que o mercado, vendo esse movimento, começará a olhar os múltiplos para 2023. Isso significa uma expansão de múltiplos, um rerating das ações”, disse Felipe Miranda em sua live semanal neste domingo (03/04) em seu perfil Instagram (ofelipe_miranda). 

Ele explicou a lógica por trás disso: com a subida da taxa de juros, o mercado paga menos na bolsa pelo mesmo lucro. Em outras palavras, quando a Selic está alta, os múltiplos diminuem para o mesmo nível de lucros. 

Já quando os juros caem, no indicador P/L (preço das ações/lucro), os preços andam assim como os lucros também tendem a crescer. 

“Tem gente muito séria e técnica no mercado começando a discutir a hipótese do Ibovespa a 150 mil pontos”, ressalta o analista. 

No horizonte, um ambiente propício para cíclicos domésticos

Segundo Felipe Miranda, ações cíclicas domésticas foram ‘amassadas’ nos últimos meses. 

Fazendo picking – uma seleção criteriosa, justamente aí é que estão os grandes upsides. A queda da Selic tende a beneficiar esses papéis. 

Ele menciona ainda o fato de algumas das mais renomadas gestoras de fundos do país voltarem os holofotes às small caps, que também sofreram muito nos últimos tempos. 

A Leblon, segundo matéria do Brazil Journal, está de olho nas small caps e até decidiu lançar um fundo 100% dedicado a PIPE, private equity in public equities. Conforme um dos sócios da casa, algumas dessas ações podem até triplicar num prazo de 3 a 5 anos. 

E, como não poderia faltar em sua live, o analista falou sobre algumas companhias com alto potencial. 

No setor de incorporação imobiliária, ele gosta de Mitre (MTRE3) e da Direcional (DIRR3). “São empresas que têm management de qualidade e bons produtos. Elas têm conseguido vender”, destacou.

Quanto à Direcional, ele avalia que a companhia tem capilaridade e conseguirá avançar à medida que o governo turbinar o programa habitacional Casa Verde Amarela, como está em seus planos. 

 “Negociando a 5 vezes lucro, com dividendo de 15% e ROI (retorno sobre investimento) de 22% é um case de growth, é para comprar”, disse na live. 

No setor petrolífero, ele diz que sua favorita é a 3R Petroleum (RRRP3). Após ter sido criticada pelo mercado e sofrer queda no preço na ação por conta da remuneração dos executivos, isto é, do pagamento de bônus acima da dinâmica do negócio – uma quantia que poderia ter sido diferida no tempo -, a companhia está atuando para aperfeiçoar a sua governança corporativa, destaca Felipe. 

Felipe considera positiva a recente notícia sobre a mudança no conselho de Administração, com a indicação do ex-CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, para chairman da 3R, e do ex-CFO da Gerdau, Harley Scardoelli, para integrar o board.  

“Prefiro a 3R, mas estou começando a gostar da PetroReconcavo (RECV3)”, diz.

Em relação ao varejo, ele recomenda a Centauro (SBFG3). A empresa, que é responsável pela operação da Nike no Brasil, tem demonstrado bom desempenho em vendas. “Resultado espetacular no segmento de esporte e, agora, tem o papo de Copa também. Porém, a Centauro não vende apenas tênis, pega todo o ecossistema do esporte. Está voando.”. 

Quer saber mais? Felipe Miranda comentou sobre outros tickers em sua live.

 Clique aqui e assista ao vídeo completo. 

Sobre o autor

Daniela Rocha

Coordenadora de Conteúdo na Empiricus. Jornalista com MBA em Finanças na FIA. Atuou nas editorias de economia da TV Cultura e da Band e foi colaboradora do Valor Econômico, Exame e RI.