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Bolsa tem maior seca de IPOs em 25 anos; isso pode mudar em 2024?

Desde 2021, a Bolsa não vê novas empresas abrindo capital. Para analista da Empiricus Research, o fenômeno pode ser atribuído a três fatores; confira

Por Nicole Vasselai

13 nov 2023, 14:46 - atualizado em 13 nov 2023, 14:46

IPO oferta pública inicial
Imagem: Freepik

Há quase dois anos, a Bolsa de Valores não vê novos IPOs (ofertas públicas iniciais) de empresas brasileiras. Esse é o maior período de seca em 25 anos.

Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, associa a falta de novas aberturas de capital a três grandes fatores:

1. A fase do juro “zero” acabou

Por muitos anos, os EUA tiveram taxa de juros próxima de zero e, logo após a pandemia, no Brasil, o juro foi para 2% ao ano. “Nesse cenário, é normal o investidor tomar mais risco. E nesse mesmo cenário muitas empresas fizeram IPO na Bolsa, e depois vimos que não fazia nem sentido a abertura de capital de muitas delas”.

2. Migração de recursos da Bolsa para a renda fixa

O segundo fator que teria freado os IPOs, ele cita, é o movimento de saída de um grande fluxo de recursos da Bolsa para a renda fixa a partir de fevereiro de 2022, quando a taxa de juros ultrapassou os 10% ao ano. “O investidor passou a poder ganhar 1% ao mês de retorno sem risco nenhum; isso naturalmente leva à redução da parcela de renda variável dentro de um portfólio”.

3. Retorno de IPOs têm perdido para o Ibovespa

Como último elemento para fechar essa conta, Ferrer adiciona o fato de o de retorno da maioria das ações que abriram capital nos últimos anos ter ficado abaixo do Ibovespa, índice de referência da Bolsa.

“Desde 2021, apenas 9 ações de 41 IPOs realizados estão valorizando e todas perdem para o Ibovespa”, exemplifica o analista. “Então é uma equação um pouco difícil de justificar e o investidor fica um pouco mordido pelo retorno baixo”.

Das poucas empresas que têm saído na frente, estão segmentos já bastante estruturados e menos dependentes de crescimento, como é o caso de PetroRecôncavo (RECV3), que atua em um setor resiliente, como cita Ferrer. “Outro caso é Grupo GPS [GGPS3], que é uma empresa ‘reloginho’, que há 20 anos faz aquisições de bens de concorrentes ou que tenham serviços similares aos seus”.

Por outro lado, empresas de tecnologia, que têm característica de crescimento, se destacam negativamente.

A Bolsa permite agora comprar ação boa, barata (e com histórico)

Na visão do analista, o cenário macro ainda estava muito desafiador por conta da taxa Selic ainda elevada. “Além disso, a tendência é algumas empresas acharem que ainda valem o mesmo que dois anos atrás, por exemplo. Então, se o controlador queria fazer IPO com um valuation de R$ 100 milhões, hoje ele teria que avaliar que o contexto mudou e a Bolsa está barata”.

Outro fator que corrobora para o desinteresse do mercado em novas ofertas de ações, segundo ele, é o curto período que o investidor tem para estudar uma empresa que nunca acompanhou antes.

É um risco muito grande, sendo que ao mesmo tempo é possível escolher entre ações que fizeram seu IPO há 10, 20 anos e que estão negociando 2 desvios-padrão abaixo da média. Empresas que trimestralmente mostram bons números, cujo management está sempre na mídia falando sobre a companhia, sobre o mercado de atuação”, explica.

Como exemplos, ele menciona Equatorial (EQTL3), uma das melhores companhias de utilities, que negocia a IPCA + 10%, e Localiza (RENT3), cujo valuation está no patamar de 15 vezes lucro.

O que esperar dos IPOs para 2024?

Ferrer acredita em uma possível “virada de chave” para o mercado no ano que vem, dado o ciclo de queda de juros no Brasil. O analista espera mais alguns cortes e uma taxa a 10,75% ao ano nas próximas reuniões do Copom. “Quando a Selic romper a barreira dos 10%, que é uma barreira psicológica para o investidor, ele vai precisar começar a se coçar, já que a ‘mamata’ de ganhar 1% ao mês no Tesouro Selic acabaria”.

Nesse contexto, ele vê possibilidade de um novo ciclo de IPOs começar a se formar no final do primeiro semestre de 2024, caso a redução de 50 pontos-base na taxa de juros por reunião se mantenha até lá.

Inclusive, esse otimismo também tem a ver, segundo o analista, com o interesse já demonstrado por algumas companhias em listar empresas das quais são controladoras. “A Cosan (CSAN3), por exemplo, tem alguns negócios embaixo dela que ainda não estão na Bolsa, como a Moove, que é um ótimo case de lubrificantes. Além dela, a Vale (VALE3) também já comentou de fazer IPO do seu segmento de metais básicos. Quem sabe o cenário do ano que vem não se torna propício para isso”.

Para conferir a entrevista completa de Fernando Ferrer sobre o assunto, é só dar “play” nesta edição do Giro do Mercado:

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.