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Bradesco (BBDC4) no 1T23: inadimplência não dá sinal de melhoras e continua a subir em ritmo acelerado

Apesar de resultados virem levemente acima do esperado, inadimplência do Bradesco preocupa; lucro cai 37% na comparação anual

Por Larissa Quaresma, CFA

05 maio 2023, 12:29 - atualizado em 05 maio 2023, 12:29

Bradesco BBDC4
Imagem: Divulgação

Ontem (4), após o fechamento do mercado, o Bradesco (BBDC4) divulgou seus números do 1T23, que vieram marginalmente acima da expectativa.

A surpresa positiva, entretanto, foi ajudada por um provisionamento menos conservador para inadimplência, que continua subindo, e por uma alíquota de imposto de renda menor

A carteira de crédito expandida ficou em R$ 879 bilhões, contração de 1% contra o 4T22, e expansão de 5% na comparação anual. O desempenho tímido é uma estratégia intencional do banco, que tem adotado uma abordagem mais conservadora.

A margem financeira com clientes (receita de juros menos custo de captação) foi de R$ 17,0 bilhões, com spread médio de 9,9%, ganho anual de 0,2 ponto percentual. O ganho de rentabilidade se deve ao crescimento ainda mais forte de linhas de crédito mais caras, à reprecificação das taxas e ao menor custo de captação.

Já a margem com o mercado, que reflete o resultado da tesouraria, teve uma melhora; mas ainda assim foi negativa: um prejuízo de R$ 312 milhões.

A evolução está em linha com o discurso: o Bradesco vem trabalhando para renovar a carteira de títulos da tesouraria, que tem um prazo médio de 1,5 ano, com perspectiva de a margem com o mercado virar para o positivo a partir do 2o semestre. A ver.

Com isso, a margem financeira total foi de R$ 16,7 bilhões, queda trimestral de 0,1%; e anual, de 2,4%.

Inadimplência continua a subir

A inadimplência, por sua vez, continua a subir em ritmo acelerado. O índice de empréstimos atrasados há mais de 90 dias subiu 1,9 p.p. anualmente e 0,8 p.p. trimestralmente, para 5,1% da carteira de crédito total.

A deterioração continua sendo causada pelas linhas à pessoa física (+0,8 p.p. trimestralmente) e às pequenas e médias empresas (+0,9 p.p trimestralmente).

O Bradesco, entretanto, diminuiu seu índice de cobertura (relação entre provisões e empréstimos efetivamente atrasados), de 204% para 182%. Com isso, a despesa de inadimplência foi de R$ 9,5 bilhões, crescimento anual de 97%, fazendo com que o spread médio após inadimplência ficasse em 4,2% a.a., queda anual de 2,5 pontos percentuais.

A situação dos calotes não indica sinais de melhora tão cedo. O índice de atrasos maiores que 15 dias, mas menores que 90 dias, considerado um indicador precedente para o +90d, subiu 0,5 p.p. trimestralmente, mas puxado, principalmente, pelas grandes empresas (+1 p.p.). Ao que tudo indica, portanto, a história da inadimplência ainda não acabou.

Bradesco tem lucro de R$ 4,3 bi no 1T23, queda de 37%

A receita de serviços se expandiu em 2% anualmente, puxada pelas receitas de cartão (+15% a/a). O resultado da operação de seguros, por sua vez, cresceu 12% anualmente, mas teve uma queda trimestral de 7%.

Houve algum ganho de eficiência nas despesas administrativas, com o índice de eficiência apresentando melhora de 0,6 p.p. trimestralmente.

A linha final reportada foi de R$ 4,3 bilhões, queda anual de 37%, com ROE de 10,6% (-7,4 p.p anualmente). Esse resultado, entretanto, foi ajudado por uma alíquota de imposto de renda mais baixa que o normal. Usando uma alíquota mais recorrente, estimamos que o resultado final teria sido de cerca de R$ 3,0 bilhões, com ROE de 8%. 

Por acreditarmos que o ganho de rentabilidade ainda vai demorar a acontecer e, por outro lado, enxergamos um valuation bem depreciado, mantemos a visão neutra para Bradesco (BBDC4).

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de Ações focada em Bancos e Instituições Financeiras, integra a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Mais de 5 anos de experiência em análise de empresas, com passagens pela Núcleo Capital e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, com certificações CFA, CNPI e CGA.