Ontem (4), após o fechamento do mercado, o Bradesco (BBDC4) divulgou seus números do 1T23, que vieram marginalmente acima da expectativa.
A surpresa positiva, entretanto, foi ajudada por um provisionamento menos conservador para inadimplência, que continua subindo, e por uma alíquota de imposto de renda menor.
A carteira de crédito expandida ficou em R$ 879 bilhões, contração de 1% contra o 4T22, e expansão de 5% na comparação anual. O desempenho tímido é uma estratégia intencional do banco, que tem adotado uma abordagem mais conservadora.
A margem financeira com clientes (receita de juros menos custo de captação) foi de R$ 17,0 bilhões, com spread médio de 9,9%, ganho anual de 0,2 ponto percentual. O ganho de rentabilidade se deve ao crescimento ainda mais forte de linhas de crédito mais caras, à reprecificação das taxas e ao menor custo de captação.
Já a margem com o mercado, que reflete o resultado da tesouraria, teve uma melhora; mas ainda assim foi negativa: um prejuízo de R$ 312 milhões.
A evolução está em linha com o discurso: o Bradesco vem trabalhando para renovar a carteira de títulos da tesouraria, que tem um prazo médio de 1,5 ano, com perspectiva de a margem com o mercado virar para o positivo a partir do 2o semestre. A ver.
Com isso, a margem financeira total foi de R$ 16,7 bilhões, queda trimestral de 0,1%; e anual, de 2,4%.
Inadimplência continua a subir
A inadimplência, por sua vez, continua a subir em ritmo acelerado. O índice de empréstimos atrasados há mais de 90 dias subiu 1,9 p.p. anualmente e 0,8 p.p. trimestralmente, para 5,1% da carteira de crédito total.
A deterioração continua sendo causada pelas linhas à pessoa física (+0,8 p.p. trimestralmente) e às pequenas e médias empresas (+0,9 p.p trimestralmente).
O Bradesco, entretanto, diminuiu seu índice de cobertura (relação entre provisões e empréstimos efetivamente atrasados), de 204% para 182%. Com isso, a despesa de inadimplência foi de R$ 9,5 bilhões, crescimento anual de 97%, fazendo com que o spread médio após inadimplência ficasse em 4,2% a.a., queda anual de 2,5 pontos percentuais.
A situação dos calotes não indica sinais de melhora tão cedo. O índice de atrasos maiores que 15 dias, mas menores que 90 dias, considerado um indicador precedente para o +90d, subiu 0,5 p.p. trimestralmente, mas puxado, principalmente, pelas grandes empresas (+1 p.p.). Ao que tudo indica, portanto, a história da inadimplência ainda não acabou.
Bradesco tem lucro de R$ 4,3 bi no 1T23, queda de 37%
A receita de serviços se expandiu em 2% anualmente, puxada pelas receitas de cartão (+15% a/a). O resultado da operação de seguros, por sua vez, cresceu 12% anualmente, mas teve uma queda trimestral de 7%.
Houve algum ganho de eficiência nas despesas administrativas, com o índice de eficiência apresentando melhora de 0,6 p.p. trimestralmente.
A linha final reportada foi de R$ 4,3 bilhões, queda anual de 37%, com ROE de 10,6% (-7,4 p.p anualmente). Esse resultado, entretanto, foi ajudado por uma alíquota de imposto de renda mais baixa que o normal. Usando uma alíquota mais recorrente, estimamos que o resultado final teria sido de cerca de R$ 3,0 bilhões, com ROE de 8%.
Por acreditarmos que o ganho de rentabilidade ainda vai demorar a acontecer e, por outro lado, enxergamos um valuation bem depreciado, mantemos a visão neutra para Bradesco (BBDC4).