Investimentos

CDBs pós-fixados dominam cardápio de renda fixa de semana pós-decisões de política monetária

No relatório desta semana, analisamos as decisões de política monetária nos EUA e no Brasil e o crescente risco fiscal brasileiro após decisões inesperadas nas contas públicas

Por Lais Costa

24 set 2024, 15:23 - atualizado em 24 set 2024, 15:23

CBD renda fixa

Imagem: iStock/Rmcarvalho

Nos EUA, o Federal Reserve anunciou o primeiro corte de juros desde março de 2020. O movimento era amplamente esperado pelos mercados, embora a magnitude do movimento tenha sido além do consenso de mercado. O Fed reduziu em 50 pontos-base os juros (ao invés de 25bps), levando o intervalo da taxa básica para 4,75-5,00% ao ano.

Durante a entrevista após a decisão, o presidente Jerome Powell foi habilidoso em evitar que um cenário extremamente brando (dovish) se instaurasse. Powell afirmou que a decisão era parte do movimento de recalibragem da política monetária, que passou a mirar primordialmente a manutenção do cenário de pouso suave (soft-landing). 

Powell ainda enfatizou que a autoridade monetária não vê indícios de recessão na atividade americana, mas não deixou uma prescrição futura (forward-guidance) clara em relação aos próximos passos do Fed, embora tenha referenciado o mapa de pontos (dot-plot) atualizado que indica mais dois cortes de 25 pontos-base neste ano e quatro reduções da mesma magnitude em 2025.

Ainda sobre as projeções econômicas atualizadas, houve ajuste na expectativa de crescimento do PIB de 2024, com a previsão sendo elevada para 2,0%. Já a taxa de desemprego foi revisada para 4,4%, mais uma vez refletindo um enfraquecimento no mercado de trabalho. O Fed espera que essa taxa de desemprego se estabilize até 2025, enquanto a inflação de preços deve desacelerar para 2,6% no próximo ano, com uma tendência de queda contínua até 2026.

Olhando para frente, contudo, vemos uma chance não trivial de um novo corte de 50 pontos-base, o que novamente surpreenderia o mercado. Isso porque, os próximos dados de mercado de trabalho ainda devem mostrar uma deterioração do mercado americano, incluindo um aumento da taxa de desemprego acima das expectativas.

Neste caso, o mercado caminharia para uma redução total de 75 pontos-base (e não 50) no Fed Funds neste ano, o que deveria ser bastante positivo para os ativos de risco global.

Brasil caminha em sentido contrário de olho na pressão inflacionária: risco não trivial

No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu um caminho contrário ao dos EUA e elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a.. No comunicado, os destaques foram as revisões para cima das projeções de inflação e de atividade

Finalmente, o BC reconheceu um hiato do produto positivo, isto é, que o nível de produção ou PIB efetivo do país está acima de seu potencial. O PIB potencial é o nível de produção que uma economia pode sustentar sem gerar pressões inflacionárias, considerando pleno emprego e uso eficiente dos recursos. Consequentemente, o hiato positivo significa que a economia está operando além de sua capacidade normal, o que tende a gerar inflação, devido ao aumento da demanda por bens e serviços além da capacidade produtiva.

Talvez mais importante, a revisão para cima da projeção de inflação sugere a necessidade de um ciclo de aperto de cerca de 200 pontos-base na Selic. Em outras palavras, deveríamos voltar para algo em torno de 12,75% ao ano de juros para trazer a inflação para o centro da meta da autarquia. Não por coincidência, a curva futura de mercado indica hoje uma Selic terminal próxima a esse nível.

Contraditoriamente, a escolha por iniciar este ciclo de aperto monetário com um ritmo de 25 pontos-base (e não 50) demonstrou que o BC optou pela cautela neste momento, assumindo o risco de ficar “atrás da curva”. Acreditamos que esse risco não é trivial

Portanto, devemos continuar vendo revisões para cima da inflação deste ano e para o horizonte relevante do BC. O câmbio depreciado imprime pressão sobre os itens comercializáveis da cesta do índice de inflação, ao mesmo tempo em que as atuais previsões climáticas para os últimos meses deste ano sugerem a necessidade de bandeira vermelha até o final do ano. No grupo de alimentos, a escalada do preço do boi será sentida no preço da carne, produto que tem um peso relevante no índice.

Preocupação crescente com o risco fiscal brasileiro

Acima de tudo isso, a dinâmica das contas públicas preocupa tanto no que diz respeito ao impulso à demanda quanto à credibilidade institucional

Na sexta-feira (20), o Ministério do Planejamento divulgou o 4º relatório bimestral de receitas e despesas que ampliou o bloqueio orçamentário em R$2,1 bilhões, totalizando R$13,3 bilhões. Também muito preocupante, houve a reversão completamente inesperada de R$3,8 bilhões no contingenciamento anunciado anteriormente. A medida ficou muito aquém das expectativas do mercado de cerca de R$7 bilhões. Semelhante ao relatório anterior, o detalhamento de onde virá o bloqueio não foi detalhado e só será publicado na próxima segunda-feira (30).

A combinação de prováveis revisões de inflação e a crescente preocupação fiscal deve levar o mercado a desafiar o ritmo atual de aumento da Selic nas próximas reuniões.

Cardápio da semana: 4 CDBs pós-fixados para aproveitar o cenário atual

Características do CDB pós-fixado do Banco Sofisa com liquidez diária
Classificação de risco da instituiçãoFitch: AA- (bra)
Público-alvoInvestidores em geral
Onde encontrarSofisa
Aplicação mínimaR$ 1,00
Aplicação máxima
LiquidaçãoD+0
Vencimento (prazo)27/09/2027 (1098 dias corridos)
Rentabilidade anual110,00% do CDI
Tributação15%
Pagamento de jurosNo vencimento
ResgateLiquidez diária
GarantiasFundo Garantidor de Créditos (FGC)
Horário limite de aplicação22h
Características do CDB pós-fixado do Banco BTG Pactual com liquidez diária
Classificação de risco da instituiçãoFitch: AAA(bra)
Público-alvoInvestidores em geral
Onde encontrarBTG Pactual
Aplicação mínimaR$ 50,00
Aplicação máxima
LiquidaçãoD+0
Vencimento (prazo)24/09/2025 (365 dias corridos)
Rentabilidade anual100,25%
Tributação17,50%
Pagamento de jurosNo vencimento
ResgateLiquidez diária
GarantiasFundo Garantidor de Créditos (FGC)
Horário limite de aplicação17h45
Características do CDB pós-fixado do Banco Daycoval com liquidez diária
Classificação de risco da instituiçãoFitch: AAA (bra)
Público-alvoInvestidores em geral
Onde encontrarDaycoval
Aplicação mínimaR$ 1 mil
Aplicação máxima
LiquidaçãoD+0
Vencimento (prazo)24/09/2027 (1095 dias corridos)
Rentabilidade anual110,00% do CDI
Tributação15%
Pagamento de jurosNo vencimento
ResgateLiquidez diária
GarantiasFundo Garantidor de Créditos (FGC)
Horário limite de aplicação18h
Características do CDB pós-fixado do Paraná Banco com liquidez diária
Classificação de risco da instituiçãoFitch: AA- (bra)
Público-alvoInvestidores em geral
Onde encontrarParaná Banco
Aplicação mínimaR$ 100,00
Aplicação máxima
LiquidaçãoD+0
Vencimento (prazo)15/09/2026 (721 dias corridos)
Rentabilidade anual101,00% do CDI
Tributação15%
Pagamento de jurosNo vencimento
ResgateLiquidez diária
GarantiasFundo Garantidor de Créditos (FGC)
Horário limite de aplicação17h

As taxas e vencimentos do títulos indicados nas tabelas acima são referentes ao dia 24 de setembro de 2024 e, portanto, são válidos apenas para o dia de hoje (24).

Para a sua reserva de emergência, aquele dinheiro que você pode precisar no curtíssimo prazo, recomendamos apenas o Tesouro Selic, disponível na plataforma do Tesouro Direto, ou fundos DI taxa zero

Sobre o autor

Lais Costa

Engenheira eletricista pela UTFPR com passagem pelo MIT e especialização em finanças pela Columbia University. Iniciou a carreira no mercado financeiro com foco no mercado de bonds nos EUA. Após uma experiência na Itaú Asset em NY, ela esteve por três anos no time de Global Macro Strategy da XP Inc também em NY, cobrindo mercados emergentes asiáticos e Brasil com foco em criação de ideias de investimento de renda fixa para clientes institucionais. Desde maio de 2021, Laís faz parte do time de análise da Empiricus. Por dois anos foi responsável pela alocação e seleção de fundos globais e hoje é a analista a frente das séries Super Renda Fixa e Os Melhores Fundos de Investimento.