A Enel Ceará (COCE5), anteriormente conhecida como Coelce, responsável pela distribuição de energia elétrica em todo o Estado do Ceará, com uma área de atuação de 149 mil quilômetros quadrados em 184 municípios, apresentou resultados alinhados às nossas expectativas. Destaca-se a melhoria na gestão das despesas, uma área que havia sido criticada no final do ano passado.
A receita líquida alcançou R$ 1,9 bilhões, uma redução de 13% em relação ao primeiro trimestre de 2023. No entanto, houve um aumento significativo de R$ 180 milhões na categoria de Fornecimento de Energia Elétrica, impulsionado por um consumo mais elevado, especialmente na classe residencial devido ao aumento das temperaturas. Além disso, houve um crescimento nos recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e na receita pelo uso da rede elétrica de consumidores livres e revenda, que ajudaram a compensar a queda na receita operacional líquida.
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Custos não controláveis diminuíram 18%
Neste trimestre, os custos não controláveis diminuíram 18% em comparação ao quarto trimestre de 2022, principalmente devido ao término do contrato com a Companhia Geral Térmica Fortaleza (CGTF), cujo custo era superior à média dos outros contratos. Este contrato, que durou 20 anos, encerrou em dezembro de 2023 após a venda da empresa.
Consequentemente, o EBITDA da Enel Ceará no primeiro trimestre de 2024 atingiu R$ 522,1 milhões, um aumento de 21,1% ou R$ 90,9 milhões em relação ao ano anterior. A margem EBITDA foi de 27,0%, um incremento de 7,65 pontos percentuais em comparação ao mesmo período do ano anterior. Excluindo a receita de construção, a margem EBITDA ajustada foi de 31,5%, representando um aumento de 7,47 pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre de 2023.
Fonte: Enel.
O desempenho financeiro foi afetado por uma redução de R$ 10,3 milhões na receita de aplicações financeiras e por um aumento de R$ 3,6 milhões nas despesas líquidas referentes à atualização de ativos e passivos financeiros setoriais.
Quanto aos índices de qualidade, houve uma melhora no FEC (Frequência de Interrupções), mas uma leve piora no DEC (Duração das Interrupções). Esses indicadores medem a qualidade do fornecimento de energia da rede de distribuição, onde valores menores representam melhor desempenho.
O DEC, especificamente, ultrapassou ligeiramente o limite regulatório de 9,84, um aumento atribuído à maior severidade dos eventos climáticos no início do ano. Em 2024, foram registradas 8 emergências (incluindo 1 crise) comparadas a 5 no mesmo período de 2023. Além disso, houve 22 dias de contingências em 2024, em comparação com 6 dias em 2023.
Fonte: Enel.
O aumento no DEC é preocupante, mas deve-se a eventos climáticos excepcionais, como o excesso de chuvas. Espera-se que esse indicador retorne aos níveis normais nos próximos trimestres, seguindo a tendência de normalização desde 2021.
No entanto, o índice de perdas apresentou um leve aumento (+0,12 pontos percentuais), provavelmente devido ao maior volume de energia distribuída causado pelas altas temperaturas, resultando em maiores perdas técnicas e não técnicas.
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Enel Ceará atingiu R$ 127 milhões em lucro
O lucro atingiu R$ 127 milhões, uma alta de 60% em relação ao mesmo período do ano anterior, com uma margem líquida de 6,57%. Com resultados alinhados às expectativas, vemos que a Enel Ceará está sendo negociada a níveis de avaliação de mercado bastante atrativos.
Continuamos a monitorar um aspecto crucial da nossa análise: a possível venda da participação Conforme destacado em nosso relatório de novembro do ano passado ou de março deste ano, as notícias recentes não foram particularmente promissoras, visto que a Enel pausou temporariamente os planos para a alienação da Coelce.
A Enel possui 74% da distribuidora de energia elétrica do Ceará e anunciou a intenção de vender essa participação em novembro do ano passado. Avaliada em cerca de R$ 3 bilhões na B3, a distribuidora também conta com a Eletrobras entre seus principais acionistas.
Fonte: Enel.
Desde a segunda metade de 2023, as negociações, que estavam avançadas, enfrentaram contratempos devido a divergências sobre o método de pagamento do ativo. Além disso, a licença operacional da distribuidora expira em 2028, aguardando aprovação regulatória para renovação.
A CPFL e a Equatorial demonstraram interesse no ativo, mas o acordo não avançou devido à condição de que parte do pagamento fosse realizada após a renovação da concessão, gerando incertezas sobre a conclusão do negócio.
Nos últimos meses, eventos climáticos aumentaram temporariamente o DEC, gerando ruído político em torno da empresa. Alguns veículos de comunicação mais ansiosos especularam sobre uma possível quebra de contrato ou até mesmo reestatização, mas não acreditamos nesses cenários. A CPI envolvendo a empresa já estava em andamento antes dos recentes eventos, e apesar das declarações do ministro de Minas e Energia, não vemos risco real de caducidade.
A caducidade é um processo complexo e não pode ser iniciada por simples pedidos de prefeitos, ministros ou CPIs. O trâmite envolve: i) fiscalização e apontamento de inconsistências pela Aneel; ii) direito de defesa da Enel; iii) se a defesa não atender, a Aneel recomenda a caducidade ao ministério. Nunca houve uma caducidade no Brasil, seja no setor de energia ou infraestrutura.
Um pedido de caducidade envolvendo a empresa de energia do Amazonas está pendente desde novembro sem avanços. Além disso, 20 empresas de distribuição no Brasil têm contratos vencendo nos próximos cinco anos, e iniciar um processo de caducidade agora seria contraproducente. Atualmente, todas as distribuidoras da Enel cumprem os indicadores de qualidade e financeiros necessários, que devem ser descumpridos por três anos consecutivos para justificar caducidade.
O DEC no primeiro trimestre superou o limite regulatório devido a eventos climáticos severos, mas apenas nesse período específico. O indicador anual ainda tem espaço para correção, e a trajetória de melhoria desde dezembro do ano passado deve continuar. A trajetória positiva observada desde 2021 permanece, sem justificativa para rompimento de contrato, já que a empresa entrega serviços com a qualidade devida.
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R$ 4,8 bilhões em investimentos nos próximos três anos
A Enel tem previsto investimentos substanciais para a região, totalizando R$ 4,8 bilhões nos próximos três anos, acima da média dos últimos anos. No passado, a empresa atingiu recorde de investimentos no Ceará.
Espera-se que a questão da renovação seja resolvida nos próximos meses, permitindo a retomada das negociações. A Coelce atende a 4,2 milhões de consumidores em 184 municípios, numa área de expansão significativa. Assim, a questão precisa ser resolvida inevitavelmente.
Esta venda, se concretizada, será uma das transações mais significativas do ano. Portanto, apesar do panorama incerto, mantemos nossa convicção na validade desta tese de investimento e na expectativa de uma conclusão satisfatória da negociação. Com base nisso, reiteramos nossa recomendação de compra para COCE5.